sábado, 12 de outubro de 2013

Artigo de Opinião - Onde - Jandira Feghali

 

Há 77 dias desaparecido e passados já quase dois meses, ainda não há relato conciso sobre situação de Amarildo

O Dia
Rio - Não há para uma mãe, um filho ou familiar uma dor maior que o desaparecimento de um ente querido. É uma ruptura nas relações de afeto, uma lacuna impiedosa e um contínuo e dilacerante sofrimento. Sentimento de ausência aliada à constante esperança de retorno ou, pelo menos, de uma explicação. Some-se a isto o peso da injustiça social, pois a violência foi cometida contra quem tem quase ou nenhuma possibilidade de se fazer ouvir.
É neste pesadelo que vivem cinco cidadãos, moradores da Rocinha: os familiares do ajudante de pedreiro Amarildo. Há 77 dias desaparecido e passados já quase dois meses de investigação, ainda não há relato conciso sobre o que aconteceu com ele.
Nesta semana, a bancada de deputados e senadores fluminenses foi à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e pediu a realização de perícia independente, de forma a identificar eventuais desvios de conduta por parte dos agentes de segurança do estado e demais envolvidos.
É fundamental o acompanhamento por parte do governo federal, haja vista a flagrante afronta aos direitos humanos, tanto pelo desaparecimento, como pelas denúncias de tortura e pela absoluta falta de informação à família sobre o caso. Com agilidade, a ministra Maria do Rosário solicitou documentos do inquérito para acompanhamento.
O caso Amarildo sinaliza para um debate inadiável no Brasil: a desmilitarização da polícia. Como principal investigada no desaparecimento do trabalhador, é um ponto de partida imediato.
O Parlamento brasileiro deve enfrentar a temática com coragem, sem se esquivar do debate, primordial para avançarmos. Com uma polícia que é treinada para defender o país e não a população, a violação de direitos humanos de pobres e minorias sociais gera estatísticas que só tendem a crescer — infelizmente.
Está claro que algo precisa mudar. Não podemos permitir que a próxima pergunta seja: “Onde está a paz?”.
 
 
 
Jandira Feghali é médica, deputada federal pelo PCdoB e presidenta da Comissão de Cultura da Câmara

Nenhum comentário:

Postar um comentário