Novo disco preserva o poético universo criado por Vinicius de Moraes
Carlos Albuquerque
RIO - Não há natureza morta neste “A arca de Noé”. Preservado o poético universo criado por Vinicius de Moraes há mais de três décadas, é uma outra fauna que vem (re)contar suas histórias, entre novas espécies e uns bichos bem cascudos. A abertura é exemplar, com o cinematográfico arranjo do maestro americano Miguel Atwood-Ferguson (ligado a Flying Lotus e à vanguarda musical de Los Angeles) servindo de tapete voador para a narração de Maria Bethânia, seguida pelas vozes de Seu Jorge e Péricles (do ExaltaSamba). Zeca Pagodinho embriaga o ritmo e transforma “O pato”, originalmente uma valsa, imortalizada pelo MPB-4, num samba. Pai e filho, Caetano e Moreno Veloso amansam “O leão” com as palmas de um pagode.
Mart’nália conduz o divertido clima de cartoon de “O gato” (e faz pensar em como seria o Canastra ao seu lado nessa brincadeira), no mesmo clima de “A foca”, equilibrada com irreverência pela Orquestra Imperial. Eletrizado pela guitarra de Dado Villa-Lobos, Erasmo Carlos faz “O pintinho” com cara de mau, enquanto Chitãozinho & Xororó trazem para seu habitat a “Corujinha”, que havia sido regravada por Elis Regina, e Ivete Sangalo e o grupo português (de kuduro) Buraka Som Sistema degustam “A galinha D’Angola” num embalo afro.
Mas é na delicadeza hipnotizante e sensorial de Gal Costa, com suas “Borboletas”, e de Maria Luiza Jobim, com “A cachorrinha”, e no groove afiado de “O elefantinho”, com Adriana (Partimpim) Calcanhotto, puxado por uma linha de baixo matadora de Alberto Continentino (que implora por um remix house), que a “Arca” de Vinicius emerge gloriosamente de águas passadas e atinge seu ponto mais alto. Brincadeira recomendável para todas as idades: ouvir o disco de novo, de novo, de novo.
Cotação: Bom
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