quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O Poema & a Canção!


Gente Humilde

 Garoto, Chico Buarque e Vinicius de Moraes

Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Como um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a tudo
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar



Um comentário:

  1. O que mais chama a atenção no poema e música "Gente Humilde" é o verso: "E eu que não creio...", Chico é agnóstico, mas num momento de profunda pelo seu povo pede a Deus por eles. Nessa música, Buarque mostra a vida simples do povo brasileiro, povo que luta, trabalha, mora no subúrbio, "não tem com quem contar", mas para o poeta, essa gente humilde, vive melhor que ele, que chega a sentir inveja dessa gente. O poeta tem vontade de viver longe dos "holofotes" (um desejo de eu viver sem me notar), ter uma vida simples como gente humilde. Ele tem consciência do sofrimento do povo e se sente frustrado por não poder fazer nada pra mudar a situação dessa gente ("me dá uma tristeza... de eu não ter como lutar"), e mesmo não sendo uma pessoa religiosa, ele pede pra que Deus cuide dessa gente ("e eu que não creio peço a Deus por minha gente"), ele se angustia com as condições de vida da pobreza. Com tantas boas características de Chico, uma das que mais me chama a atenção é essa afinidade que ele tem com os menos favorecidos. Ele sabe que não se trata de um artista do povão, mas em quase todas as suas obras, a simplicidade do povo brasileiro está presente. Nascido numa sociedade privilegiada, de uma família tradicional era para ele cantar um outro tipo de vida. Talvez a herança do pai que era sociólogo (Sérgio Buarque) tenha mexido com sua maneira de ver o mundo.
    A música tem princípios que permitem que se expressem sentimentos, sensações e ideias ao mesmo tempo em que se estabelece uma relação entre os indivíduos envolvidos, o intérprete/compositor e o ouvinte. É uma forma de expressão e de obra artística que está constantemente a nossa volta, envolvendo e até mesmo influenciando nossos pensamentos e ações. Muitas canções imprimem, mesmo que implicitamente ou involuntariamente, além da carga emocional, mensagens com uma considerável carga social ou política, a tornando, de alguma forma, crítica ou no panfleto (panfletária). O presente artigo propõe uma análise do discurso de uma outra canção de Chico Buarque, "Subúrbio". Uma canção que retrata em sua letra a periferia da cidade do Rio de Janeiro. Portanto, este trabalho pretende fazer uma leitura sócio-histórica da canção, por meio do discurso poético e crítico que ela sugere, sob uma perspectiva de arte como meio de formação de uma consciência crítica.

    Gustavo - Turma 901 - 2011

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