Desencanto
Manuel Bandeira
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue.
Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias.
Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
O
poema de Manuel Bandeira, "Desencanto", mostra uma enorme angústia e sofrimento, a cada verso a dor fica mais
explícita. Neste poema, Manuel, fala como ele produz seus versos e também o
tamanho da dor presa em seu coração, como por exemplo nesses trechos: "Eu faço versos como quem chora" e "Eu faço versos como quem morre".
Nota-se que o autor sofria por ter uma doença, que naquela época era
incurável, a tuberculose, e não sabia se poderia ser curado e quanto tempo
ainda teria de vida. Ele usava essa dor proveniente da doença, como inspiração
para seus poemas, que quase sempre eram sofridos, tristes e desiludidos.
O poema "Desencanto" representa a fuga do sofrimento do autor,
que através disto tentava se distanciar daquele momento sombrio da sua vida. No
trecho:
"E nestes versos de angustia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca."
É como se fosse uma criança que ao comer
um pequeno pedaço de doce, anseia por mais e mais. E nesse trecho deixa claro
exatamente isso, o autor anseia pela vida, como se ela tivesse passado rápido
demais, deixando um sabor de "amargo" na "boca do seu
sofrimento".
No decorrer da leitura de cada verso, podemos perceber a presença de
figuras de linguagem (conotações), como por exemplo a comparação em: "
Eu faço versos como quem chora" e em " Eu faço versos como quem morre", utilizando o
"como", como o elemento comparativo e a metáfora em: "Meu verso
é sangue".
Portanto, observamos que nesta obra, assim como em várias outras, ele
trata em específico a amargura de sua vida e suas enormes dores, que na
tentativa de procurar um refúgio para sua vida desiludida, as expressa em cada
estrofe de seu poema.
Por Amanda Salgado Sobral / 802 / 2014
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