sábado, 21 de fevereiro de 2015

Te Contei, não ? - Polícia investiga venda de água por milícias

RIO - O poço artesiano da dona de casa Geneci Neves Leira, de 65 anos, secou. A explicação que lhe vem à cabeça por ter ficado sem água é uma só: "São os carros-pipas". Com seis metros de profundidade, o poço abastecia o lar de Geneci e foi cavado pelo marido, há 40 anos. Nunca havia deixado o casal na mão. Afinal, a região da Ilha de Guaratiba tem um grande manancial, o Aquífero Guaratiba. Mas, nesses tempos de crise hídrica, sua existência chamou a atenção dos "homens de má-fé", como costumam dizer os moradores dali. Os tais homens, conta Geneci, fizeram perfurações clandestinas profundas, de 70 metros ou mais. O objetivo era claro: comercializar a água. A Polícia Civil apura indícios de que milicianos vêm explorando a venda ilegal na Zona Oeste. Enquanto a investigação não termina, Dona Geneci não consegue conter a emoção ao falar sobre o assunto. O poço que hoje está seco a faz lembrar do marido, falecido há 15 anos.


O vaivém dos carros-pipa, cujos pneus chegam a fazer sulcos no asfalto da Estrada do Morgado, é constante, segundo moradores. Alguns deles evitam se identificar, pois dizem que homens armados circulam pelo local para intimidá-los. Cerca de 50 veículos, com capacidade para transportar 20 mil litros, cada um, passam diariamente pela via. Uma estimativa do GLOBO aponta que esse comércio clandestino movimenta pelo menos R$ 40 mil por dia - levando-se em conta que um tanque cheio de água vale R$ 800. Durante a seca de janeiro, cobrava-se até R$ 1.600 pelo abastecimento de casas no Recreio e na Barra. Segundo investigadores, milicianos também estariam por trás da exploração de poços artesianos em Vargem Grande.

De acordo com a Polícia Civil, agentes das delegacias de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) e de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) estão visitando locais que têm poços artesianos na região.

- Nesses tempos de crise hídrica, quem tem poder, tem água. Já estivemos em pontos de abastecimento clandestinos na Zona Oeste e fizemos prisões. Mas milícias exploram esses locais por meio de terceiros, seus integrantes nunca estão fazendo o trabalho pesado - disse o delegado Fernando Reis, titular da DPMA.

Na Estrada do Morgado, há dois poços artesianos que pertencem à empresa Rápido São Jorge Transporte de Água e Saneamento LTDA. É a mesma que, na última quinta-feira, teve dois reservatórios lacrados na Taquara, durante uma operação conjunta da DPMA, do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), do Comando de Polícia do Ambiente e da Coordenadoria de Combate aos Crimes Ambientais (Cicca), ligada à Secretaria estadual do Ambiente (SEA). Os depósitos abasteciam uma cisterna com capacidade para cem mil litros.

No mesmo dia, um fiscal da Cicca e dois PMs estiveram no Caminho da Toca Grande, no fim da Estrada do Morgado, em Ilha de Guaratiba, e encontraram um poço artesiano com bombas de captação, também de propriedade da Rápido São Jorge. A operação começou às 10h, e agentes não encontraram carros-pipas no local. Segundo vizinhos, veículos que costumam pegar água ali ''desapareceram'' uma hora antes da chegada da equipe.

Abordado pelos investigadores, José Paulo da Costa, que alugou o terreno à Rápido São Jorge, afirmou que há três anos ninguém utiliza o poço artesiano. Ele alegou que o proprietário da empresa aguarda uma autorização do Inea. No entanto, a área tinha marcas recentes de pneus de caminhões e uma placa com um aviso, colocada junto a reservatórios: ''Por favor, evite transbordar água''.

De acordo com um levantamento feito pelo GLOBO na Junta Comercial do Rio, a Rápido São Jorge pertence a Jorge da Silva Marques, que foi procurado pela equipe de reportagem. A pessoa que atendeu a ligação se identificou como Jorge, mas negou ser o dono da empresa:

- É outro Jorge, meu patrão. Ele está viajando. Vou desligar, porque tenho problema de pressão.

O coordenador da Cicca, coronel José Maurício Padrone, calcula que 85% dos poços artesianos do estado não têm autorização para funcionar. Com a intensificação das blitzes, quem explora a venda ilegal de água tenta evitar o surgimento de denúncias. Depois que alguns moradores da Ilha de Guaratiba ameaçaram registrar queixas numa delegacia, uma caixa d'água para uso público foi instalada perto da casa de Dona Geneci.

- Eles fizeram isso para calar nossa boca, mas nós queremos é a água dos nossos poços de volta - diz ela.



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/policia-investiga-venda-de-agua-por-milicias-na-zona-oeste-15279251#ixzz3SQWWeYV7

2 comentários:

  1. O homem sempre foi e é assim, quem tem mais é o melhor, eu que tenho mais eu posso, o que importa é cada vez mais.... Resumidamente status, dinheiro e poder. Chegado o ano de 2015 e no um pouco no fim do ano 2014 essa cobiça deixou de ser a mais importante que a água. Hoje quem tem água em suas caixas de água ou em poços, é como se tivesse milhões de reais em suas mãos, a falta dela está cada vez mais comum no nosso Brasil, sendo não somente só em casas, que infelizmente como esse país se divide, em classes inferiores, baixa que as outras como média e alta, mas ela está em todas as classes sociais. Como benefício a uma pessoa de “condições financeiras”, poderá ser pago um caminhão-pipa para reabastecer suas casas, mas pagando ao preço absurdo que muitos reclamam.
    Como o acontecimento ocorrido com a senhora Geneci Neves, não é anormal para outras que de fato passaram pelo mesmo problema. Antes se roubava e comercializava bens materiais valiosos, agora a água entrou dentro dessa lista de roubos e comércios ilegais. Muitos caminhões-pipas vendem as suas águas por preços muito caros, mas isso não se deve a pouca água que nos resta nesses meses, mas sim que muitas vezes essa água não é legalmente fiscalizada, ou eles roubam ou pegam de rios para comercializar.
    Agora esbanjar água é a coisa mais horrível do mundo para a sociedade brasileira, claro quem se preocupa, mas isso só foi visto por muitos quando sentiram na pele o que é ficar dias sem água, e sem saber se no dia do amanhã haverá de novo a mais pura e transparente água para suas casas. Muitas famílias sentem medo por seus filhos não terem a mesma água de hoje no futuro, e isso deixa a preocupação no ar. É exatamente assim, “quem tem o poder, tem água” como dito no texto. Ninguém pode prever o futuro, mas presumir e ter ideia do que poderá acontecer, isso sempre temos, os nossos atos de hoje são respostas do amanhã, nós estamos pagando o preço em que nenhum de nós se preocupou nas horas em que muitos falavam e não acreditavam, como dito na televisão, “Esbanjar ÁGUA não, só a sua inteligência”.
    Laura Lyssa Carvalho de Sousa- 801

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  2. Mais uma obra do homem, a falta d'água. Antigamente o assunto da escassez de água no mundo era praticamente ignorado. Para muitos, a falta de água iria demorar muito tempo até acontecer, porém nos dias de hoje, podemos perceber que não é bem assim.
    A água potável de nosso planeta não está mais em exuberância como antigamente, ela está acabando, hoje em dia já existem provas disso, como o texto retrata, furtos, venda ilegal, entre outros.
    A principal culpa disso, não é somente a do consumidor doméstico, a indústria e a agropecuária utilizam uma quantidade incomparável, mas economizar um único litro já é uma diferença. Hoje em dia é muito comum que as pessoas não economizem pois acham que não fará diferença já que os outro não fazem o mesmo, porém se todo mundo pensar assim, nada irá acontecer, nada irá mudar.
    Se as pessoas começassem a mudar e cada um contribuir um pouco, talvez esta situação poderia melhorar e toda preocupação e essa crise passar.

    Thales Borges - 802

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