Ciganos, vedetes, transformistas, a corte portuguesa, compositores, dançarinas de gafieira, malandros... A Praça Tiradentes vira musical no Rio de Janeiro com a genuína dramaturgia brasileira
O autor, ator e também produtor, Gustavo Gasparani comemora 30 anos de carreira com a estreia, no Teatro Carlos Gomes, de mais um musical, As Mimosas da Praça Tiradentes, espécie de sequência daquilo que ele e o também diretor Eduardo Rieche perseguem em suas pesquisas e buscas: uma dramaturgia genuinamente brasileira adaptada para musicais.
Gasparani emplacou três sucessos nos últimos cinco anos: Otelo da Mangueira, Opereta Carioca e Oui, Oui... A França é Aqui!! A Revista do Ano – esta última, também em parceria com Rieche, foi vencedora do prêmio Shell 2009 de melhor texto, além de ser indicada para 14 prêmios de teatro. E Rieche também escreveu É Samba na veia... É Candeia... que faz parte do livro Em Busca de Um Teatro Musical Carioca, recém-lançado pelos dois, reunindo os textos destes musicais.
Em As Mimosas da Praça Tiradentes, Gustavo e Rieche (mais o diretor Sérgio Modena) ¬¬mostram o apogeu e a decadência da praça, trazendo a característica marcante em suas obras: colocar o Rio como cenário e sua cultura como fonte de inspiração. O enredo conta como a Praça Tiradentes se firmou, por mais de um século, como o grande centro de efervescência cultural da cidade, entremeado com as histórias pessoais de seus personagens.
No elenco, Cláudio Tovar, Marya Bravo, o próprio Gustavo Gasparani, Milton Filho, Jonas Hammar e César Augusto dão vida a Lourival, o professor; Divina Rúbia, a internacional; Vânia, a dançarina; Xuxu, o camareiro; Miguelito, o cigano; e Tatá, o cabeleireiro, e apresentam uma comédia musical capaz, ao mesmo tempo, de entreter, divertir e fazer com que o público saia do espetáculo conhecendo um pouco mais da história da cidade.
O ator Milton Filho fala mais sobre o espetáculo e de seu personagem, o camareiro Xuxu:
Milton Filho é um dos destaques do musical As Mimosas da Praça Tiradentes
Você conhecia a história da Praça Tiradentes?
Não. Sempre frequentei os teatro Carlos Gomes e o João Caetano sem conhecer suas histórias, mas durante o processo de leituras e ensaios, fomos todos aprendendo um pouco mais. Acho que histórias como o porquê de terem rebatizado a Praça da Constituição para Tiradentes devia ser dado na escola, mas para quem não sabe, verá em Mimosas.
E o seu personagem. A caracterização dá muito trabalho?
É a Xuxu, “ele” é o camareiro do cabaré, mas sonha em entrar para o show das Mimosas. E sim, dá um baita trabalho. Começa com a pesquisa de fazer um homossexual do subúrbio de Nilópolis até chegar a uma Drag Queen da Praça Tiradentes. E é na maquiagem que chego a ficar quase duas horas, mas está sendo de uma riqueza enorme para todos nós.
Podemos afirmar que o enredo do musical é uma novidade, já que se trata de uma história tipicamente brasileira?
Sim, é um texto inédito com um elenco de seis atores-cantores, mais seis bailarinos-cantores que, com toda a certeza, levará o público a viajar na história da Praça Tiradentes de uma forma leve e descontraída, porque “...de triste já basta a vida” - uma das falas de Xuxu.
Qual a importância da Xuxu nesse rico cenário da Praça Tiradentes, ou seja, o que o seu personagem representa, historicamente?
A Xuxu representa a importância do negro para a praça com sua cultura que, até hoje, continua lá, começando pelas Irmandades Negras ao carnaval.
FOI NA PRAÇA TIRADENTES...
...que surgiu a música popular brasileira através dos encontros dos maiores poetas e compositores da época. Reduto de músicos, romancistas e dramaturgos, enfim, ponto de encontro de intelectuais e artistas. Foi também a praça dos primeiros teatros - ali nasceu o teatro brasileiro com a montagem de Juiz de Paz na Roça, de Martins Pena – dos cabarés, cinemas, ga eiras, das populares revistas e, também, do meretrício e dos homossexuais. Da corte imperial à cultura popular, dos bailes da corte ao baile de carnaval dos enxutos, tudo passou por esta região da cidade e se espalhou pelo Brasil. Gente como Chiquinha Gonzaga, Bidu Sayão, Machado de Assis, D. Pedro I, José Bonifácio, Tiradentes, Oscarito, Grande Otelo, João Caetano, Mário Lago, Custódio Mesquita, Ari Barroso, entre tantos outros, zeram história nesta praça e a transformaram em importante cenário de suas vidas.
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