sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Crônica do Dia - Os porquinhos vão à praia - Ruth de Aquino



 RUTH DE AQUINO 

Era lixo só. No domingo de Natal, ninguém se atrevia a ir à praia em Ipanema e Leblon, os bairros da zelite carioca. É o metro quadrado mais caro do Rio de Janeiro, mas o que sobra em dinheiro falta em educação. Todo mundo culpou a Comlurb, a companhia municipal de limpeza. Que direito tem a prefeitura de expor nossa falta de respeito com o espaço público?

É verdade que houve uma falha operacional. Os garis do sábado à noite teriam de dar mais duro para compensar a redução da equipe da Comlurb no domingo. A praia mais sofisticada da cidade, que vai do canto do Arpoador até o fim do Leblon, amanheceu com 25 toneladas de lixo espalhadas, um espetáculo nojento. Cocos são o maior detrito: 20 mil por dia. Mas tem muita embalagem de biscoito e sorvete. As criancinhas imitam os pais que deixam na areia latas de cerveja, copos de mate, garrafinhas de água, espetos de queijo coalho, canudos de plástico. É o porco pai, a porca mãe e a prole de porquinhos.

Adorei o atraso da Comlurb por seu papel didático. Quem andou no calçadão dominical e olhou aquela imundície pode ter pensado, caso tenha consciência: e se cada um cuidasse de seu próprio lixo como pessoas civilizadas? O Rio está cheio de farofeiro. De fora e de dentro. De todas as classes sociais. Gente que ainda não aprendeu que pode carregar seu próprio saquinho de lixo na praia. A areia que sujamos hoje será ocupada amanhã por nós mesmos, nossas crianças ou os bebês dos outros. Falo do Rio, mas o alerta serve para o Brasil inteiro neste verão. Temos um litoral paradisíaco. Por que maltratar as praias?

Na Cidade Maravilhosa, o terceiro maior orçamento da prefeitura é o da Comlurb. Só perde para Educação e Saúde. Por ano, a prefeitura gasta R$ 1 bilhão coletando lixo dos prédios e das ruas. “Para recolher a lambança que as pessoas fazem nas ruas, parques, praias, são gastos R$ 550 milhões”, me disse o prefeito Eduardo Paes. “Daria para construir 100 escolas num ano, ou 150 creches, ou 200 clínicas da família.”

No ano passado, Paes criou o “lixômetro”, uma medição do lixo público nos bairros. Quem reduzisse mais ao longo do ano ganharia benfeitorias. O campeão foi a Cidade de Deus, comunidade carente pacificada. Menos lixo no espaço público significa economia para o contribuinte e trabalho menos penoso para os garis. A multa no Rio, hoje, para quem joga lixo na rua é de R$ 146, mas jamais alguém foi multado. Os guardas municipais raramente abordam os sujismundos e preferem tentar educar, explicar que não é legal. As cestas de lixo nunca serão suficientes para os porquinhos. Porque o que conta é educação e cultura

Os porquinhos adoram um argumento: não haveria cestas de lixo suficientes. Na orla, as 1.400 caçambas não dariam para o lixo do verão. A partir de fevereiro, as caçambas dobrarão de volume, de 120 litros para 240 litros. E nunca serão suficientes. Porque o que conta é educação e cultura. Ou você se sente incapaz de jogar qualquer coisa no chão e anda com o papel melado de bala até encontrar uma lixeira, ou você joga mesmo, sem culpa nem perdão. O outro argumento é igual ao dos políticos corruptos: todo mundo rouba, por que não eu? Pois é, todo mundo suja, a areia já está coalhada de palitinhos, plásticos e cocos, que diferença eu vou fazer? Toda a diferença do mundo. O valor de cada um ninguém tira.

Em alta temporada, 200 garis recolhem, de 56 quilômetros de praias no Rio, 70 toneladas de lixo aos sábados e 120 toneladas de lixo aos domingos. A praia com mais lixo é a da Barra da Tijuca. Em seguida, Copacabana. Tenham santa paciência. Quando vejo aquela família que leva da praia suas barracas, cadeirinhas e bolsas, mas deixa na areia um rastro de lixo, dá vontade de perguntar: na sua casa também é assim?

A tímida campanha do “Rio que eu amo eu cuido” mostra que muito mais conscientização será necessária. A China produziu um gigantesco rolo compressor antes das Olimpíadas: em outdoors nas ruas, programas de rádio e televisão, o governo pedia à população que não cuspisse e escarrasse na rua. Era uma forma de tentar mostrar ao mundo que o povo não era tão mal-educado.

Experimente responder a estas perguntas. Jogo lixo na rua? Já deixei lixo na praia? De carro, furo o sinal vermelho? Acelero no sinal amarelo para assustar o pedestre? Buzino sem parar e xingo no trânsito? Dirijo depois de beber? Deixo meu cachorro fazer cocô na rua sem recolher? Já fiz xixi publicamente? Corro de bicicleta na calçada, pondo em risco velhinhos e crianças? Abro a mala do carro estacionado para fazer ecoar meu som predileto?

Que tal ser um cidadão melhor e menos porquinho em 2012?

Revista Época

2 comentários:

  1. Jogar lixo na praia, uma coisa tão comum quanto frequentar esse mesmo local, mas bem como diz a crônica jogamos lixo no lugar que nos mesmos iremos sentar pisar e se deitar e toda essa quantidade de lixo jogada e uma coisa apavorante como em apenas um dia as pessoas conseguem fazer aquilo?!
    25 toneladas de lixo é realmente espantoso, mas é também praticamente o que acontece nas ruas milhares de papeizinhos jogados no chão mesmo tendo varias lixeiras espalhadas a disposição de todos grande de parte das pessoas insistem em jogar o lixo no chão, e na praia que também tem muitos latões pras pessoas jogarem todo o seu lixo, e como o texto fala o maior detrito de todos os cocos que chegam a ser 20 mil!
    Uma das coisas que entendi do texto foi que os pais jogando lixo na areia da praia influenciam as crianças fazerem também, e isso faz parte da educação como o racismo e o preconceito que são geralmente influenciados pelos pais. E com as crianças aprendendo a jogar lixo na praia só irá fazer com que aconteça o mesmo nas praias das gerações seguintes.
    A prefeitura gasta 1 bilhão de reais por ano para limpar os prédios e as ruas, eu entendo que para a coleta de lixo seja preciso um gasto grande, mas 1 bilhão é muito só por preguiça ou falta de educação, e de acordo com o prefeito com um pouco mais da metade desse dinheiro é possível 100 escolas em um ano, ou 150 creches ou 200 clínicas da família.
    E quem joga lixo fora das lixeiras deveria tomar multas de 146 reais, mas como diz o texto dificilmente essas pessoas são multadas, pois os guardas preferem ensinar do que multar, mas as pessoas só irão parar quando pesar no próprio bolso, por isso nunca se dão ao trabalho de caminhar até encontrar uma lixeira ou mesmo levar uma sacola plástica para praia e guardar seu próprio lixo para depois jogarem fora.
    Além disso, quem joga lixo nas praias ainda tem desculpas para o que fazem como: “não há cestas de lixo suficientes” e como o texto fala as cestas de lixo nunca seriam suficientes para as pessoas porque isso depende de educação e outro argumento das pessoas é que: “se todo mundo joga que diferença eu farei” é obvio que fará toda a diferença pois se todos pensam assim todos vão sujar e se ninguém pensasse assim ninguém iria sujar e se pensar nessas coisas que parecem simples na hora de fazer na verdade vão se acumulando e vira uma coisa gigantesca, então as pessoas deveriam pensar melhor no que fazem no presente para evitarem problemas futuros.

    Pietro-802-Ativo

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  2. Penso que as pessoas deveriam cuidar mais das suas cidades, ruas, praças, floresta e principalmente das praias.
    Em feriados, fins de semanas e férias, são os períodos em que as praias ficam mais sujas.
    A maioria das pessoas que a freqüentam acabam deixando lixo nela, sem usar os locais corretos para depositar os mesmos.
    Com isso, a praia fica imunda, causando uma péssima impressão para os visitantes e o pior, agredindo o nosso meio ambiente.
    Esse comportamento de jogar lixo em local errado vem de todos os tipos de classes sociais. Não há conscientização, acham que existe alguém para limpar a sujeira que fazem.
    No Natal de 2011, a praia ficou cercada de lixo. Até existe uma multa para quem comete esse ato, mas ninguém foi multado por isso.
    É aplicado as campanhas de conscientização sobre a limpeza da praia. Essa questão não envolve somente o Brasil e sim o mundo todo.
    Isso é considerado um assunto sério, pois envolve a saúde das pessoas. É importante o papel da educação, para que esse problema seja minimizado aos poucos.
    As crianças de hoje serão o futuro de nossas gerações e acredito que com o tempo isso melhore, onde teremos praias mais belas e qualidade de vida garantida.


    Aluno: Luís Henrique Stadykoski da Silva
    Turma: 801

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