domingo, 28 de agosto de 2011

Para Refletir ................


O VIRA

Início dos anos 2000 minha filha caçula participava de uma gincana na escola que incluía uma dança da turma com música dos anos 70. Ela sugeriu “O Vira”, dos Secos & Molhados, que adorava. Seus colegas aderiram e criaram uma coreografia para o rock antigo. A letra fala de seres mágicos, é fácil de decorar, o ritmo lembra uma música folclórica portuguesa. O estribilho repetia: “-Vira, vira, vira homem, vira, vira. Vira, vira, lobisomem”. Nós, os adultos, ficamos entusiasmados por ver revitalizada uma música que fora significativa para nossa geração, até que um pai se desesperou. Não queria que seu filho participasse da dança que, para ele, era uma apologia aos homossexuais. Não conseguiu impugnar a música, que defendemos com unhas e dentes, mas impediu seu filho de participar da apresentação. Estaria preservada a heterossexualidade do garoto?
Havia uma lenda que o nome original do conjunto seria Secos, Frescos & Molhados e que eles teriam sido impedidos de registrar tal afronta moral, afinal, eram anos duros. De qualquer forma, voz ambígua de Ney Matogrosso não mentia: feminino e masculino não possuem fronteiras tão claras como se queria crer. A suposta contrariedade dos censores era compreensível, os músicos estavam brincando com a ambigüidade sexual. Mas no que isso influiria no destino erótico de qualquer um?
Corta para o ano 2011: uma grande iniciativa, o kit anti-homofobia – composto de material de divulgação sobre a intolerância frente às relações e comportamentos homoafetivos nas escolas – enfrenta um caloroso debate. Um dos temores dos críticos é que o material instigue os jovens a serem homossexuais. Talvez a campanha possa passar por alguns ajustes, mas é sempre bom lembrar que não há propaganda, imagem ou música que possa pender a identidade e escolha de objeto sexual de alguém. Acredito que não se nasce gay, torna-se, mas é por caminhos nada óbvios. É a forma como nos situamos dentro de uma família, de uma época, que vai determinar com quem vamos parecer e a quem vamos amar. Um homem, por exemplo, pode ter uma identificação feminina e amar mulheres ou ser perfeitamente viril e desejar outros homens.
É nas sutilezas da história de alguém que sua sexualidade se define. Nenhuma influência pontual mudará a complexidade de um destino, ela pode, no máximo, dar-lhe voz. Mas os rumos imprevisíveis da sexualidade mexem com os ânimos dos mais inseguros: a revelação da diferença angustia, pensam que seus desejos secretos, tão comuns, podem ser revelados ou ativados por manifestações culturais. O pânico de nada serve, exorcizar supostas influências não oferece a garantia que os inquietos gostariam de ter. A sexualidade se constrói junto com a identidade e a cada um cabe viver a dor e a delícia de ser o que é.



 
Diana Corso - REVISTA VIDA SIMPLES

Um comentário:

  1. O texto fala sobre a revolta que uma música causou em algumas pessoas, pois falava de forma não tão explícita sobre o homossexualismo, por exemplo, no verso: “-Vira, vira, vira homem, vira, vira. Vira, vira lobisomem” para você virar lobisomem primeiro você tem que sofrer uma transformação de homem para lobisomem, que é um animal, e o homossexual também, pois de homem/mulher tem que sofrer uma transformação para então virar um homossexual. No texto diz que o autor não acredita que se nasce homossexual, mas se torna, como assim? No texto ele explica que: “Acredito que não se nasce gay, torna-se, mas é por caminhos nada óbvios. É a forma como nos situamos dentro de uma família, de uma época, que vai determinar com quem vamos parecer e a quem vamos amar. Um homem, por exemplo, pode ter uma identificação feminina e amar mulheres ou ser perfeitamente viril e desejar outros homens.” Também concordo com essa afirmação, pois, um homem que já amou mulheres pode muito bem se tornar homossexual. Atualmente, isso não é raro de acontecer. Acredito que na nossa sociedade haja um caso desse muito perto de nós e que por convenções, sociais a pessoa não querendo se expor permanece ocultando a sua opção sexual, e assim não é por causa de uma música que alguém vai se tornar ou deixar de ser homossexual.
    Ficou claro que, a identificação com o mesmo sexo é algo que vai além do que é exposto pelas revistas, jornais, músicas, propagandas, etc...
    O texto faz com que a gente reflita que a opção sexual não se dará por influencias externas e sim pelo que a pessoa vem trazendo de vivencia, experiências, durante a sua vida, da mesma forma que a nossa personalidade vai se formando. Um exemplo é: como dois gêmeos idênticos, eles podem ser fisicamente idênticos, mas suas personalidades vão ser sempre diferentes. Quando falamos em gêmeos pensamos em duas pessoas iguais quando na verdade não são, o que quero dizer é que nós não somos iguais à sociedade por isso não precisamos pensar ou achar o que a sociedade diz que é certo e sim formar nossa própria opinião. Eu posso achar o homossexualismo até certo e outra pessoa também, mas a nossa visão sobre o assunto mesmo aprovando vai ser diferente. Não há duas visões iguais como não há duas pessoas totalmente iguais, o que eu quero dizer com isso é que a sociedade impõe para você o que ela acha certo, mas que nem sempre está, e isso não é só em relação ao homossexualismo, mas também com a questão da religião, politica, o físico, classe social, e entre outras questões.
    Conclusão: a partir do momento que respeitamos as diferenças estamos melhorando o nosso convívio sendo e deixando o outro ser feliz.
    Sofia de Almeida Losant Macedo 701

    P.S: Se fosse para seguirmos a opinião da sociedade, para que, que iriamos á escola se esta nos ensina a criar nossa própria opinião?

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