sábado, 31 de maio de 2014

Analisando Manuel Bandeira - Cartas de meu avô -

CARTAS DE MEU AVÔ



A tarde cai, por demais
Erma, úmida e silente...
A chuva, em gotas glaciais,
chora monotonamente.

E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.

Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos:
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio.

Cartas de antes do noivado...
Cartas de amor que começa,
Inquieto, maravilhado,
E sem saber o que peça.

Temendo a cada momento
Ofendê-la, desgostá-la,
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala...

A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também.

A paixão, medrosa dantes,
Cresceu, dominou-o todo.
E as confissões hesitantes
Mudaram logo de modo.

Depois o espinho do ciúme...
A dor... a visão da morte...
Mas, calmado o vento, o lume
Brilhou, mais puro e mais forte.

E eu bendigo, envergonhado,
Esse amor, avô do meu...
Do meu - fruto sem cuidado
Que ainda verde apodreceu.

O meu semblante está enxuto.
Mas a alma, em gotas mansas,
Chora abismada no luto
Das minhas desesperanças...

E a noite vem, por demais
Erma, úmida e silente...
A chuva em pingos glaciais,
Cai melancolicamente.

E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.

Te Contei, não ? - Retocando o passado


Por: Revista Veja 


Para um país desmemoriado, nada pior que dois ex-presidentes empenhados em manipular a história de modo a jogar uma sombra sobre suas traficâncias

ANDRÉ PETRY

Entrevista - Claudio Haddad - O objetivo é doutrinar


objetivo-doutrinarEngenheiro e doutor em economia pela Universidade de Chicago. Claudio Haddad. 67 anos, sofreu, digamos assim, uma reprovação no campo acadêmico. Ele resolveu fazer, só de curiosidade, a prova de conhecimentos gerais do Enade, o exame do Ministério da Educação para os recém- formados nas universidades. Segundo o gabarito oficial do MEC, ele errou metade das questões. Como assim? Haddad, que preside o Insper, faculdade que fundou em São Paulo com o nome lbmec, em 1999, depois de quinze anos como sócio do Banco Garantia, está desatualizado? Nada disso. O defeito é da prova, que não se propõe a medir conhecimento, mas a aferir o grau de alinhamento do candidato com a ideologia em voga em Brasília. Diz Haddad: “E uma prova com viés ideológico, alta dose de subjetividade e um olhar simplista sobre as grandes questões da atualidade”.

Artigo de Opinião - Diálogo ou monólogo ? - Marcus Tavares

Justificar as respostas dessas perguntas, sob o olhar de uma escola tradicional e do papel central do professor na sala de aula, não é difícil

O DIA

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Crônica do Dia - Dias difíceis - Leda Nagle

A realização da Copa no Brasil não foi decidida em 2007? Por que levamos todo este tempo para nos incomodar?

O Dia

Rio - Que tempos estranhos estes que vivemos! A vida da gente passou a ser resolvida em horas, de véspera, de hoje pra amanhã como se isto fosse normal. A rotina é fundamental pra uma vida organizada. Muito difícil viver assim. E não falo só da questão da segurança e da violência. Falo também das coisas mais banais tipo ir e voltar do trabalho, sem surpresas, sem ruas interditadas por manifestações, sem dúvidas sobre funcionamento dos serviços essenciais.
Claro que o direito de greve é legítimo, a gente lutou durante anos pela democracia e pelos direitos legítimos que vêm com ela. Mas tudo na vida tem que ter ordem até para a sobrevivência dela, democracia, e de nós,cidadãos. Não podemos viver submetidos a esta nova regra do qualquer um faz o que quer, na hora que quer e pelo motivo que considera justo. Parece que colocaram um remédio na água e todo mundo está perdido. Você acorda e o candomblé e a umbanda não são religiões. Como assim? Afinal, temos ou não temos uma constituição que diz que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. No dia seguinte, o juiz muda de ideia, e as religiões são de novo consideradas religiões, diante do que ele mesmo chama de pressão da sociedade e da mídia.
Isto também vale pro direito de greve. Greve também tem regras, explicam os profissionais do Direito. Descubro, perplexa, por exemplo, que os direitos de greve do funcionalismo público (e aí se inclui, por exemplo, a polícia) nunca foram regulamentados, apesar de constarem na constituição de 1988. Somos muitos lentos ou muito lerdos? Será que é característica de brasileiro? A gente é do tipo que deixa tudo para depois, da declaração do imposto de renda ao direito de greve? O tempo vai passando e as coisas vão sendo adiadas ou empurradas com a barriga até que estoura de um jeito estabanado, raivoso, que nem nossos bueiros que explodem do nada? Outra coisa que não consigo entender é esta revolta, somente agora, com a Copa do Mundo. Entendo que não temos os hospitais necessários, precisamos investir mais em educação e tudo o mais. Fato.
Que os custos das obras padrão Fifa cresceram numa proporção extraordinária, o que também é fato, mas a realização da Copa no Brasil não foi decidida em outubro de 2007? Por que levamos todo este tempo para nos incomodar com esta decisão? Não vou colocar pano preto na janela. Também não vou gastar um dinheirão para ir aos jogos. Vou ver pela TV como se a Copa não fosse aqui. Mas quero a minha rotina de volta. Sem sustos ou medos.


    Te Contei, não ? - Professores param em Macaé


    Paralisação afeta 34% das escolas municipais. Alunos também sofrem sem merenda

    Nonato Viegas

    Rio - Em negociação há três meses, professores municipais de Macaé realizaram paralisação de 24 horas nesta quarta-feira. Segundo a Secretaria de Educação, 32 (34%) das 105 escolas foram afetadas parcialmente e quatro não tiveram aulas. Uma nova paralisação está marcada pelo sindicato da categoria, o Sepe, para dia 5, quando haverá assembleia para discutir uma possível greve.
    Os profissionais da Educação reivindicam 40% de reajuste salarial, diminuição da carga horária, um terço do tempo semanal de trabalho livre para planejamento de aula e eleição direta para a direção das escolas. Ao todo, são 17 pontos para negociação.
    Houve protesto em frente à prefeitura e o prefeito Dr. Aluízio (PV) recebeu os manifestantes. Uma comissão de representantes da categoria será formada para negociar. “Desta vez houve a promessa de diálogo. Desde fevereiro estamos tentando negociar, mas sequer há contraproposta”, reclamou Sabrina Luz, diretora do Sepe. Segundo ela, além dos “salários defasados pela inflação”, falta merenda para os alunos. “No máximo eles recebem um lanche, o que é absurdo numa cidade tão cheia de dinheiro”, opina.
    Professores protestaram em frente à prefeitura e foram recebidos pelo prefeito para iniciar negociações

    A dona de casa Tânia Gomes, mãe de um aluno da Escola Olga Benário Prestes e que participava da manifestação, reclama que o filho tem comido biscoito com refresco de guaraná. “Isso é alimento nutritivo para uma criança?”, criticou. Ao DIA , a secretária de Educação, Lúcia Tomaz, admitiu ter havido problemas com a empresa Bem Nutritiva, fornecedora da merenda escolar até o último sábado. “Por várias vezes, nós a notificamos por causa da alimentação fornecida, mas ela já não trabalha mais para a prefeitura”, disse, garantindo, porém, que desde ontem todas as escolas da rede recebem a merenda adequada.
    Procurados pela reportagem, responsáveis pela empresa não foram encontrados. No domingo, a Bem Nutritiva publicou anúncio em jornais da região informando o rompimento do contrato. A prefeitura prometeu que em até 90 dias uma nova licitação será feita. A rede conta com 4.200 professores, com piso de R$ 2.179 por 16 horas para Ensino Fundamental e Médio e R$ 1.800 para Ensino Infantil, por 22 horas e meia. O piso nacional para 40 horas, por lei federal, é de R$ 1.697,39.

    Te Contei, não ? - Polêmica da venda de sutiã para meninas vai parar na OEA


    Para entidades de direitos humanos consumo de lingerie com bojo estimula erotização precoce

    Hilka Telles

    Rio - A polêmica sobre sutiãs com enchimento para crianças com idades de 6 a 12 anos extrapolou as fronteiras do Brasil e aportou na Organização dos Estados Americanos (OEA), que deverá decidir em 90 dias se recomendará ou não ao governo brasileiro a proibição da venda do produto no país.
    A denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA foi encaminhada na sexta-feira passada pela Organização de Direitos Humanos Projeto Legal e pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos, que consideram os sutiãs uma forma de erotização das crianças, além de ser prejudicial à saúde delas (produz suor excessivo).
    Modelo adulto para criança: decisão sobre denúncia sai em 90 dias
    Foto:  Reprodução
    “Então, é o caso de proibir também o funk. Tem coisa mais erotizante para a criança do que o funk, em que meninas pequenas rebolam até o chão e dançam na boquinha da garrafa? Sem contar as letras com forte apelo sexual”, atacou o empresário Márcio Luiz Primo, dono da Lila Lingerie, em São Paulo, que produz cinco mil peças por mês para crianças.
    Em 2013, as duas entidades de direitos humanos pediram que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro instaurasse inquérito civil público para investigar o comércio do produto com o objetivo de combater o processo de erotização de crianças e adolescentes.
    Em dezembro, a promotora Ana Paula Ribeiro Rocha de Oliveira arquivou a representação, alegando que os sutiãs não detêm qualquer cunho erótico e sexual. “Pelo contrário, vislumbra-se até uma forma de proteção aos seios de forma a evitar a transparência e aparecimento dos mamilos, que muitas vezes ocorre nos sutiãs sem esse enchimento”, disse a promotora em seu despacho.
    Carlos Nicodemus, advogado da Organização de Direitos Humanos Projeto Legal, recorreu da decisão ao Conselho do Ministério Público, que no início deste mês referendou a sentença de arquivamento da promotora. “Esgotamos internamente os recursos no Brasil e, por isso, estamos recorrendo à OEA, com base no Estatuto e na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e do Adolescente”. Se a comissão da OEA acatar a denúncia e recomendar medidas administrativas e econômicas para coibir a comercialização dos sutiãs com enchimento, cabe ao governo brasileiro acatá-las.
    “Caso contrário, a Corte Interamericana de Direitos Humanos intercede e a recomendação passa a ter cunho de decisão e obrigatoriedade, já que o Brasil reconheceu os poderes do órgão judicial em 1999”, explicou Nicodemus.
    Sexualização infantil pode gerar frigidez
    Para a doutora em psicologia clínica e professora da PUC-RJ Teresa Negreiros, o tema da erotização precoce é antigo. “As meninas são impúberes e já assimilam o corpo adulto que não têm. Os tempos mudaram, mas não a ponto de se permitir prejuízos psicossociais na infância”, avalia.
    “As crianças vivem uma idade que não têm e uma idealização de imagem para a qual ainda não são amadurecidas. As famílias estão dominadas pelos desejos infantis, prejudiciais aos aspectos educacionais. Essa exacerbação da sexualidade pode levar a um processo de frigidez no futuro.

    Analisando Manuel Bandeira - Porquinho - da - índia



    Porquinho-da-índia.

    Quando eu tinha seis anos
    Ganhei um porquinho-da-índia.
    Que dor de coração eu tinha
    Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
    Levava ele pra sala
    Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,
    Ele não se importava:
    Queria era estar debaixo do fogão.
    Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
    - O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.



    Manuel Bandeira procurou o tema de sua infância para incluir neste seu poema. Em minha concepção, ele quis demonstrar o afeto por meio de desejos típicos de uma criança. De acordo com os meus conhecimentos e depois de muita leitura sobre interpretações deste poema, esse afeto descrito por Manuel faz relação com as limitações impostas pela vida. Percebe-se isso quando vê-se que nemtodas as suas vontades eram despertadas no Porquinho-da-índia também. E com isso, surgem sentimentos de frustação no eu-lírico do poema. Sabe-se que toda criança quer que aceitem e concordem com seus desejos, mas ao ler e interpretar este poema, percebesse-se que a vida não é bem assim.
          Em seu último verso, o autor associa sua infância com as situações amorosas da vida adulta vivenciadas.

    Bruna Leite / Turma 801 / 2014 



    Crônicas do Dia - Novas infâncias - Luiz Antonio Simas

    Romanos e gregos brincavam de rodar pião na antiguidade; chineses e japoneses adoravam a brincadeira

    O Dia


    Rio - Outro dia bati um papo com um garoto de nove anos, filho de um amigo, com fama de gênio da computação. O menino, ao mesmo tempo, conversava, ouvia música em um fone de ouvido e batia recorde em um jogo eletrônico. Intrigado com a performance, perguntei se ele sabia rodar pião de madeira. O moleque balançou a espantosa cabeleira à Buffalo Bill, deu um muxoxo e me olhou como se eu fosse um dinossauro. É claro que ele sequer concebia colocar um piãozinho em rotação.
    Tentei explicar ao garoto que rodar pião é coisa antiga. Arqueólogos encontraram, às margens do rio Eufrates, na Ásia, piões de argila datados de aproximadamente 4.000 anos antes de Cristo. Romanos e gregos brincavam de rodar pião na antiguidade; chineses e japoneses adoravam a brincadeira e foram os introdutores dela nas bandas do Ocidente. Os portugueses introduziram o jogo entre nós, desde os tempos das caravelas.
    Outra invenção velha pra dedéu, a pipa (os chineses empinaram os primeiros papagaios há 3.000 anos), anda mal das pernas entre a meninada, sobretudo aquela de classe média, criada entre paredes de apartamentos que mais parecem esconderijos da Segunda Guerra Mundial. Mande um garoto viciado em computador debicar uma pandorga com linha 10 de algodão e ele vai achar que você é mais antigo que múmia de faraó.
    Até o jogo de botão sofre com isso. Quando eu era moleque, fazia-se botão de tudo quanto é objeto: osso, tampa de relógio, plástico, galalite, vidrilha, coco e outros babados. Tive um amigo que surrupiou os botões do paletó do avô em pleno velório, ao perceber que o velho seria enterrado com botões excelentes para virar atacantes pequenos e habilidosos.

    O botão perdeu prestígio. A onda agora são os jogos eletrônicos que reproduzem partidas de futebol. Os garotos fazem tabelinha virtual em terceira dimensão. Seduzidos pela parafernália desses trecos, abandonam as coisas mais simples, que exigem mais talento e têm maior poder de sociabilização. 
    Incluo neste time das brincadeiras mais sumidas que o pássaro Dodô o pique-bandeira, o passa anel, a carniça, o lenço atrás, a cabra-cega, o garrafão, a bola de gude, o telefone feito com lata de leite condensado, o passaraio e muitas mais.

    Só me resta constatar que a minha concepção de infância já foi para a roça e perdeu a carroça. Em breve inventarão um aplicativo para se rodar pião pelo celular. Já é mais fácil, afinal, achar um pinguim no verão de Bangu que um adolescente que tenha dado o primeiro beijo em uma brincadeira de pera, uva, maçã ou salada mista.

    Analisando Manuel Bandeira - Meu Quintana




    MEU QUINTANA (por Manuel Bandeira)

    “Meu Quintana, os teus cantares
    Não são, Quintana, cantares:
    São, Quintana, quintanares.

    Quinta-essência de cantares…
    Insólitos, singulares…
    Cantares? Não! Quintanares!

    Quer livres, quer regulares,
    Abrem sempre os teus cantares
    Como flor de quintanares.

    São cantigas sem esgares.
    Onde as lágrimas são mares
    De amor, os teus quintanares.

    São feitos esses cantares
    De um tudo-nada: ao falares,
    Luzem estrelas luares.

    São para dizer em bares
    Como em mansões seculares
    Quintana, os teus quintanares.

    Sim, em bares, onde os pares
    Se beijam sem que repares
    Que são casais exemplares.

    E quer no pudor dos lares.
    Quer no horror dos lupanares.
    Cheiram sempre os teus cantares

    Ao ar dos melhores ares,
    Pois são simples, invulgares.
    Quintana, os teus quintanares.

    Por isso peço não pares,
    Quintana, nos teus cantares…
    Perdão! digo quintanares.”

        Manuel Bandeira escreveu esse poema em homenagem ao seu amigo Quintana, quando completou 60 anos. Foi lido na Academia Brasileira de Letras, em 25 de Agosto de 1966, por Augusto Meyer. 
    E indiretamente, Manuel Bandeira fez uma critica a Rejeição do nome de Mario Quintana na Academia Brasileira de Letras pela terceira vez.

    Guilherme Lima / Turma 801 / 2014


    Crônica do Dia - Como nascem os preconceitos

    As discriminações não nascem na natureza. Brotam nas nossas cabeças e contaminam as nossas almas e atitudes

    por Frei Betto 



    preconceito

    Em seu livro Doze Contos Peregrinos, o escritor colombiano Gabriel García Márquez conta a história de um cachorro que todos os dias era encontrado num cemitério de Barcelona junto ao túmulo de uma prostituta, Maria dos Prazeres. Com certeza se inspirou nas histórias reais de Bobby, um terrier de Edimburgo, Escócia, que durante 14 anos guardou o túmulo de seu dono. Ali ficou uma pequena escultura dele e uma lápide na qual gravaram: “Que sua lealdade e devoção sejam uma lição para todos nós”.
    Em Tóquio ergueram também uma estátua, na estação Shibuya, em homenagem a Hashiko, um cão da raça akita que todos os dias esperava seu dono retornar do trabalho. O homem morreu em 1925, e durante anos o cachorro foi aguardá-lo na mesma hora em que ele costumava regressar. Hashiko morreu em 1935 e a estação hoje tem seu nome – fizeram até um filme sobre esse episódio (Sempre a seu Lado, com Richard Gere).
    Cães e seres humanos são mamíferos, exigem cuidados permanentes, em especial na infância, na doença e na velhice. Manter vínculos de afeto é essencial à felicidade da espécie humana. A declaração de independência dos Estados Unidos teve a sabedoria de incluir o direito à felicidade. Pena que muitos estadunidenses considerem hoje a felicidade uma questão de posse. Daí a infelicidade geral da nação, traduzida no medo à liberdade, no espírito bélico, na indiferença para com a preservação ambiental e as regiões empobrecidas do mundo. É o chamado mito do macho, segundo o qual a natureza foi feita para ser explorada, a guerra é intrínseca à espécie humana e a liberdade individual é considerada acima do bem-estar da comunidade.
    O darwinismo social é uma ideologia cujos hipotéticos fundamentos já foram derrubados pela ciência, em especial a biologia e a antropologia. Essa ideologia foi introduzida na cultura ocidental pelo filósofo inglês Herbert Spencer, que no século 19 deslocou supostas leis da natureza indevidamente atribuídas a Charles Darwin para o mundo dos negócios. John Rockefeller chegou ao ponto de atribuir à riqueza um caráter religioso, ao afirmar que a acumulação de uma grande fortuna “nada mais é que o resultado de uma lei da natureza e de uma lei de Deus”.
    O conceito de seleção natural de ­Darwin deriva de sua leitura de Thomas Malthus, que em 1798, em ensaio sobre crescimento populacional, afirmava que se crescer a uma velocidade maior que seu estoque de alimentos a população será inevitavelmente reduzida pela fome. Spencer agarrou-se a essa ideia para concluir que na sociedade os mais aptos progridem à custa dos menos aptos e, portanto, a competição entre os seres humanos é positiva e natural.
    E os que são cegos às verdadeiras causas da desigualdade social alegam que a miséria decorre do excesso de pessoas no planeta. Ora, se somos 7 bilhões de seres humanos no planeta e, segundo a FAO, produzimos alimentos para 12 bilhões de bocas, como justificar a desnutrição de 1,3 bilhão de pessoas? Não há excesso de bocas, mas falta de justiça.
    Quanto mais são derrubadas barreiras de classe, mais os privilegiados e seus ideó­logos se empenham em buscar justificativas para provar que entre os humanos uns são naturalmente mais aptos do que outros. Outrora os nobres eram considerados espécie diferente, de sangue azul. Com a Revolução Industrial, gente comum se tornou rica, superando-os em fortuna. Foi preciso então criar uma nova ideologia: que o Estado e a Igreja cuidem dos pobres. E tão logo Estado e Igreja passaram a dar atenção aos pobres – sem deixar de cuidar dos ricos, que o digam o BNDES e a Cúria Romana –, os privilegiados puseram a boca no trombone, demonizando as políticas sociais, acusando-as de gastos excessivos.
    Preconceitos e discriminações não nascem na natureza. Brotam nas nossas cabeças e contaminam as nossas almas e atitudes. Vamos lutar contra eles. 

    Analisando Manuel Bandeira - Arte de amar



     Arte de amar:


    Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
    A alma é que estraga o amor.
    Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
    Não noutra alma.
    Só em Deus - ou fora do mundo.

    As almas são incomunicáveis.

    Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

    Porque os corpos se entendem, mas as almas não.




    O poema "Arte de Amar" foi feito por Manuel Bandeira e compõe a obra Belo Belo que foi publicada em 1948. Manuel Bandeira nasceu em 1886 e morreu em 1968; foi um grande poeta brasileiro, além de ser professor de Literatura, crítico literário e crítico de arte. 
    Inicialmente Bandeira gostava de música e poesia, em 1904 aos 18 anos Manuel descobriu que estava com tuberculose (A tuberculose é uma doença infecciosa causada por um micróbio chamado "bacilo de Koch". É uma doença contagiosa, quer dizer, que passa de uma pessoa para outra. É uma doença que atinge principalmente os pulmões, mas pode ocorrer em outras partes do nosso corpo, como nos gânglios, rins, ossos, intestinos e meninges), e a partir daí começou a se interessar por poesias. 
    Os temas mais comuns de sua obra são, entre outros, a paixão pela vida, a morte, o amor e o erotismo, a solidão, o cotidiano e a infância.
    No primeiro verso onde o sujeito lírico diz que: “Se queres sentir a felicidade de amar, esqueça a tua alma.” No verso seguinte fala que “a alma é que estraga o amor.” Nesse intervalo podemos falar que, baseando nestes versos, temos que renunciar as nossas vontades para sentirmos a alegria de amar. Os versos que estão depois falam sobre o amor carinhoso, compassivo; esse amor foi feito por Cristo, santos, entre outros. Com estes fatores citados anteriormente podemos dizer que a alma só encontra aceitação e deleite em Deus, e não em outra alma. Diz, também, que a satisfação da alma não pode ocorrer com outro ser terreno. O sétimo verso é baseado por um pequeno erotismo, pois os corpos só se entenderão com outros corpos. Isso demonstra que o eu lírico pensa que o amor não é algo tão extraordinário e que é apenas um sentimento erótico; ele chega até ser pessimista em relação o amor.
    Para finalizar é necessário frisar que “A arte de amar” é um poema reflexivo onde as rimas são praticamente inexistem. Ele se aproxima bastante de um texto em prosa, porém não perde seu modo poético através dos versos. É um poema escrito por Manuel Bandeira em seu melhor estilo.

    Ana Carolina Pereira Ribeiro / Turma 801 / 2014

    Artigo de Opinião - Liberdade Religiosa - João Batista Damasceno

    No presente momento, o Rio é tomado por discussão sobre liberdade e tolerância religiosa

    O Dia


    Rio - Jean Bodin, ao conceber a teoria do poder divino dos reis, pretendeu justificar a escolha da religião pelo soberano e evitar que as sociedades mergulhassem em guerra civil. Se o rei era escolhido por Deus, deveria saber qual a verdadeira religião. Tal concepção evitou guerras civis, mas possibilitou a matança daqueles que não adotaram a religião oficial. A tirania se apossou do discurso religioso e com ele justificou perseguições e extermínios, como ocorre sempre quando o Estado seleciona um grupo para justificar sua atuação punitiva. A fundação da cidade do Rio, em 1565, ocorreu neste contexto de guerras religiosas. Fugindo de perseguições religiosas, protestantes e calvinistas franceses ocuparam a Ilha de Villegagnon em 1555. Contra eles, combateram Mem de Sá e Estácio de Sá, que os exterminaram. A separação da igreja e Estado, princípio adotado por nós com o advento da República em 1889, tenta evitar a preferência estatal por qualquer religião.
    No presente momento, o Rio é tomado por discussão sobre liberdade e tolerância religiosa. Não apenas em decorrência de desrespeitos que se praticam contra crenças populares, mas em razão de fundamento não jurídico de decisão judicial.
    Ao analisar pedido de retirada de vídeo postado na internet, no qual uma religião se afirma em contraposição a outra de natureza popular, um juiz aproveitou para expor concepção pessoal do que seja religião e das características que um sistema de crenças deve conter para ser considerado tal. Disse o juiz que “ambas as manifestações religiosas não continham traços necessários de uma religião, a saber, um texto-base (Corão, Bíblia etc), ausência de estrutura hierárquica e ausência de um Deus a ser venerado”. Neste sentido, o xintoísmo, o hinduísmo e o budismo também não seriam, para ele, religiões. A fé precede o texto e o dispensa; no budismo não há deidade, no hinduísmo há pluralidade de deuses, e no xintoísmo não há hierarquia. A decisão que se refere aos cultos afro-brasileiros como “reuniões de macumba” confunde a prática religiosa com o instrumento de percussão nela utilizada, a exemplo dos bairros periféricos, onde popularmente se nominavam os pentecostais tradicionais de “os bíblias”.
    Diante da reação da sociedade, o juiz buscou se retratar, dizendo que “a crença no culto de tais religiões, daí por que faço a devida adequação argumentativa para registrar a percepção deste Juízo de se tratarem os cultos afro-brasileiros de religiões, eis que suas liturgias, deidade e texto-base são elementos que podem se cristalizar, de forma nem sempre homogênea”. Não houve retratação ou esclarecimento. Manteve-se a ideia de que uma religião há de ter texto-base e deidade. Em matéria de fé, nenhum juiz tem competência, e o Estado somente deve intervir para garantir a liberdade religiosa.

    João Batista Damasceno é doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito

    Analisando Manuel Bandeira - O Bicho




    O poema de Manuel Bandeira foi escrito nos anos 40 onde passou por uma avanço no capitalismo que era quem tinha dinheiro estava bem socialmente "tinha tudo" e quem vivia na margem social não tinha nada.
     Mesmo que esse texto tenha sido escrito a tanto tempo ainda temos essas tristezas nos dias de hoje. Em que você pode encontrar onde tem grande quantidade de lixo, esse "bicho" e mas reconhecido como mendigo pois não tem condições favoráveis e muitas das vezes não tem o que comer.
        O bicho foi escrito dois dia após do natal então demonstra que esse mendigo estava a procura de restos da comemoração, Isso demonstra a desigualdade social que temos em nosso país, e como a felicidade de um pode ser também a tristeza de outro.Felicidade porque em uma pessoa tem uma qualidade de vida boa e uma boa comida e tristeza porque tem seres humanos que vivem da sobra de outros.
         No poema podemos ver que essa pessoa está com muito fome pois vive com um bicho com isso parece que estão falando de um ser irracional, que não pensa, e ainda é considerado um ser a baixo do cão, do gato e do rato  pois com diz o poema ele  "Não examinava nem cheirava", "Engolia com voracidade", e esse três animais cheiram antes de comer.
            No ultimo verso podemos ver  que com a expressão"o bicho, meus deus, era um homem".É de surpresa pois não acreditam que um ser consegue viver em condições tão ruins, a ponto de pegar comida em aterro sanitario onde se pode comer lixo toxico, comida estragada pegando uma intoxicação alimentar e muitas outras doenças.
              O escritor Manuel Bandeira tem uma visão da sociedade em uma realidade imensa pois faz de um poema  o dia a dia de muitos anos.
         
         Juan /  Turma 801 / 2014



















    terça-feira, 20 de maio de 2014

    Te Contei não ? Modernismo e Tropicália

    Há 90 anos, o Brasil era sacudido pela Semana de Arte Moderna





    Movimento está na base da Tropicália, que completa 45 anos do lançamento de seu disco-manifesto.


    Criatividade, inquietude, inovação, experimentação e, sobretudo, liberdade. Substantivos que podem definir dois movimentos culturais que revolucionaram o país e estão intrinsecamente ligados: a Semana de Arte Moderna de 1922, que completa 90 anos neste mês, e o Tropicalismo, que celebra o seu 45º aniversário em 2012. A frase “O Tropicalismo é um neoantropofagismo”, dita por Caetano Veloso, um dos principais expoentes tropicalistas, é um resumo de como as duas coisas estavam conectadas.


    Te Contei, não ?- Tropicália

    Tropicalismo

    História do Tropicalismo, origem, influências, movimento e características, principais artistas tropicalistas, tropicália


    tropicalismo
    Capa do disco de Caetano Veloso de 1969: um dos marcos do Tropicalismo

    Novos olhares sobre Manuel Bandeira - O Bicho


    O Bicho

    “Vi ontem um bicho
    Na imundície do pátio
    Catando comida entre os detritos.
    Quando achava alguma coisa,
    Não examinava nem cheirava:
    Engolia com voracidade.
    O bicho não era um cão,
    Não era um gato,
    Não era um rato.
    O bicho, meu Deus, era um homem”.






    Esse poema tem autoria de um dos grandes poetas da literatura brasileira , Manuel Bandeira.
    Este notável poeta do modernismo brasileiro nasceu em Recife, Pernambuco, no ano de 1886.  Teve seu talento evidenciado desde cedo quando já se destacava nos estudos.

    domingo, 11 de maio de 2014

    Analisando Manuel Bandeira - Desencanto

    Desencanto
    Manuel Bandeira


    Eu faço versos como quem chora 
    De desalento... de desencanto... 
    Fecha o meu livro, se por agora 
    Não tens motivo nenhum de pranto.

    Meu verso é sangue. 
    Volúpia ardente... 
    Tristeza esparsa... remorso vão... 
    Dói-me nas veias. 
    Amargo e quente, 
    Cai, gota a gota, do coração.

    E nestes versos de angústia rouca 
    Assim dos lábios a vida corre, 
    Deixando um acre sabor na boca. 
    - Eu faço versos como quem morre.

    Crônica do Dia - Eu também estou por fora - Ruth de Aquino

    Salamanca é uma cidade universitária, na Espanha, toda de pedras douradas, pontuada por monumentos, palácios e praças. Na Universidade de Salamanca, fundada em 1218, Lula recebeu na semana passada o título de doutor honoris causa. O ex-presidente preferiu não falar nada sobre a polemica de Pasadena. Alegou "estar fora" do Brasil. Você está por dentro do escândalo? Imagino que acompanhe a novela nos mínimos detalhes, pela imprensa. Não? Cansou? Acha que não vai dar em nada?

    Crônica do Dia - Os pais não enxergam a obesidade infantil - Jairo Bouer

    As crianças brasileiras estão engordando, e muitos pais não percebem. Para piorar, o sedentarismo infantil, um dos maiores fatores de risco para obesidade, se torna um padrão habitual de comportamento em muitas famílias. Alguns trabalhos divulgados nas últimas semanas dão a dimensão do problema.

    Entrevista - Carl Hart - " O vício é efeito de um mundo doente, não a causa"


    Para o professor de neurociência da Universidade Columbia, usuários de drogas precisam de oportunidades e atenção, não de cadeia

    MARCELO MOURA

    CONSUMO RESPONSÁVEL Carl Hart, fotografado recentemente. Ele vem ao Brasil defender  a descriminalização das drogas (Foto: divulgação)

    Artigo de Opinião - A maldição da linguagem racial

    Demétrio Magnoli



    Carolus Linnaeus (Lineu), o pai fundador da taxonomia biológica, sugeriu uma divisão da espécie humana em quatro raças: europeanus (brancos), asiaticus (amarelos), americanus (vermelhos) e africanus (negros). Naturalmente, explicou Linnaeus, a raça europeia era formada por indivíduos inteligentes, inventivos e gentis, enquanto os asiáticos experimentavam inatas dificuldades de concentração, os nativos americanos deixavam-se dominar pela teimosia e pela irritação e os africanos dobravam-se à lassidão e à preguiça. Isso foi em meados do século XVIII, na antevéspera do surgimento do “racismo científico”. Como admitir que uma linguagem paralela seja utilizada por Ricardo Noblat, um jornalista culto e respeitado, na segunda década do século XXI?