sábado, 31 de maio de 2014

Analisando Manuel Bandeira - Cartas de meu avô -

CARTAS DE MEU AVÔ



A tarde cai, por demais
Erma, úmida e silente...
A chuva, em gotas glaciais,
chora monotonamente.

E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.

Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos:
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio.

Cartas de antes do noivado...
Cartas de amor que começa,
Inquieto, maravilhado,
E sem saber o que peça.

Temendo a cada momento
Ofendê-la, desgostá-la,
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala...

A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também.

A paixão, medrosa dantes,
Cresceu, dominou-o todo.
E as confissões hesitantes
Mudaram logo de modo.

Depois o espinho do ciúme...
A dor... a visão da morte...
Mas, calmado o vento, o lume
Brilhou, mais puro e mais forte.

E eu bendigo, envergonhado,
Esse amor, avô do meu...
Do meu - fruto sem cuidado
Que ainda verde apodreceu.

O meu semblante está enxuto.
Mas a alma, em gotas mansas,
Chora abismada no luto
Das minhas desesperanças...

E a noite vem, por demais
Erma, úmida e silente...
A chuva em pingos glaciais,
Cai melancolicamente.

E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.

O poema foi publicado em 1917 no livro de estreia “Cinzas das horas” de Manuel Bandeira.
Ainda por transição, o autor em seus primeiros versos dá a forma de sentidos e não de uma forma material. Comove e enriquece quem está lendo a obra, trazendo uma apreciação da ideia central de uma forma meio que distante, pois já aconteceu no passado algo que não poderá mais alcançar, até mesmo por ter conhecido seus avós já velhinhos.
A saudade e a forma que é mostrado no poema dar entender que o neto, que lê a carta, se sente incapaz de amar tanto assim, mas ao mesmo tempo admira a capacidade e intensidade do amor dos seus avós por ele.
É curioso como ao ler, podemos observar as palavras que são colocadas de uma forma que mostra os dois sentidos, tanto abstratos como concretos, fazendo comparação do real com o imaginário.
Percebe-se que o poema também apresenta os acontecimentos diários com simplicidade, porém mostrando uma trajetória dos avós em seu mundo de sofrimento e dor, ainda com a melancolia que traz saudades de um mundo que não foi seu, que não vivenciou, mas se encontra prezo por grandes laços familiares, afetuoso e por laços sanguíneos.
O autor mostra através do poema o quanto vivemos em um mundo onde devemos sempre interpretar, imaginar, saber. Que a leitura nos leva a ter ideias, nos ensina a ser persistentes em um mar de leitura.

Ana Carolina Gomes dos Santos / Turma 802 / 2014

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