sábado, 21 de fevereiro de 2015

Crônica do Dia - Pinga ni mim - Carla Rocha

Pinga ni mim’

A culpa não é de São Pedro, não é de São Paulo (trocadilho, por favor). A culpa é nossa, que há muito já deveríamos estar preocupados com a estiagem prolongada que tem afetado o nível de água dos quatro reservatórios que abastecem o Rio. Ainda no ano passado, ficamos sabendo que o volume de todo o complexo do Paraíba do Sul havia caído drasticamente a índices nunca atingidos em décadas.


E fizemos o que com a informação? Nada. Nem a dança da chuva. Sentamos no sofá e pedimos batata frita.

Adoro piadas, acho que elas ajudam a fazer a vida mais leve. Mas, nesse caso, corremos o risco de rir muito agora e chorar mais ainda depois. Parêntesis: claro que me diverti lendo nas redes sociais que a tempestade prevista para quinta-feira não aconteceu por motivos de falta d'água. Ou por falta de infraestrutura do estado para comportar um evento de tal magnitude. Mas a chacota também me lembrou que há um desafio pela frente. E é muito sério.

Nenhuma voz — exceto a de técnicos — se levantou quando foi noticiado que o volume médio dos reservatórios havia chegado a 6%. E, um mês depois, despencado para 3%, algo quase inimaginável numa região pródiga em recursos naturais e em chuva. A cantilena era a mesma: risco zero de falta de água, repetiam as autoridades, entediadas com as perguntas sobre um “abacaxi” desacreditado na terra das chuvas de verão. Mas foi chegarmos ao volume morto e começar o barata-voa. Até em racionamento já se fala, embora oficialmente, lógico, a hipótese seja negada. Até o dia em que acordaremos não só com o racionamento confirmado, como também com uma escala dos horários em que teremos água nas torneiras.

Só vejo duas saídas. Podemos começar a fazer a marchinha de carnaval do ano que vem, que inevitavelmente será um remix do “de dia falta água, de noite falta luz", de Victor Simon e Fernando Martins, sucesso dos anos 50. Ou pensar, de imediato, nas providências que já estão mais do que atrasadas. Como incorrigível carioca, sugiro conciliar as agendas. Façamos a marchinha da folia e a marcha em busca de soluções para a crise hídrica. Sim, ela existe e é muito concreta em sua liquidez e caudalosa no seu alcance.

À parte questões técnicas, de obras e manobras no sistema, e políticas, como o acordo para a transposição do Paraíba do Sul, temos uma missão fundamental: reaprender a usar a água. Está provado que o fato de termos a maior reserva de água do mundo não nos deixa imune a secas. Está provado que, mesmo longe do sertão e de sua realidade, podemos ter os nossos próprios problemas de escassez. Não podemos nos dar ao luxo da hipocrisia. Não basta falar genericamente para a população economizar e deixar nas mãos de ONGs ações educativas bissextas. É dever do estado agir, com campanhas massivas e, de preferência, dando exemplo em seu quintal, já que são inúmeros os vazamentos da própria Cedae pelas ruas da cidade.

Se não queremos entregar nosso direito à água a uma fundação especializada em pajelança climática, como já aconteceu, ou aos fatalismos vários, é melhor tentar reverter agora números que nos deixam mal na fita. Cada cidadão do Rio consumiu, em 2013, cerca de 253,1 litros de água por dia, duas vezes mais do que os 110 litros por pessoa considerados suficientes pela ONU. Somos o pior estado no ranking — em São Paulo, no mesmo ano, o consumo per capita foi de 188 litros de água por dia. Na capital, a situação é pior e cada carioca se revela uma draga capaz de consumir 329,78 litros por dia. Somos vilões? Não e sim.

Nesses números há certamente mau uso da água e um jeito de ser como, por exemplo, tomar mais banhos, empurrados para o chuveiro pelo calor infernal. Mas, e o desperdício? Há algum tempo, um programa de instalação de hidrômetros deu o que falar não só pelos custos dos aparelhos, mas também pela enxurrada de reclamações de usuários, surpreendidos logo depois da novidade por contas de valores estratosféricos. Com tudo isso, só temos 65,1% de índice de hidrometração contra mais de 90% da média nacional. Como podemos saber de fato para onde vai a nossa água?

Ou fazemos a coisa certa agora ou num futuro próximo estaremos inventando um novo tipo de crime: o sequestro mediante extorsão de garrafinhas de Minalba. Vai ser um perigo andar pelas ruas instigando a cobiça de bandidos sedentos por um gole de água mineral.



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/pinga-ni-mim-15274122#ixzz3SNss8Axi

5 comentários:

  1. Eu concordo com a visão do autor. Culpa não é de são paulo e sim de quem gasta água atoa sem nem pensar no que irá acontecer no futuro. Agora que estão sem água perceberam o que acontece com pessoas que gastam desnecessariamente. A unica tragedia foi os poucos que se prejudicaram por causa dos que gastam muita água. Mas se nós economizarmo e a prefeitura fazer sua parte consertando encanamento e vazamento de água tudo voltara ao normal. Caso contrario se continuarmos gastando água dessa maneira acabaremos sem água no Brasil inteiro. Eu acho que se todos fizerem cada um a sua parte esse problema acabara e se ele voltar já saberíamos o que fazer.


    Theofilo Roberto B. Nascimento - 701

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  2. Eu concordo com a visão do autor, pois a culpa não é de São Paulo a culpa é das pessoas que gastam água sem pensar no planeta e no futuro. Se cada um fizesse sua parte e a prefeitura consertasse encanamentos e vazamentos de água não teríamos tantos problemas de água como temos hoje. Se continuarmos desse jeito um dia a água não apenas de São Paulo, mas de todo o Brasil irá acabar. E se todos fizerem sua parte tudo voltará ao normal e se acontecer novamente estaremos prontos.

    Theofilo Roberto B. Nascimento - 701

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  3. Eu concordo que as pessoas jogavam muita água fora, desperdiçando-a, porém quem gasta a maioria da água são os criadores de gado e donos de fazendas, o povo só contribui para a água acabar, também, os vazamentos jogam fora uma grande quantidade de água, em torno de 30%, precisamos melhorar muito ainda nossas tubulações e diminuir o consumo no campo, para podermos colocar a culpa disso no povo. Eu concordo com que o texto diz, e acho sim que o povo tem que economizar, mas, não acho que essa crise seja culpa do mesmo.
    Eu também acho que estamos nessa situação por falta de planejamento, pois não é de ontem que o nível da água vem descendo, nosso país tinha, que nesse tempo de chuvas, construir bases de tratamento para transformar de novo o esgoto em água, sem jogar fora tudo o que nos serviu.
    A ajuda do povo, apesar de não ser o principal causador desse problema, ajuda muito, pois agora todos estão conscientes e não estão jogando água fora.
    Existem várias formas de conseguir acabar com essa "falta d'água", como parar de desmatar a Amazônia que por mais estranho que seja, a maioria da chuva que vem para o Sudeste vem daquela região, e desmatando cada vez menos as frentes frias chegam aqui.
    Enquanto isso vamos fazendo nossa parte, sem jogar água fora e ficar com a consciência leve, de não estrar jogando fora um bem tão precioso, e que sem ele nós não viveríamos, temos que conservar, não estamos em época de tomar banhos longos.
    Temos também que economizar energia que aqui em nosso país é diretamente afetada pela crise d'água, pois a maioria de nossa energia elétrica vem de usinas hidrelétricas, estamos em época de economia para ajudar a tirar essa pedra no meio do caminho de todos nós.

    Victor Melo Ismério
    802

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  4. A falta d’ água não é novidade , cansaram de alertar para proteger a água , para economizar , mas pelo visto a maioria não deu ouvidos , e , agora estamos nesta situação .
    Sempre fiz o máximo que pude para economizar água , porquê sem ela não viveríamos , por esta razão cuido bem dela , pois se eu economizo nem que seja uma gota , tenho certeza que vou ajudar o mundo .
    Acho uma situação muito horrível , viver sem água , todavia acho que esta falta de água não está acontecendo atoa , acho que com isso aquelas pessoas que não se importavam com água, vão dar mais importância a ela agora.
    Luiza Abreu 701

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  5. A falta de água é culpa nossa, pois somos nós que ficamos gastando tudo isso sem pensarmos como vai ser no futuro. Nós pagaremos um preço muito caro, por nossa irresponsabilidade.
    Nós iremos perguntar: o que foi que eu fiz?
    E cada dia mais água é desperdiçada. São Paulo foi a cidade que mais economizou durante esse tempo todo e Rio de Janeiro foi que mais gastou nessa época de desperdício, mas se continuarmos não sei o que acontecerá no futuro. Só sei que não será coisa boa.
    E as pessoas que gastam mais água sem necessidade e ainda ficam gastando, não se importam, mas agora eles estão morrendo por uma gota de água.
    A água não é a única coisa que está faltando para a população, também tem a energia, mas isso é outra coisa.
    Todos nós temos que fazer a nossa parte. Se conseguirmos, a falta da água só será um “pensamento”.
    Por Jean Paul C Pierre - 701

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