Camisinha na escola
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O governo vai distribuir preservativos para estudantes. A iniciativa enfrenta a oposição dos grupos religiosos
Angela Pinho
Após quatro anos parado, um projeto do Ministério da Saúde com grande potencial de causar polêmica acaba de ser desengavetado. Até o fim do mês, o governo federal finalizará a cotação de preços para a compra de 33 máquinas de distribuição de preservativos para escolas públicas. A ideia é instalar esses equipamentos em colégios de ensino médio, que têm alunos a partir de 14 anos. Eles funcionarão como uma máquina de refrigerante, mas sem necessidade de colocar dinheiro. O aluno digitará uma senha, apertará um botão e receberá o preservativo.
O objetivo do projeto é facilitar a distribuição de camisinhas para adolescentes, eliminando o constrangimento que eles possam eventualmente ter em comprá-las ou pedi-las para alguém. As máquinas serão instaladas inicialmente em escolas de quatro capitais: Florianópolis, João Pessoa, Brasília e São Paulo. A experiência será acompanhada por pesquisadores de dois órgãos ligados às Nações Unidas, a Unesco e a Unfpa. Eles ouvirão alunos, pais e professores sobre a iniciativa. Concluída essa fase inicial, a ideia do governo é expandir a instalação das máquinas para 400 escolas públicas em todo o país.
Dois levantamentos estatísticos fundamentam a iniciativa. O primeiro é uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2009. Ela mostra que 30,5% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental (a antiga 8ª série) já tiveram alguma relação sexual. O outro revela que os brasileiros usam cada vez menos a camisinha. De acordo com uma pesquisa do ministério, o uso de preservativo em relações casuais caiu de 51,5% para 46,5% entre 2004 e 2008.
O debate sobre as máquinas, porém, não deve se limitar a aspectos técnicos. Padres e parlamentares religiosos prometem fazer barulho contra o projeto."É lamentável. Uma atitude como essa forma pessoas que serão sempre dominadas pela sexualidade e pelo impulso", diz Dom Wilson Tadeu Jönck, representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em Santa Catarina. Presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Família Brasileira, o senador Magno Malta (PR-ES) tem posição parecida. Ele afirma que vai pedir explicações ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Malta ficou particularmente contrariado pelo fato de o preservativo ser gratuito. "Cada um paga pelo que faz. Quer fazer sexo fora de casa, inseguro, precoce? Que compre a camisinha."
Depois de uma pesquisa em quatro cidades, máquinas deverão ser instaladas em 400 escolas públicas
Na Câmara, o deputado federal João Campos (PSDB-GO), presidente da Frente Parlamentar Evangélica, afirma que "a camisinha é uma forma de estimular o sexo sem limites". Campos diz que o governo deve investir em programas que valorizam a abstinência sexual até o casamento, sob o mote "Quem ama, espera".
Esse não é o slogan que a maioria dos jovens tem colocado em prática, diz Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos em sexualidade da Universidade de São Paulo. "A realidade é que as pessoas não estão aguardando o casamento para iniciar a vida sexual e não têm um só parceiro", afirma Carmita. Para ela, o uso do preservativo, nesse contexto, se torna indispensável, assim como a definição de um projeto educativo para acompanhar a instalação das máquinas. As pesquisas acadêmicas mostram que educação sexual não estimula a iniciação precoce do adolescente.
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