‘Mais perdido que cego em tiroteio’. É uma das frases antológicas do Stanislaw Ponte Preta, nascido Sérgio Porto, certamente o mais copacabanense cronista de todos os tempos. E desse jeito fiquei perdido quando um amigo disse que iria assistir à minha palestra sobre Sérgio Porto. “Palestra? Que história é essa?” Isso se deu às 14h da última quinta-feira. “É hoje, às 16h, na Biblioteca Nacional”, informou. Foi o tempo de pegar um táxi. Na Biblioteca fiquei sabendo que há duas semanas tinha sido convidado e aceito, devia estar de porre. Graças à minha dupla amnésia, etária e etílica, tinha deletado tudo na memória. Encarei, em pânico, um auditório lotado. Não tinha preparado nada. Trabalhei em 1955 com Sérgio no Banco do Brasil; pouco tempo depois ele se demitiu.
Mais tarde fui convidado pela Editora do Autor para ilustrar os livros do Stanislaw, com aqueles incríveis personagens criados por ele: Tia Zulmira e outros. Seu grande sucesso foi o Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País), em que esculhamba a ditadura militar. Uma vez fui pegar os originais de um livro para ilustrar no seu apartamento, na Leopoldo Miguez. “Rapaz”, disse, “só levanto os olhos da máquina de escrever para pingar colírio.” Tinha que falar sobre Sérgio. Hoje ele teria 88 anos, nove a mais do que eu. Hoje não, mas na época nem poderia sonhar em conviver com a turma do Vilariño — Vinicius, Maneco Muller, Fernando Sabino e outros craques — todos da mesma faixa etária. Para eles eu era um guri.
Quase nada a declarar durante duas horas de palestra. Mas Deus protege também os ateus: escapei do desastre quando vi Lan, que foi grande amigo dele, e Ângela Porto, sua filha, na primeira fila. Pedi para subirem ao palco e fizeram um sucesso estrondoso. Lan com histórias da boemia. Ângela contando como Sérgio era em casa; todos os dias levava as três irmãs para tomar banho de mar. Ainda por cima embolsei um cachê. Dei uma de Primo Altamirando, nefando personagem de Stanislaw Ponte Preta.
Jornal O Dia
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