Justificar as respostas dessas perguntas, sob o olhar de uma escola tradicional e do papel central do professor na sala de aula, não é difícil
Rio - Participo de um grupo de professores que vêm estudando o lugar do protagonismo juvenil nas escolas. Os encontros têm sido bem ricos, gerando boas reflexões, inquietações e questionamentos. Um deles é se toda essa ‘moda’ de protagonismo juvenil, de dar vez e voz aos estudantes, não passa de uma mera ação ‘politicamente correta’. Se esta ação não é promovida apenas para constar, embora esteja referendada nas legislações da área e configura-se como direito de crianças e adolescentes.
Não há dúvida: há inúmeros projetos pedagógicos — de escolas públicas e privadas — que estabelecem lá em seus princípios o objetivo maior de formar crianças e jovens solidários, responsáveis e participativos. Crianças e jovens críticos e autônomos. Em certa medida, todo o trabalho destas escolas é focado, sim, nesta direção. Porém, penso que tal orientação vale, muito mais e na maioria das vezes, da porta da escola para fora. Dentro, o papo é outro.
Posso estar sendo radical? Talvez, sim. Talvez, não. Por exemplo: os alunos de sua escola participam das decisões que estão ao alcance do ‘poder’ da escola? Os estudantes podem escolher o tipo de avaliação a que querem ser submetidos em cada disciplina? Eles podem optar por um ou outro tipo de conteúdo? Eles têm espaço para falar, opinar, reclamar e elogiar? De que forma as vozes das crianças e dos jovens são de fato incorporadas às práticas escolares?
Justificar as respostas dessas perguntas, sob o olhar de uma escola tradicional e do papel central do professor na sala de aula, não é difícil. Elas fazem parte, muitas vezes, inclusive, do senso comum. Difícil (difícil mesmo) é repensar a escola, o lugar do professor e do aluno, numa outra perspectiva, sem abrir mão de uma sistematização do ensino e da constituição de conhecimentos e valores. Confesso que enfrento essa dificuldade, ainda mais quando estou em diálogo com este grupo de professores. Não é um processo fácil desprender-se de um modelo ou de certezas pré-estabelecidas. Sempre temos um pré-julgamento de que nós adultos sabemos mais e melhor do que as crianças e os jovens e que, portanto, o diálogo, mesmo que aconteça, sempre é de certa forma unilateral. Apenas os escutamos e pronto.
Rever a prática docente é preciso. Vamos juntos?
Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Educação e Mídia
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