Agora, a polícia já sabe: o mentor do bárbaro assassinato de Amarildo é o major Edson dos Santos, o chefe da UPP da Rocinha até então conhecido pela retidão
Depois de dois meses, a polícia não tem mais dúvidas sobre a trama que levou à morte do pedreiro Amarildo de Souza, 47 anos, morador da favela da Rocinha, na Zona Sul carioca. Desta vez, não foi a bandidagem do morro a autora da barbárie, mas justamente quem deveria cuidar para que ela fosse extirpada do cenário — a tropa da PM lotada na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Em uma reserva florestal vizinha à base, a turma que fazia o plantão na noite de 14 de julho submeteu o pedreiro a uma sessão de tortura em que se revezavam socos e pontapés e asfixia com saco plástico. Os PMs tentavam pressionar Amarildo a revelar onde o bando da favela havia escondido parte de seu arsenal. Um informante havia dito que ele guardava a chave de um paiol do tráfico, o que o pedreiro, insistentemente, negava. Amarildo sofria de epilepsia e sucumbiu em pouco tempo. Seu corpo ainda não foi encontrado. Na semana passada, dez policiais foram denunciados e presos por tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. Entre eles, o chefe: trata-se do major Edson Raimundo dos Santos, 39 anos, que, em 2012, havia sido conduzido ao posto de comandante da UPP com a missão de moralizar a área.
Conhecido pelo pulso firme com seus subordinados, no dia do crime o major estava ainda mais áspero. Na véspera, a Operação Paz Armada, sob sua liderança, havia detido 33 pessoas, mas nenhuma arma fora encontrada. Todas as esperanças recaíam sobre Amarildo. Quando seus homens capturaram o pedreiro, ele próprio adiantou-se em recebê-lo na UPP. Naquela noite, estava de plantão justamente a equipe à qual o major confiava as missões mais espinhosas. O grupo apostava que passaria incólume. As duas câmeras no entorno da UPP estavam desativadas — nem mesmo o GPS do carro de patrulha funcionou naquele domingo. O sinal do rádio, rastreado durante as investigações, mostrou que o veículo circulou pela cidade logo depois da captura de Amarildo, levando os investigadores a desconfiar que ele tivesse sido morto ali mesmo, mas isso não se confirmou.
À primeira vista, o major Santos seria o suspeito menos óbvio. Com treze anos de PM, ele começou a consolidar a imagem de oficial-modelo ainda como calouro do curso do Bope, a tropa de elite do Rio de Janeiro, que chegou a integrar. Era o "01" (apelido dado ao melhor aluno da turma), com destaque nas provas de resistência — certa vez traçou, sem reclamar, uma dúzia de ovos crus recém-chocados e sujos, história que correu gerações de recrutas. O temperamento inflexível, porém, sempre despertou inimizades. Nos primeiros tempos, ele prendeu a própria namorada por ter chegado atrasada à aula. Um consenso une a banda que o adora àquela que o abomina: o major nunca fez vista grossa às más práticas dos colegas. Não perdoava o rateio de dinheiro e armas apreendidas nas operações, o chamado "espólio de guerra". Sem ambiente nos batalhões, em 2008 ele cavou uma vaga na equipe destacada pelo Estado para fazer a segurança da surfista Maya Gabeira. filha do então candidato a prefeito Fernando Gabeira. que havia sido ameaçada de morte. De lá, foi alçado a um cargo de comando na Operação Lei Seca, estreitando o cerco a autoridades e celebridades.
O suplício que Santos impingiu a Amarildo não é um caso isolado em sua trajetória. Na Rocinha, o major instaurou uma rotina de terror. VEJA ouviu moradores que foram alvo de tortura praticada por seus soldados: dezenas de outros registraram os horrores que viveram na delegacia da área. "Com o Edson sempre foi tiro, porrada e bomba", resume um oficial do Bope do círculo próximo ao major. Duas testemunhas também lançaram lama em sua fama de incorruptível: contaram à polícia ter recebido suborno de Santos para que acusassem traficantes pelo assassinato de Amarildo. Ele nega.
A truculência, quando não a selvageria. era incentivada pelo major sob o pretexto de legitimar a paz. Um desvio imperdoável na carreira do "01". Custou a vida de Amarildo.
Nossa , mas uma vez é descoberto que policiais que deveriam estar impedindo esse tipo de coisa , estão na verdade causando-as , isso me lembrou do assassinato da juíza , não faz muito tempo , que também foi descoberto a ação de policiais no caso . Se continuar assim , não sei de quem sinto mas medo , dos policiais ou dos bandidos . O major Santos também me fez lembrar do coronel do último livro "Memórias de um sargento de milicias" que a população desprotegida também temia
ResponderExcluir-GM