terça-feira, 20 de maio de 2014

Novos olhares sobre Manuel Bandeira - O Bicho


O Bicho

“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”.






Esse poema tem autoria de um dos grandes poetas da literatura brasileira , Manuel Bandeira.
Este notável poeta do modernismo brasileiro nasceu em Recife, Pernambuco, no ano de 1886.  Teve seu talento evidenciado desde cedo quando já se destacava nos estudos.


Durante o período em que cursava a Faculdade Politécnica em São Paulo, Bandeira precisou deixar os estudos para ir à Suíça na busca de tratamento para sua tuberculose. Após sua recuperação, ele retornou ao Brasil e publicou seu primeiro livro de versos, Cinza das Horas, no ano de 1917 porém, devido à influência simbolista, esta obra não teve grande destaque. 
Dois anos mais tarde este talentoso escritor agradou muito ao escrever Carnaval, onde já mostrava suas tendências modernistas. Posteriormente participou da Semana de Arte Moderna de 1922, descartando de vez o lirismo bem comportado. Passou a abordar temas com mais encanto, sendo que muitos deles tinham foco nas recordações de infância. 
Além de poeta, Manuel Bandeira exerceu também outras atividades: jornalista, redator de crônicas, tradutor, integrante da Academia Brasileira de Letras e também professor de História da Literatura no Colégio Pedro II e de Literatura Hispano-Americana na faculdade do Brasil, Rio de Janeiro. 
Este, foi um dos nomes mais importantes do modernismo no Brasil, faleceu no ano 1968.
A vida que Bandeira viveu está muito presente em sua obra, pelo fato de ter contraído tuberculose, alguns de seus poemas retratam a tristeza, o desgosto e a inconformidade com a morte.
    Contudo sua obra também contêm poemas e textos que abordam diversos assuntos: sentimentos, infância, família e até problemas sociais, que é o caso da obra retratada, O Bicho.
    Nesse poema, Bandeira retrata uma cena muito comum, que certamente, muitos já se depararam. O autor usa uma linguagem simples, de fácil compreensão.
     Essa obra foi escrita dois dias depois do natal, pelo fato de ser uma época festiva, a cidade estava em um estado ainda mais sujo. O “ bicho “ estava buscando o que comer entre os detritos, estava buscando o alimento que garantiria mais um dia de vida. 
       O homem é um ser inteligente, capaz de criar coisas e pensar no futuro, é um ser com dignidade, porém a personagem perdeu as características humanas, perdeu a dignidade.
    Estava lutando por comida assim como um animal faz. Manuel faz uma crítica focalizando o ponto que o homem se rebaixou, e com isso faz o leitor percebera falta de dignidade humana e a desigualdade social.
     Nesse poema, o autor coloca o homem em uma posição abaixo do rato, gato e do cão, o coloca em uma posição de repudia. A humidade está em uma situação trágica, em que é preciso buscar o que comer entre os restos, e quando o encontra nem examina, devora com rapidez, o que mostra que a fome é grande.
     A cada verso do poema, podemos ver que a dignidade humana se afundando cada vez mais. O homem pode atingir padrões altíssimos, porém também pode atingir padrões muito baixos. Ao mesmo tempo em que ele pode ganhar dinheiro, ter uma casa, uma família, também pode viver largado, sem um teto e viver sozinho no mundo. E na obra, Bandeira mostra o baixo nível de vida que muitas pessoas vivem.
     Nenhuma pessoa gosta de passar dificuldade, seja ela financeira ou sentimental. Quando surge algum problema, tentamos resolve-lo o mais rápido possível, buscando soluções de todas as formas. A personagem do texto tenta solucionar seu problema: a fome. Porém, ela só acha a solução para o seu problema no meio do lixo. Para conseguir ter o que comer, ela se infiltra no meio dos detritos, como um animal, perdendo assim a sua dignidade, perdendo as características humanas, virando um bicho.
    Manuel também quer mostrar em seu poema um problema que ronda o mundo inteiro: a desigualdade social.  Essa desigualdade social separa a humidade.
   Enquanto uns estão nadando em rios de dinheiro, comprando aviões, lanchas e carros, outros estão no meio das avenidas, sem ter o que comer e vestir, pedindo esmola e procurando o pão de cada dia no meio dos restos.
O ser humano possuindo por natureza a capacidade de amar e pensar deveria ajudar seu semelhante. Mas não é isso que acontece, a mente capitalista dos homens os impedem de ajudar. Eles só pensam em ter mais e mais, e nunca pensam em dividir, partilhar ou até mesmo doar.
   Nessa sociedade que vivemos o que importa é o ter e não o ser. As pessoas não conseguem ajudar as demais, se alguém não tem condições financeiras, é vista pelo povo como seres inferiores.
    A imagem que o poema retrata poderia ser facilmente mudada se o homem conseguisse parar de pensar só em si, e pensasse nas pessoas a sua volta.
   Bandeira faz críticas a tudo isso, ele critica o mundo em que vivemos, o lugar onde deveria reinar a paz, mas reina o egoísmo.
     Ele aborda com sua mais profunda lamentação, o baixo nível que o homem está vivendo e agindo como animais, lutando por uma coisa simples: comida.
   Manuel critica a posição humana, enquanto uns estão com o bolso cheio de dinheiro, podendo ajudar, outros estão com o bolso vazio precisando de ajuda. O homem deveria olhar mais para o lado.

   Com esses simples versos, nosso gênio modernista consegue transmitir tudo isso, ele transmite nossa verdadeira situação, ele mostra o mundo em que vivemos.  


Amanda Rainha Monteiro
Turma: 801

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