domingo, 11 de maio de 2014

Analisando Manuel Bandeira - Desencanto

Desencanto
Manuel Bandeira


Eu faço versos como quem chora 
De desalento... de desencanto... 
Fecha o meu livro, se por agora 
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. 
Volúpia ardente... 
Tristeza esparsa... remorso vão... 
Dói-me nas veias. 
Amargo e quente, 
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca 
Assim dos lábios a vida corre, 
Deixando um acre sabor na boca. 
- Eu faço versos como quem morre.


  O poema de Manuel Bandeira, "Desencanto", mostra uma enorme  angústia e sofrimento, a cada verso a dor fica mais explícita. Neste poema, Manuel, fala como ele produz seus versos e também o tamanho da dor presa em seu coração, como por exemplo nesses trechos: "Eu faço versos como quem chora" e  "Eu faço versos como quem morre".
  Nota-se que o autor sofria por ter uma doença, que naquela época era incurável, a tuberculose, e não sabia se poderia ser curado e quanto tempo ainda teria de vida. Ele usava essa dor proveniente da doença, como inspiração para seus poemas, que quase sempre eram sofridos, tristes e desiludidos.
  O poema "Desencanto" representa a fuga do sofrimento do autor, que através disto tentava se distanciar daquele momento sombrio da sua vida. No trecho:
 "E nestes versos de angustia rouca
  Assim dos lábios a vida corre,
  Deixando um acre sabor na boca."
É como se fosse uma criança que ao comer um pequeno pedaço de doce, anseia por mais e mais. E nesse trecho deixa claro exatamente isso, o autor anseia pela vida, como se ela tivesse passado rápido demais, deixando um sabor de "amargo" na "boca do seu sofrimento".
  No decorrer da leitura de cada verso, podemos perceber a presença de figuras de linguagem (conotações), como por exemplo a comparação em: " Eu faço versos como quem chora" e em " Eu faço versos como quem morre", utilizando o "como", como o elemento comparativo e a metáfora em: "Meu verso é sangue".   
  Portanto, observamos que nesta obra, assim como em várias outras, ele trata em específico a amargura de sua vida e suas enormes dores, que na tentativa de procurar um refúgio para sua vida desiludida, as expressa em cada estrofe de seu poema.

Por Amanda Salgado Sobral / 802 / 2014

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