segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Te Contei, não ? - 1968 - o ano de todos os gritos

1968, O ANO DE TODOS OS GRITOS

O ano de 1968 provavelmente foi um dos mais convulsivos do século XX. É tido como o ano que modificou os costumes e abriu as portas para os comportamentos sociais que hoje fazem parte da sociedade ocidental. Foi o ano de todos os sonhos e de todos os pesadelos. Ano dos festivais e manifestações estudantis e políticas no Brasil, que se encerraria com o fechamento do Congresso e a promulgação do Ato Institucional número 5 – o AI-5.
Nas contestações que abalaram o mundo, 1968 trazia uma expectativa de liberação sexual, política e filosófica. O mundo mudava, a família perdia valores antigos e ansiava por outros. A repressão e as limitações impostas pela Guerra Fria, fazia daquela geração genial prisioneira do sistema controlado por duas ideologias, deixando-a estagnada diante de um mundo tecnológico e social que não parava de evoluir. A mulher conquistava um novo espaço diante da família e da sociedade, rompia com a filosofia da concepção e mostrava que tinha uma sexualidade a ser explorada, da qual tinha o direito de sentir prazer. Esta geração de mulheres queimou soutiens em praça pública, aderiu à pílula anticoncepcional, enfrentaram o papa Paulo VI e à igreja, que naquele ano publicou a encíclica Humanae Vitae, condenando o uso do anticoncepcional.
Mulheres, homens, políticos, estudantes, artistas, o mundo saiu às ruas no ano de 1968, protestou, enfrentou tanques de guerra, polícia de choque e a violência dos costumes, ousaram confrontar o sistema. Reprimidos ou bem sucedidos, o mundo jamais foi o mesmo depois do infindável 1968. 40 anos passados, o mundo ainda questiona os resquícios de um dos mais longos anos da história.
O Mundo em 19681968 começou com a ascensão de Alexandre Dubcek , como secretário-geral do Partido Comunista da Tchecoslováquia, país do leste europeu, que fazia parte do chamado bloco da Cortina de Ferro, liderada pela política da ex-União Soviética. A tentativa reformista de membros do partido, de desenvolver um "socialismo com face humana”, abrindo as portas do país para o mundo, dando liberdade à população de ir e de vir, sem abandonar o regime, incomodaria os governantes dos países vizinhos. Esta humanização do regime, aconteceria de janeiro a agosto, entraria para a história como a “Primavera de Praga”. Terminou com a invasão da Tchecoslováquia por 600 mil soldados e 7 mil tanques de guerra, enviados por Moscou e por todos os países do bloco do Pacto de Varsóvia, todos em defesa da ditadura do Kremlin, construída dentro do marxismo-leninismo. Outra primavera como esta só aconteceria em 1989, quando o muro de Berlim foi derrubado, e as raízes do socialismo de face humana recuperados.
Nos Estados Unidos, a televisão começou a mostrar a face cruel da Guerra do Vietnã. Os pais
começaram a questionar o porquê de ter que enviar os seus filhos para os campos de batalha. Os jovens passaram a contestar a guerra e as suas conseqüências. No Vietnã, palco dos conflitos sangrentos, os Vietcongs atacaram a embaixada americana em Saigon, ato que desencadearia a primeira batalha nesta cidade, onde as tropas americanas matariam milhares de civis.
No meio aos violentos protestos contra a guerra, os americanos perdem dois dos seus grandes líderes, Martin Luther King, assassinado em 4 de abril, na cidade de Menphis e, Robert Kennedy, candidato à presidência da república, morto a tiros no Hotel Ambassador, em Los Angeles, na Califórnia. Aquele ano jamais sairia do imaginário americano, que terminaria com a promessa do governo de enviar mais 24.000 soldados para a Guerra do Vietnã e com a eleição de Richard Nixon como presidente.
É neste conturbado ano que floresce na França, o Maio de 1968. Estudantes em busca de ideais políticos e da quebra dos costumes sociais com os seus tabus comportamentais, fazem barricadas pelas ruas de Paris, desencadeando uma série de greves que atingiria também os trabalhadores da França do general De Gaulle. O país inteiro apóia os estudantes na Noite das Barricadas. Violentos confrontos entre estudantes e a polícia fazem com que a Sorbonne seja fechada pelas autoridades. “É proibido proibir”. “A imaginação no poder”. “Seja realista, peça o impossível”. Palavras de ordem que caracterizaram o movimento, que assim como começou, esvaiu-se, mas deixou para o mundo um questionamento da política tradicional, dos costumes e do autoritarismo. A utopia do Maio de 1968 introduziria na cultura ocidental alguns valores como pacifismo, feminismo, ecologia, além de popularizar a contracultura, a música de protesto, o som pop e as drogas.
Em Portugal, o ditador Antonio de Oliveira Salazar, foi afastado do governo, onde esteve no poder desde 1928, após ser vitimado por um hematoma craniano, que lhe causou danos cerebrais graves, depois de uma queda em 7 de Setembro. Marcelo Caetano torna-se primeiro ministro, será o último presidente do conselho do Estado Novo português, responsável por uma ditadura de mais de quatro décadas.
Ainda nos tumultos do ano, pela primeira vez um país da América Latina recebe os Jogos Olímpicos, realizados na Cidade do México. Poucos dias antes de receber as olimpíadas, o exército mexicano mata 48 pessoas durante uma manifestação estudantil, que ficou conhecido como o Massacre de Tlateloco.

O Ano Que Terminaria Mais Cedo no Brasil

No Brasil, 1968 é o ano dos festivais da canção, do manifesto da Tropicália de Caetano Veloso,
Gilberto Gil, Torquato Neto e Gal Costa. Ano da explosão das cores e da estética nacional. No meio das convulsões políticas e culturais, a bela brasileira Martha Vasconcellos é eleita Miss Universo.
Em março, o estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, então com 16 anos, é assassinado pela polícia no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro. O estudante almoçava no restaurante quando foi mortalmente baleado por uma polícia repressiva. Edson não era líder estudantil e não participava de confrontos armados, conforme propagara a polícia, a justificar o crime diante da nação indignada. A resposta dos brasileiros viria em junho, que incentivados pelo Maio de 1968, realizaram na Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil. O ato é o maior que se realizou contra a ditadura militar, teve a participação de intelectuais, artistas e ativistas políticos. Era um protesto contra a repressão aos estudantes. Pedia pelo fim da ditadura e pela volta da democracia ao país. A passeata foi dedicada à memória do estudante Edson Luís.
Em São Paulo, a rua Maria Antônia, onde se situavam a Universidade Mackenzie e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, foi palco do conflito que ficou conhecido como a "Batalha da Maria Antônia”, ocorrido em outubro. No Mackenzie, os estudantes eram tidos como conservadores de direita, e abrigavam o CCC (Comando de Caça aos Comunistas), enquanto que na
Faculdade de Filosofia da USP, a esquerda era absoluta. Do violento confronto entre os estudantes, resultou a morte de um deles, vítima de bala perdida.
O outubro de 1968 foi negro para o movimento estudantil, que sofreria mais um golpe, o XXX Congresso da UNE, realizado clandestinamente num sitio, em Ibiúna, São Paulo, terminou com a prisão de cerca de mil estudantes que dele participavam. Sem oferecer resistência, todas os líderes do movimento estudantil foram presos: José Dirceu, presidente da UEE, Luís Travassos, presidente da UNE, Vladimir Palmeira, presidente da União Metropolitana de Estudantes, e Antonio Guilherme Ribeiro Ribas, presidente da União Paulista de Estudantes Secundários, entre outros. Um golpe violento na última resistência estudantil à ditadura militar.
O ano de 1968 encerraria mais cedo para as tênues esperanças de uma volta à democracia ao Brasil, no dia 13 de dezembro, o presidente general Artur da Costa e Silva decretou o AI-5 – Ato Institucional número 5, iniciando o período mais obscuro, fechado e violento da ditadura militar no país. O ato foi motivado pela recusa do Congresso Nacional em condenar o deputado Márcio Moreira Alves, pelo discurso que fizera em setembro, afrontando a ditadura.
Conturbado, violento, coberto de esperanças dúbias, de ideologias acirradas, ironicamente o ano de 1968 foi decretado pelas Nações Unidas como o Ano Internacional dos Direitos Humanos.


 
 
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