Livro que analisa a experiência de países bem-sucedidos na educação mostra que nem tudo vale a pena ser copiado
É comum que, diante de nossos pífios indicadores educacionais, miremos no exemplo de países bem-sucedidos em busca de soluções. Não se trata, neste caso, de complexo de vira-latas, pois não somos os únicos com essa obsessão. Em seu livro “As crianças mais inteligentes do mundo”, recém-lançado no Brasil, a jornalista norte-americana Amanda Ripley faz justamente isso ao investigar, a partir da experiência de estudantes americanos em intercâmbio em outros países, por que outras nações conseguem resultados melhores do que os EUA, mesmo dispondo, em alguns casos, de menos recursos.
Com base nos resultados do Pisa (exame internacional da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a autora escolheu investigar três países: Finlândia, Coreia do Sul e Polônia. Os dois primeiros sempre apareceram nessa avaliação entre os primeiros do ranking. No caso da Polônia, ela não chega a ficar entre os dez primeiros na lista de 65 nações, mas é destaque por ficar bem à frente dos Estados Unidos, mesmo tendo índices de pobreza maiores.
O livro foi lançado nos Estados Unidos no ano passado, antes de a OCDE ter divulgado, em dezembro, o novo ranking do Pisa, que evidenciou ainda mais a boa performance dos países asiáticos. A Finlândia, até então o país mais badalado do mundo por seus bons resultados, registrou uma queda no ranking. Mas se manteve, assim como a Polônia, bem à frente dos Estados Unidos, e há léguas de distância acadêmica do Brasil, o 58º entre 65 nações no desempenho em matemática.
Também por causa desse protagonismo cada vez maior das nações asiáticas no Pisa, o exemplo que mais chama a atenção no livro é o da Coreia do Sul. Vai se enganar, no entanto, quem acha que encontrará na publicação um relato deslumbrado sobre o sistema educacional de lá. Um dos trechos mais interessantes da obra é quando o estudante americano percebe alguns de seus colegas coreanos dormindo na aula do professor pela manhã. A cena contraria o estereótipo de asiáticos obcecados pelo estudo, mas tem uma explicação: depois de uma jornada de oito horas na escola, muitas das crianças coreanas seguem estudando em estabelecimentos que lembram alguns de nossos cursinhos pré-vestibulares. A jornada de estudo, em muitos casos, chega a 12 horas por dia, um exagero que preocupa seriamente autoridades sul-coreanas.
Este efeito colateral perverso do sistema sul-coreano foi tema também de um recente artigo, que teve grande repercussão, publicado em agosto no “The New York Times”. Nele, o editor de um site de notícias coreano nos EUA, Se-Woong Koo, descreve o sistema educacional de seu país como feudal: “Ser criança na Coreia do Sul ultimamente nada tem a ver com liberdade, escolhas pessoais ou felicidade. Ao contrário, tudo gira em torno de produção, performance e obediência. A Coreia do Sul pode ter virado uma potência econômica, mas negligencia a felicidade de sua população.”
Essa constatação do exagero asiático, que se reflete nas altas taxas de suicídio de jovens por lá, já havia sido feita pela educadora Beatriz Cardoso, ao visitar países bem avaliados no Pisa para a série “Destino Educação”, exibida no canal Futura.
Enxergar bem de perto o sistema desses países com bons resultados em testes internacionais traz algumas lições. Uma delas é que rankings elaborados a partir de testes como o Pisa contam apenas uma parte da história e, por isso, precisam ser sempre relativizados. Exageros à parte, no entanto, há lições a aprender de Coreia, Finlândia, Polônia e outras nações com bom desempenho. Em todos esses países, a sociedade valoriza a educação. Isso se reflete no prestígio que dão aos professores, que recebem salários atrativos, são bem formados, mas também cobrados para que garantam o direito de alto aprendizado a todas as crianças.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/licoes-de-fora-14516549#ixzz3NCiKCheD
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