- Com curadoria do cenógrafo Gringo Cardia, exposição em homenagem ao cantor abre nesta terça-feira, em São Paulo
Márcia Abos
SÃO PAULO — Logo na entrada do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, dezenas de cartazes colados nas paredes trazem caras pintadas por frases. São retratos em que foram sobrepostos trechos de letras do cancioneiro de Cazuza. Formam um mosaico que será renovado a cada dia, com novas fotos de visitantes do museu, transformando essa espécie de manifestação poética.
Cazuza, batizado Agenor Miranda de Araújo Neto, está incógnito no meio dessa multidão. Ele é o tema da nova exposição do museu, “Cazuza, mostra a sua cara”, que será aberta ao público na próxima terça-feira. Com curadoria do cenógrafo e arquiteto Gringo Cardia, a exposição apresenta a obra transgressora do artista dialogando com a atualidade, enfatizando o quanto sua poesia segue atual e próxima da juventude.
— Uma semana depois de ser convidado a fazer a curadoria começaram as manifestações. Vimos muitos cartazes com frases de Cazuza carregados por jovens que nem eram nascidos há 23 anos, quando ele morreu. O momento não poderia ser melhor. Fiquei com a impressão de que foi Cazuza quem escolheu, lá onde ele está, esse período — conta o curador, explicando que fez um trabalho de tradutor visual das ideias do poeta.
É a primeira vez que a Fundação Roberto Marinho, responsável pela mostra, apresenta a obra de um ídolo da música. Até hoje, o Museu da Língua, um dos mais visitados do Brasil, optou por se dedicar a cânones da literatura, tais como Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Fernando Pessoa.
— Cazuza é o poeta da rebeldia da juventude. É preciso um exagerado para quebrar tudo e mudar o mundo. Quis que o jovem se reconhecesse. As manifestações só reforçaram nosso conceito — completa Gringo Cardia.
Numa das salas, o curador selecionou vozes não mixadas do artista. O visitante, num corredor de espelhos e luzes, caminha como se estivesse dentro da cabeça do poeta. Gringo explica que evitou clichês e não quis falar da Aids, que matou Cazuza em 1990.
— Há muito sensacionalismo em torno disso. Preferi mostrá-lo no auge — diz o cenógrafo, que contou com a consultoria da historiadora Heloisa Starling e do jornalista e crítico musical do GLOBO Silvio Essinger.
Depoimentos de personalidades e amigos — como Ney Matogrosso, Lobão e Bebel Gilberto — sobre Cazuza dialogam com especialistas falando da juventude. Noutra área da mostra, a relação entre poesia e canção é apresentada por meio de computação gráfica.
Os banheiros têm luzes coloridas e projeções que retratam a irreverência de Cazuza nos palcos. Há ainda uma espécie de karaokê, onde se pode escolher cantar “Ideologia” ou “Exagerado”. Telas touch-screen mostram a estrutura poética das músicas do artista. Livros cenográficos com sensores de presença trazem depoimentos de Cazuza.
— Ele é o poeta da transição. Viveu todo o período de formação durante a ditadura. O momento em que se afirma como artista é angustiante. O passado não é mais, mas o futuro não é ainda. Ele morreu antes de ver a democracia consolidada. Então, joga todas as suas fichas na liberdade, tornando-se a afirmação da liberdade em sua máxima potência — conclui Heloísa.
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Cazuza sem duvida foi um grande cantor muito importante para o MPB por isso ele merece um espaço nas grandes galerias ou ter seu próprio museu.
ResponderExcluirEssas iniciativas são boas e devem ser incentivadas.
Heitor Dutra Delage da Silva
8 ano
Sala 801