domingo, 22 de fevereiro de 2015

Crônicas do Dia - Festa da Carne - Frei Betto

O DIA
Rio - Carnaval significa ‘festa da carne’. Outrora, uma festa religiosa. Às vésperas da Quaresma, diante da perspectiva de passar 40 dias em abstinência de carne, os primeiros cristãos fartavam-se de assados e frituras entre o domingo e a Terça-Feira Gorda. Na quarta, revestiam-se de cinzas, evocando que do pó viemos e para o pó voltaremos, e ingressavam no período em que a Igreja celebra a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.


A modernidade secularizou a cultura e, de certo modo, esvaziou o significado das festas religiosas, hoje apreendido apenas por cristãos vinculados à comunidade eclesial. Com certeza ganhou a autonomia da razão e perdeu a consistência da subjetividade. No Natal, trocou-se São Nicolau, que no século 5 distribuiu sua herança aos pobres, pela figura consumista de Papai Noel. O Carnaval transformou-se em festa da carne em outro sentido. E fez-se da Semana Santa um período extra de férias.

Enquanto todos se perguntam pelo sentido da vida, o neoliberalismo procura nos incutir que viver é consumir e que “fora do mercado não há salvação”. Derrubado o Muro de Berlim e constatado o fracasso crônico do neoliberalismo para implantar justiça social, globaliza-se a emergência espiritual. 
A Quarta-Feira de Cinzas instiga-nos a refletir sobre esta experiência inelutável: a morte. O processo massificador da modernidade tende a tornar descartáveis também os ritos de passagem que se sobrepõem às esferas religiosas, como o nascimento, o casamento e a morte. Outrora, morria-se em casa e, contra a vontade do poeta, havia choro, vela e fita amarela. 
A evocação da morte incomoda porque remete ao sentido da vida. Só assume morrer quem imprime à vida um sentido altruísta, que transcende a sua existência individual. Fora disso, a morte é brutal sonegação da vida. O Carnaval é celebração da vida quando festejado como comunhão de alegria. É o momento de ruptura das formalidades, de inversão de papéis sociais e expressão da utopia de uma sociedade em que estarão erradicadas todas as barreiras sociais, raciais e étnicas.

O Carnaval é também propício ao aprofundamento da fé, quando se aproveita o Tríduo de Momo para um encontro mais íntimo com Deus, longe das batucadas, dos bailes e dos desfiles alegóricos. Deixar a alma desfilar por suas profundezas, ao ritmo do silêncio, conduz à apoteose.

Frei Betto é autor do romance ‘Alucinado Som de Tuba’ (Ática)

2 comentários:

  1. Eu concordo com o escritor e acho que a festa da carne seja o carnaval que traz bebidas,mortes e desgraça para muitos. Eu acho que se festejada da maneira certa com desfiles, diversão e risadas poderia ser mais aproveitada. Há algumas pessoas que preferem ir a igreja e passar um tempo com sua família assim como eu e acho que seja um ótimo jeito de se passar o carnaval.

    Theofilo Roberto B. Nascimento- 701

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  2. O carnaval deveria ser uma semana para se passar um tempo com a família, brincar com os amigos, ficar livre de tudo, mas pessoas estão sendo presas e mortas, pois ficaram livres demais e fizeram coisas que não eram para ter sido feitas.
    O carnaval podia ser uma coisa mais calma. Não deveriam tocar músicas tão altas. Poderia ser só um baile ou uma semana de festa, diversão, risadas, viajar e muitas coisas legais. Seria uma semana de alegria.
    Por Jean Paul C Pierre - 701

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