sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Crônica do Dia - O que é ... Puxa - saco ?

É aquele que se esforça até o limite só para fazer a felicidade do chefe


Vamos começar com o “bajulador”. Em latim, bajulus era a palavra que definia um “carregador”, o pobre empregado que transportava, nas costas, mercadorias dos armazéns para os navios. Ou vice - versa. Portanto, lá nos primórdios, um bajulador era apenas “um esforçado trabalhador”. No Porto de Santos, há cem anos, os carregadores recebiam por saca de café carregada e sempre havia quem se dispusesse a comprometer seriamente a coluna, levando várias sacas por viagem para melhorar o salário. Foi então que surgiu uma expressão mais popular para a nobre tarefa de bajular, “puxa saco”. “Mas no fim, como era de se esperar, o trabalhador acabava se contentando com as migalhas. Quem ficava no lucro, mesmo, era o patrão. E aí foi só uma questão de tempo para que “puxa saco” ganhasse a conotação pejorativa de “esforçar-se até o limite para fazer a felicidade do chefe”.
Evidentemente, expressão pode ser nova, mas a prática é antiga. Bajuladores, no mau sentido, existem desde a Idade da Pedra e, se o hábito persistiu através dos séculos, é porque trouxe benefícios aos seus praticantes. Nem que seja por uma questão de  preguiça: viver encostado em alguém poderoso dá menos trabalho do que se esforçar para ser um sucesso.
     Em nossos dias, em qualquer ambiente de trabalho, existe no mínimo um puxa -   saco. É inevitável. Mas existem também  bons funcionários, interessados apenas em progredir na carreira e que, por isso, parecem puxa-saco. A diferença básica entre o bom e o puxa é que o primeiro quer se destacar, e o segundo se proteger. Um tem coragem; o outro, medo. O que pode iludir os observadores é que o método usado por ambos é praticamente igual. Quando o chefe pede um voluntário para uma tarefa chata, os dois levantam as mãos. Um, porque sabe  que isso lhe trará mais visibilidade e experiência. O outro, porque sabe que, assim, ficará bem com o chefe. Ambos,  também, trabalham além da hora. Um, porque não quer deixar trabalho por fazer. E o outro porque tem pavor de deixar o chefe sozinho com um concorrente.
Por isso, o importante é não se deixar enganar pelas aparências. O funcionário bom  e esforçado deve ser apoiado e incentivado por seus colegas – até porque a chance de ele um dia vir ser promovido é grande – enquanto o bajulador deve ser posto para escanteio. Mas como saber quem é quem? O legítimo puxa-saco não tem um plano estratégico, só opera no curtíssimo prazo. Além disso, vive inventando motivos para ir conversar com o chefe. Mas a melhor maneira de identificar um puxa-saco ainda é prestando atenção no saco que está sendo puxado. O chefe do puxa-saco bem – sucedido adora um elogio vazio. E aprecia quem lhe faz favores que nada têm a ver com o trabalho em si. A conclusão é simples: o puxa-saco não é a causa, é a conseqüência. Por isso, se tem um puxa-saco aí por perto, esqueça - o.  E comece a tomar cuidado com o chefe. Como na relação entre o corruptor e o corrupto, o puxa-saco só sobrevive porque existe alguém pior que ele.

Max Gehringer

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