quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Crônica do Dia - Onde comprar estantes de livros ? - Claudio de Moura Castro




REVISTA VEJA 

 Em 1970, voltando do meu doutoramento, comecei a montar casa no Rio de Janeiro. Logo notei que as lojas não ofereciam estantes de livros. Havia estames de tudo, menos de livros. Diante do orçamento apertado, descobri uma solução. Por serem feitas em série, escadas de subir em postes de luz são muito baratas. Com elas e mais tábuas - para colocar os livros - resolvi o problema. Quando fui morar em Brasília, em 1980, foi a mesma coisa, pois nas lojas só havia estantes profundas, para jarras ou processos administrativos. Para livros, nem pensar. Comprei sólidas tábuas de mogno e fiz minha linda estante. Recentemente, com mudanças de escritório, precisei novamente de estantes. Debalde, peregrinei por Tok & Stok, Ema, Walmart e Leroy Merlin. Eram as mesmas de antes, para bibelôs e jarros. Para livros, ou são horrendas e mal-acabadas (para bibliotecas públicas e feitas de chapa de metal) ou são os precários trilhos verticais, com mãos francesas de encaixe duvidoso. Acabei comprando gôndolas de quitanda, no mesmo gênero, mas um pouquinho mais robustas. Por desfastio, busquei também no site do Magazine Luiza, encontrando centenas de estantes mas nem uma só para livros (a maioria era para TV). 

 Como os donos dessas empresas não são tontos, é inevitável concluir que, se não oferecem boas estantes, é porque não há compradores. Ou seja, o brasileiro frequentador dessas lojas não possui o volume de livros que provocaria a demanda por elas. Os poucos que precisam de estantes mais avantajadas se entendem com seu marceneiro e pagam as comas, também mais avantajadas. Triste constatação, pois não? E como será no mundo mais rico? Apenas para ter gosto. Digitando a palavra bookcase, aparecem 725 itens. Há um número para cada cor, aparecendo também acessórios e modelos menos apropriados para livros. Por seguro, digamos que•existem mais de 300 modelos de estantes para livros. A comparação é escandalosa. 

Falando de estantes de livros, em uma área rural da Islândia, uma casa de camponeses modestíssimos foi transformada em um museu sobre os hábitos e os estilos de vida locais. Mostra a casa como estaria por volta de 1920, austera e espartana, como tudo no país. Chamou atenção a biblioteca do dono. A estante, mais alta do que eu e com um bom metro e meio de largura, estava repleta de livros, com o desgaste que corresponde ao uso frequente. Quem já viu estante de livros nas aristocráticas fazendas brasileiras? Na realidade, os islandeses estão entre os leitores mais furiosos, comprando oito livros por pessoa/ano e os domicílios abrigando uma média de 338 livros. Na Austrália e na Nova Zelândia, acima da metade dos lares tem mais de 100 livros. 

Como serão os hábitos de leitura dos brasileiros? Os resultados não são nada lisonjeiros. A média brasileira é de 1,8 livro lido por habitante/ ano. Isso se compara com 2,4 para nossos vizinhos colombianos, cinco para os americanos e sete para os franceses. 

Diriam os cínicos, e daí? Um passatempo como outro qualquer. Infelizmente, não é assim. Uma pesquisa em 27 países mostrou que a biblioteca familiar se correlaciona mais com bons resultados na educação do que a própria escolaridade dos pais. 

Uma biblioteca de 500 livros se associa a acréscimos de escolaridade que vão de três a sete anos. Segundo os autores, "uma casa onde os livros são valorizados fornece às crianças ferramentas que são diretamente úteis no aprendizado escolar...". E tem mais, leitores mais assíduos visitam mais museus, fotografam mais e, surpresa, praticam mais esportes. 

A revista The Economist inventou uma brincadeira que era avaliar o realismo das taxas de câmbio pela diferença de preço dos hambúrgueres no McDonald"s, já que em todos os países ele é o mesmo sanduíche detestável. Surpresa! O "índice do hamburguer" revelou-se uma medida respeitável e tem vida longa. Quem sabe, além do Pisa, não poderíamos passar a medir educação e hábitos de leitura por uma simples pesquisa nos sites das lojas de móveis? Bastam alguns minutos. Isso é fácil, difícil será mudar essa triste situação.

2 comentários:

  1. A crônica "Onde comprar estantes de livros?" do cronista Claudio de Moura Castro fala que hoje em dia a maior parte da população brasileira não lê muito, por isso há muito poucas estantes de livros a venda.
    Hoje em dia a média de livros comprados por ano no Brasil, de acordo com o autor, é de 1,8 livros por pessoa. O que nos mostra que uma grande parcela da população compra em média um ou dois livros por ano.Isso chega a ser ridículo comparado a outros países como Islândia, em que as pessoas compram em média oito livros por ano, França, com sete livros para cada pessoa, e EUA com cinco livros por pessoa.
    Eu concordo com o autor ao dizer que nossa situação é mesmo triste. Ler é um bom hábito, ajuda nos estudos,sem falar que é muito divertido, chegando até mesmo a ser viciante na minha opinião, tanto que nesse momento estou me contendo para não pegar o livro que estou lendo e começar a ler. E o fato de que as pessoas estão lendo tão pouco me surpreende já que é uma coisa tão gostosa e que nos faz tão bem.
    É triste ver a direção que nosso país esta tomando.
    Aline Assis 801.

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  2. Achei interessantíssima essa crônica, “Onde comprar estantes de livros?” que fala sobre uma verdade inquestionável.
    Claudio Moura de Castro, autor dessa crônica, começa-a relatando um caso da vida dele, a dificuldade de achar estantes de livros.Ele diz que desde 1970 tem problemas para achá-las. E isso continuou até hoje em dia.
    Depois diz que os que precisam das estantes tiveram que contratar um marceneiro, e eu me identifiquei com isso, já tive que aumentar minha prateleira duas vezes, e esse processo demora, tendo que deixar os livros no chão.
    Depois ele diz uma baita verdade, dizendo que, já que os brasileiros quase não leem, os donos das empresas de móveis não oferecem prateleiras de boa qualidade.
    A partir dessa frase, vamos para o assunto de que o Brasil tem uma baixa taxa de leitores, com números ridículos de livros lidos por ano comparado a outros países, como a França e os Estados Unidos. Acho isso uma vergonha para o Brasil.
    Ler é uma ótima prática, e como ele diz, faz grande diferença no ensino. Espero que nos próximos anos os brasileiros comecem a ler mais.

    João Pedro Berbat - 801

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