Te Contei, não ? - Aqui morou Machado de Assis

• O que aconteceu com as casas onde morou Machado de Assis? Durante muitos anos acreditou-se que nenhuma das muitas moradias do escritor havia chegado aos dias de hoje, principalmente por conta das reformas urbanas do Rio de Janeiro ao longo do último século. Além disso, ele sempre viveu de aluguel, não deixando um patrimônio próprio a ser preservado.
  Só agora a memória de Machado ganha um teto. Aliás, dois: um sobrado na Rua dos Andradas, onde viveu logo após se casar com Carolina, em 1869, e outro na Rua da Lapa, no qual moraram entre 1874 e 1875. A descoberta foi anunciada pela prefeitura em setembro. “Como a cidade passou por mudanças na numeração das ruas, consultamos registros da época e os comparamos com endereços que permaneceram até hoje. Assim chegamos à localização exata das casas”, explica Fernando Fernandes, da Sedrepahc, órgão responsável pelo patrimônio histórico do município.
  O Machado do Centro e da Lapa era recém-casado e suava o paletó para sustentar uma vida simples, acumulando um emprego no Diário Oficial e a função de redator em dois jornais. Os ganhos como escritor não passavam de um alento: os valores recebidos por obra mal cobriam alguns meses de aluguel. Aos poucos, a carreira no funcionalismo público deu-lhe certa estabilidade financeira, permitindo que vivesse com mais conforto. Da Lapa, mudou-se para a Zona Sul: Laranjeiras e Catete, antes de chegar ao bairro eternizado na imagem do “Bruxo”: o Cosme Velho, onde morou a partir de 1884.
  A pedido da Academia Brasileira de Letras (ABL), as casas foram tombadas “provisoriamente” por decreto municipal. Novos estudos devem efetivar a proteção legal, o que, no entanto, não garante qualquer projeto de restauração dos sobrados de Machado. Com o atual prefeito em fim de mandato, a prefeitura não se compromete: “São imóveis particulares, então não temos tanta autonomia para agir. Além disso, não teríamos como custear um projeto desses”, alega Fernandes.
  A casa da Rua dos Andradas é hoje um estacionamento. Da original, restou a fachada. Na da Rua da Lapa, hoje funciona uma financeira. O ilustre ex-morador, nos tempos de aperto, não pensaria em ironia maior.

Revista de Historia da Biblioteca Nacional