Rio - A imprensa mostrou recentemente que em alguns estados brasileiros o índice de falta de docentes nas salas de aulas em um mês passa dos 20%. Quem lida com gestão escolar sabe muito bem que ausências acima de 2% já criam problemas para a vida escolar. Mas esta é a questão: por que os professores faltam muito e até adoecem? Não me refiro aos descompromissados. Há casos gerados por doenças ocasionais e até crônicas.
O mundo mudou: a capacidade dos adolescentes e crianças para manter a atenção continuada despencou; universidades ainda preparam docentes para um mundo acadêmico antigo; há escolas sem estrutura para que docentes possam trabalhar; o desânimo é grande diante dos salários pagos e a falta de organização transforma a convivência, às vezes, em algo insuportável.
Diante desse quadro, um professor relapso é capaz de sobreviver por não se sentir comprometido, mas um professor responsável pode adoecer porque não vê resultado concreto em seu trabalho, percebe problemas que as autoridades não resolvem e não sabe que metodologia aplicar para que seus alunos aprendam.
É preciso que universidades, gestores e educadores percebam que o mundo em que vivemos é outro. A geração é marcadamente digital e eletrônica, e a escrita cursiva começa a dar lugar aos tablets. Nós precisamos nos modernizar, apesar de os gestores se esquecerem dessa necessidade. As crianças também estão doentes, chegando algumas a praticar o suicídio.
Portanto, se um professor responsável não quiser adoecer, precisa cuidar de sua formação continuada — apesar de os gestores estarem esquecidos quanto a esse aspecto —, modernizar-se sem reclamações e aceitar a mudança do mundo apesar de vivermos numa modernidade líquida. Em último caso, apesar de muitas lutas, se não conseguir reverter o quadro, é válido trocar de profissão, o que, na verdade, vale menos que a vida.
Pedagogo e escritor
Jornal O Dia
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