quinta-feira, 31 de julho de 2014

Crônica do Dia - Gente é descartável ? - Walcyr Carrasco

Convidado a jantar na casa de uma amiga, estranhei a falta de sua funcionária de muitos anos, sempre responsável por delícias gastronômicas. Estranhei. Perguntei pela cozinheira, sempre sorridente, que eu já cumprimentava com beijinho.

– Ah, demiti.

– Aconteceu alguma coisa?

– Ela passou do prazo de validade. Chamei outra.

A resposta me arrepiou. Cada vez ouço mais que alguém “passou do prazo de validade”. A expressão se inseriu no vocabulário. Como todos os elementos da linguagem, seu significado é maior que as palavras, simplesmente. Empresas costumam ser severas quanto ao que consideram como prazo de validade de um funcionário. Em geral, no máximo aos 60 anos, quando não aos 40, o executivo vai para a rua. Mesmo os de alto cargo. O argumento é sempre o mesmo, como ouvi certa vez de uma diretora de RH.

Crônicas do Dia - Nossa guerra particular - Ruth de Aquino

Um tiro na cabeça, à queima-roupa, na hora do almoço, sob um sol deslumbrante de inverno, num dos bairros mais nobres e bucólicos da Zona Sul carioca, a Gávea, chocou e enlutou a elite do Rio de Janeiro. Sepultou-se ali a ilusória sensação de segurança criada pelo policiamento ostensivo na Copa, com soldados camuflados a cada esquina.

Maria Cristina Bittencourt Mascarenhas, 66 anos, conhecida por todos como Tintim, seu apelido de infância, acabara de sacar R$ 13 mil no banco para pagar a seus funcionários. Foi vítima de mais uma “saidinha de banco”, expressão quase terna que não traduz a covardia do crime, uma praga no Brasil. Tintim era sócia e anfitriã de um bistrô tradicional e simpático, o Guimas, fundado por duas famílias em 1981, que mistura as cozinhas francesa, portuguesa e brasileira. Ali sempre se comeu bem sobre toalhas quadriculadas, cobertas por papéis brancos descartáveis, onde crianças e adultos desenham, com lápis de cera coloridos, algo para alimentar o papo.

Dois homens numa moto a atacaram no curto caminho para o restaurante, um com capacete, o outro sem. Um chegou por trás, passou o braço pelo pescoço dela e gritou “passa a bolsa”. Tintim, mãe de três filhas e avó, querida na rua pelo sorriso e pela gentileza, segurou a bolsa por instinto e foi executada, com uma bala na têmpora. O assassino pegou o dinheiro, fugiu com o comparsa na moto. A vítima ficou ali, morta na poça de sangue, junto a botecos onde muita gente comia e bebia no ambiente festivo que tanto encantou os gringos. Uma testemunha disse que tudo durou um minuto.

Tintim parara para experimentar uma saia na barraca de um ambulante, pois assim é a comunidade da Gávea, um bairro chique alternativo, muito verde, com comércio misto e casas ainda antigas, mais procurado por quem busca tranquilidade e qualidade de vida, não ostentação. O bairro abriga a PUC, universidade católica, o Jockey Club, escolas para pobres e ricos, cursos de balé e ioga. É caminho para a favela da Rocinha.

Se fosse apenas uma tragédia isolada e pontual da boemia carioca, o assassinato de Tintim não estaria aqui nesta coluna. A violência de bandidos ou da polícia invade todos os grandes centros urbanos e não escolhe classes sociais. Está associada a impunidade, corrupção, abuso de poder, disputa por pontos de droga e desrespeito à vida. Aterroriza os pacíficos e honestos.

Pais e mães não conseguem criar filhos sem paranoia.  Há quem apele a estratégias de guerrilha. No dia em que Tintim foi assassinada, ouvi uma jovem contar seu método para escapar ilesa de um eventual assalto no trânsito: “Minha bolsa que fica à vista é toda ‘fake’. É uma Vuitton falsificada, meus documentos são falsos, com nomes e endereços falsos, chaves falsas, celular que não funciona e mais uns R$ 50 e uns US$ 10 para o assaltante achar que se deu bem”. A bolsa verdadeira fica escondida. É uma história real. E faz todo sentido. Um sentido escabroso.

O que vemos não são simples assaltantes armados. São homicidas que saem para roubar. Poderiam ter dado um soco em Tintim, poderiam tê-la desacordado. Mas não. Deram um tiro para matar. Como fazem ao roubar um celular, uma bicicleta ou um carro – e a vítima, por medo ou susto, atrapalha por segundos a ação.

O “latrocínio” (assalto seguido de morte) é coisa nossa, quase não acontece em países civilizados. Cerca de 60 mil brasileiros são mortos por ano no país. Milhares de homicídios não são sequer registrados, por falta de confiança na investigação, por medo de vingança de gangues ou da PM. Nas estatísticas disponíveis, 164 pessoas são mortas por dia no Brasil. É como se um avião da Malaysia Airlines, com 298 pessoas a bordo, fosse abatido a cada 43 horas, por um míssil chamado subdesenvolvimento. Mata-se no Brasil, em 38 horas, o equivalente aos 260 palestinos mortos em 11 dias de conflito com Israel (até a última sexta-feira). Se o que vivemos não é uma guerra civil, o que será? Hecatombe social?

Somos reféns, podemos não chegar vivos em casa e sabemos o risco de perder alguém querido. Por isso, nos tornamos piores, mais agressivos ou medrosos. Há uma tendência a culpar as vítimas. “Como assim sacar R$ 13 mil do banco? Nem de dia dá para fazer isso.” “Como assim segurar a bolsa? Todo mundo sabe que não dá para reagir, entrega tudo logo.” É horrível. É como culpar pelo estupro a moça que ostentou as coxas com uma saia curta.

Houve um tempo, no Brasil, em que o verbo “reagir” significava outra coisa. Gritar por socorro. Tentar bater no assaltante ou ameaçar o bandido. Hoje, se o rapaz fugir de bicicleta, se a moça esconder rápido o celular na mochila, se o homem acelerar o carro, se a mulher segurar a bolsa, pronto. “Reagiram”, todos. Perderam a vida. Isso é barbárie, uma sociedade sem educação, sem humanidade, com total desprezo a leis que existem para não ser cumpridas.

sábado, 26 de julho de 2014

Tá na Hora do Poeta - Minha doce mansão

Minha doce mansão 



Aqui estou eu
me enchendo de emoção
Na minha grande e confortável
Doce mansão.

Todos os dias quando a admiro
Eu me encho de emoção
Já os construtores
Ficam com tristeza no coração.

Muitos são pobres,
Vivem sempre a trabalhar,
Mas não têm dinheiro para se sustentar.

Perante seus esforços suados
Eu estava a relaxar
E com nada a me importar.

Rafael Negreiros / 
Turma 901 / 2014 

Te Contei,n ão ? - Seca ameaça Paraíba do Sul

Alvo recente de discórdia entre dois estados, depois que São Paulo anunciou a intenção de captar água de seus reservatórios, o Rio Paraíba do Sul enfrenta neste inverno a pior seca dos últimos 80 anos.



terça-feira, 22 de julho de 2014

Te Contei, não ? - Um tributo à criatividade

RIO — Se a pessoa não estiver com muita pressa ou com os olhos grudados no celular, é quase impossível andar pelo Centro e não esbarrar num chafariz ou na estátua de alguém marcante na história do país. Essa característica reflete, em parte, o papel do Rio como palco de inúmeros acontecimentos culturais e políticos do Brasil. Mas essa marca nacional não explica tudo. A capital poderia pleitear também o status de cidade com o maior número de monumentos dedicados à memória das artes — muitos deles, ao alcance das mãos.

Te Contei, não ? - Segredos do Gabinete

A digitalização de obras do século XIX pertencentes ao acervo de uma das mais importantes bibliotecas do Rio resgata preciosidades esquecidas do passado

por Rafael Teixeira e Thayz Guimarães | 23 de Julho de 2014
Alexandre Macieira/Riotur



Cronista prolífico de seu tempo, o escritor português Camilo Castelo Branco (1825-1890), autor de Amor de Perdição, dividiu-se entre os livros e o jornalismo. Em 1854, quase uma década antes de escrever sua obra-prima, aventurou-se na criação de um periódico batizado de O Bico de Gaz (assim mesmo, com z, conforme a grafia da época). Já na edição de lançamento, não escondia a ambição e destacava na primeira página que a missão do jornal era "acender o fósforo das luzes nas plagas escuras da ignorância". Apesar das altas aspirações, o folhetim de oito páginas teve vida efêmera e durou apenas um número, do qual restaram três exemplares — um na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, e dois no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio. Em ambas as instituições, a obra integra um conjunto de documentos raros, consultado por um número reduzidíssimo de pesquisadores. Ironicamente, O Bico de Gaz, de tão antigo e precioso, acabou esquecido. Agora, graças a um esforço empreendido por pesquisadores cariocas, escapa dessa espécie de maldição. A partir de setembro, poderá ser lido por qualquer pessoa conectada à internet. A obra é parte de uma coleção de 45 periódicos do século XIX com um total de 32 000 páginas disponibilizadas na rede. "Nosso acervo finalmente está ao alcance de interessados de todo o mundo", comemora a especialista em literatura portuguesa Gilda Santos, coordenadora da iniciativa.


Crônica do Dia - Cartomantes - Manoel Carlos






Te Contei, não ? - Pronomes Relativos

Pronomes Relativos

            São pronomes relativos aqueles que representam nomes já mencionados anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem as orações subordinadas adjetivas.

Por exemplo:

O racismo é um sistema que afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros.

O pronome relativo "que" refere-se à palavra "sistema" e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra "sistema" é antecedente do pronome relativo que.

O antecedente do pronome relativo pode ser o pronome demonstrativo o, a, os, as.

Por exemplo:  Não sei o que você está querendo dizer.

Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem expresso.

Por exemplo:  Quem casa, quer casa.

Observe o quadro abaixo:


Quadro dos Pronomes Relativos
Variáveis
Invariáveis
Masculino
Feminino
o qual
cujo
quanto
os quais
cujos
quantos
a qual
cuja
quanta
as quais
cujas
quantas
quem
que
onde

Note que:

a) O pronome que é o relativo de mais largo emprego, sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser substituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu antecedente for um substantivo.

Por exemplo:
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual)
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a qual)
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os quais)
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as quais)

b) O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente pronomes relativos: por isso, são utilizados didaticamente para verificar se palavras como "que", "quem", "onde" (que podem ter várias classificações) são pronomes relativos. Todos eles são usados com referência à pessoa ou coisa por motivo de clareza ou depois de determinadas preposições:

Por exemplo:
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o qual me deixou encantado. (O uso de que  neste caso geraria ambiguidade.)
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas dúvidas? (Não se poderia usar que depois de sobre.)

c) O relativo "que" às vezes equivale a o que, coisa que, e se refere a uma oração.

Por exemplo:              
Não chegou a ser padre, mas deixou de ser poeta, que era a sua vocação natural.

Os pronomes relativos, diferentemente das conjunções, podem exercer funções sintáticas na oração em que estão. Isto é, podem ser sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo, complemento nominal, adjunto adnominal, adjunto adverbial e agente da passiva. Vejamos:

1. Sujeito
Eis os atletas que defenderão nossa escola.

Para percebermos bem a função de sujeito, podemos substituir o pronome que, nessa frase , pelo antecedente. Observe:

                                                           Oração 1: Eis os atletas.
                                                           Oração 2 : Os atletas defenderão nossa escola.
                                                                           
                                                                                                Sujeito

Vemos que, na oração 2, o pronome que substitui uma palavra com função de sujeito, por isso, dizemos que, nessa oração, o pronome relativo que é o sujeito de "defenderão".

2. Objeto Direto
Trouxe o livro que você pediu.

Substituindo o pronome que pelo antecedente, temos:

                                                           Trouxe o livro.
                                                                              Você pediu o livro
                                                                                  
                                                                                                 Objeto Direto
3. Objeto Indireto
Este é o documento de que preciso.

Substituindo o pronome que pelo antecedente, temos:

Este é o documento.
Preciso do documento.
                                                                                
                                                                                                            Objeto Indireto
4. Predicativo
Você é o herói que muitos querem ser.

Substituindo o pronome que pelo antecedente, temos:

Você é o herói.
Muitos querem ser o herói.
                                                                                        
                                                                                                                  Predicativo do Sujeito

5. Complemento Nominal

Consegui as informações de que ele tem necessidade.

Substituindo o pronome que pelo antecedente, temos:

Consegui as informações.
Ele tem necessidade das informações.
                                                                                         
                                                                         Complemento Nominal

6. Adjunto Adverbial

A festa foi feita na escola onde estudo.

Substituindo o pronome onde pelo antecedente, temos:

A festa foi feita na escola.
Estudo na escola
                                                                                 
                                                                       Adjunto adverbial de lugar.

7. Adjunto Adnominal

Jorge Amado é um autor cujos livros são muito famosos.

Substituindo o pronome cujos pelo antecedente, temos:

Jorge Amado é um autor.
Os livros desse autor são muito famosos.
                                                                    
                                                       Adjunto Adnominal

O pronome relativo cujo ( cujos, cuja, cujas ) exerce sempre a função de adjunto adnominal, concordando em gênero e número com o termo a que se refere. Esse pronome tem valor possessivo e equivale a de que, de quem, do qual ( dos quais,da qual, das quais).

8. Agente da Passiva

Este é o diretor por quem fui contratado.

Substituindo o pronome quem pelo antecedente, temos:

Este é o diretor.
Fui contratado por este diretor.
                                                                                     
                                                                                  Agente da Passiva

sábado, 19 de julho de 2014

Entrevista - Mia Couto - o rico contador de histórias


Bruno Garcia, Cristiane Nascimento e Joice Santos


“Quem não sabe contar uma história é uma pessoa pobre”. Foi esta a lição que António Emílio Leite Couto, ou melhor, Mia Couto aprendeu com Samora Machel, o grande herói da independência de Moçambique. Em todos os seus mais de 20 livros, entre poesias, crônicas, contos e romance, o escritor parece revisitar distantes regiões do seu país de onde tira personagens, hábitos e fábulas fantásticas.

Te Contei, não ? - O fim da ingenuidade

O fim da ingenuidade

Fichas do cárcere são exemplos extremos de como os filhos do “ventre livre” foram abandonados à própria sorte pela ausência de políticas públicas

Marilene Rosa Nogueira da Silva

Te Contei, não ? - Racismo é o principal motivo pela morte de 53 índios

Pelo menos 53 índios foram assassinados durante o ano de 2013 em consequência de conflitos, diretos ou indiretos, pela disputa por terras.
O dado faz parte do relatório sobre a violência contra os povos indígenas brasileiros que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgou hoje (17), em Brasília. Dos casos registrados em todo o país, 33 ocorrências (66%) foram registradas em Mato Grosso do Sul. Há anos, o estado figura como o mais violento do país no relatório da organização indigenista, vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).


O total de índios assassinados em 2013 é menor que os 60 casos identificados pelo Cimi em 2012. No entanto, como em anos anteriores, a organização alerta que os números podem estar subestimados, porque são colhidos, a partir várias fontes, como relatos e denúncias dos próprios povos e organizações indígenas; missionários do conselho; reportagens de jornais, sites e agências de notícias; órgãos públicos que prestam assistência; Ministério Público, além de relatórios e boletins policiais.
No capítulo violência contra a pessoa, o Cimi identificou 13 homicídios culposos (não intencional) em 2013, contra 12 casos em 2012; 328 tentativas de assassinato, contra 1.024, além de 14 casos em que índios foram ameaçados de morte. O elevado número de tentativas de morte se deve ao fato de que, em algumas ocorrências, a ameaça foi dirigida a toda a comunidade. O relatório de 2013 também registra dez casos de violência sexual praticada contra indígenas.
O relatório também aponta que 8.014 dos 896.917 índios brasileiros (dado do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2010) sofreram algum tipo de violência decorrente da omissão do Poder Público. Os casos são de falta de assistência escolar, de saúde, de políticas públicas que impeçam a disseminação de bebidas alcoólicas e outras drogas dentro da comunidade e até tentativas de suicídio. O resultado nesse quesito é inferior aos 106.801 casos registrados em 2012.
Segundo o relatório, os índios continuam sendo alvo de racismo e preconceito. Além disso, crianças indígenas continuam morrendo por doenças como pneumonia, diarreia e gastroenterite, insuficiência respiratória, infecções provocadas por bactérias, entre outros males. O Cimi destaca as dificuldades para se chegar aos números reais de casos. Enquanto o relatório contabiliza apenas 26 casos de mortalidade infantil, o texto de apresentação do documento cita dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e do Ministério da Saúde, dando conta de que 693 crianças até 5 anos morreram entre janeiro e novembro de 2013.
O presidente do Cimi e bispo do Xingu, Erwin Kräutler, acusa o Poder Público de agir com descaso em relação à política indigenista e à vida dos povos indígenas. Na avaliação da organização, a demora nos procedimentos demarcatórios, pelo governo federal, acirram conflitos em diversas unidades da Federação, intensificando as violências e ameaças de morte contra índios de todo o país e suas lideranças.
Kräutler afirma que o governo federal deve ser responsabilizado pela trágica realidade vivida pelos povos indígenas, lembrando que, pela Constituição Federal, o Estado brasileiro deveria ter identificado, demarcado e retirado os não índios de todos os territórios tradicionais indígenas até 1993.
Segundo o Cimi, das 1.047 áreas reivindicadas por povos indígenas, apenas 38% estão regularizadas. Cerca de 30% delas estão em processo de regularização e em 32% dos casos, o procedimento de demarcação foi iniciado. Das terras já regularizadas, 98,75% são na Amazônia Legal. Enquanto isso, 554.081 dos 896.917 indígenas vivem em regiões do país, que têm apenas 1,25% da extensão das terras indígenas regularizadas.
O Cimi afirma que ao menos 30 processos demarcatórios relativos a áreas já identificadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) não têm pendência administrativa ou judicial que impeçam a homologação da reserva, mas não foram concluídos. Desses 30 processos, 12 dependem da publicação, pelo Ministério da Justiça, de Portaria Declaratória, conforme a entidade. Dezessete áreas aguardam a homologação presidencial e cinco processos dependem da aprovação da presidenta da Funai, Maria Augusta Assirati.
O governo de Mato Grosso do Sul informou à Agência Brasil que ainda não tem conhecimento dos dados citados no relatório. Disse ainda que “a segurança das aldeias e a proteção aos indígenas são responsabilidades federais” e que a questão fundiária é “competência exclusiva da União”.

Fonte: TopMídia News

Te Contei, não ? - Sem Glúten

Você pode não perceber, mas ele está em todo lugar - pães, bolos, macarrão, bolachas, coxinhas, cerveja, uísque... Pudera: o glúten é a principal proteína dos grãos de trigo, aveia, centeio, cevada e malte. No final de 2008, ele ganhou fama de vilão. Tudo por causa da maior divulgação dos riscos da doença celíaca (veja boxe), inclusive em programas de televisão. Afinal, se o glúten faz mal para um grupo de pessoas, por que não faria para todo mundo? Não faltou quem afirmasse que ele traria danos à saúde, mesmo em pessoas saudáveis. Mais tarde, a proteína foi acusada de provocar obesidade e inchaço no abdômen. A apresentadora Luciana Gimenez foi uma das que garantiram ter afinado a estampa ao se livrar do glúten.
E o livro Glúten e Obesidade: A Verdade Que Emagrece, da carioca Regina Racco, virou best seller. "Fiquei 8 semanas sem ingerir os cereais que contêm a proteína e perdi 11 quilos", dizia Racco em trecho do livro.

Crônica do Dia - Sobre a morte e o morrer




Rubem Alves

O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define?



Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...” 

Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando... Mas, que pena! A vida é tão boa...” 

Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.

Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.

Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.

Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.

Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".

Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.

Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.

Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse” do dia 12-10-03. fls 3.

domingo, 13 de julho de 2014

Personalidades - Homero - O poeta grego épico

Homero O poeta grego épico


Homero é considerado o grande autor da maior parte dos poemas narrativos que sobreviveram ao início da literatura grega.



por Marcon Beraldo

Reprodução
Segundo a tradição antiga, ele é autor dos poemas épicos Ilíada e Odisseia, duas grandes obras da Antiguidade , e muitos outros poemas que acabaram servindo de relato histórico e base cultural e moral da Grécia. Para os gregos que viveram sob o domínio dos romanos, ele foi o principal poeta da sua época, embora alguns escritores coloquem em dúvida a sua verdadeira identidade - é controvertida até a data de seu nascimento. Por volta do sétimo século a.C. surgiram as primeiras citações dos relatos épicos -, a Ilíada e a Odisseia estão incluídas entre as grandes obras da literatura universal.
Antiguidade
Antiguidade ou Idade Antiga refere-se ao período compreendido da Europa Ocidental do século VIII a.C., quando surge a poesia grega de Homero, ao ano 476 da era cristã, data da queda do Império Romano.
Fenícios
Os fenícios foram os primeiros grandes comerciantes e mercadores marítimos. Eles habitaram a região hoje pertencente ao Líbano, Israel e Palestina, antes da chegada dos hebreus. Fundadores das cidades de Tiro e Sidon, chegaram ao auge em 1500 a.C e expandiram seus negócios até as cidades de Cádiz (Espanha) e Cartago (Norte da África).

Te Contei, não ? - José de Alencar & Manoel Carlos : cronistas do cotidiano

José de Alencar & Manoel Carlos: cronistas do cotidiano

Separados por mais de dois séculos, o autor romântico José de Alencar e o teledramaturgo Manoel Carlos têm perfis literários paralelos.



por Leide Oliveira*


Ilustração Licinho
Reprodução
TV Tupi e TV Excelsior
A TV Tupi foi a primeira emissora de televisão a ser instalada no Brasil e na América Latina, em 18 de setembro de 1950. A empresa fazia parte dos Diários Associados, grupo dirigido por Assis Chateaubriand. A TV Excelsior foi fundada em 1960 e durou apenas dez anos. Pertencia ao empresário Mário Wallace Simonsen.

Helena de Troia
Helena, segundo a mitologia grega, era filha de Zeus e de Leda. Possuía a reputação de a mulher mais bela do mundo, tinha muitos pretendentes e chegou a ser raptada, aos 11 anos, pelo herói Teseu. Depois, casou-se com Menelau, rei de Esparta. Sua fuga com o príncipe troiano Páris foi o estopim da Guerra de Troia.

Guerra Fria
Período histórico que marca o conflito indireto e a disputa estratégica entre as duas superpotências que emergiram vitoriosas da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética.

Romantismo
Período artístico e literário iniciado na Europa no final do século XVIII e que se estende por quase cem anos. Na literatura é marcado, entre outros, pelos escritores Lord Byron, Victor Hugo e Alexandre Dumas. No Brasil, destaque para Álvares de Azevedo, Casemiro de Abreu e Fagundes Varela.

Realismo
Movimento artístico e literário que se desenvolveu a partir da segunda metade do século XIX. Como características principais destacam-se a abordagem de temas sociais, além do tratamento objetivo da realidade do homem, com a descrição e a denúncia de todas as mazelas. Com uma linguagem clara e mais objetiva, foi o contraponto do romantismo. No Brasil, a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em 1881, é o grande destaque do período. Flaubert, Dostoievski, Tolstoi e Charles Dickens são grandes expoentes realistas.