domingo, 6 de julho de 2014

Crônica do Dia - Amor aos livros


Notícias, emoções e tragédias de um país de não-leitores. Se parece exagerado dizer que com educação tudo virá, a verdade é que sem educação não virá nada  


Caco de Paula, jornalista, é coordenador e conselheiro do Planeta Sustentável
Sou grato pelo acesso que sempre tive a bons livros, desde criança. Amo livros pelo que trazem em expansão de conhecimento e troca universal de idéias. Admiro as linguagens que expressam essas idéias e o suporte em que trafegam, o livro em seu aspecto físico, capaz de gerar uma atração que não difere da que se tem em relação ao design e a tecnologia de um iPod hoje em dia.
Há algo de apaixonante na percepção sensorial desse cubo tridimensional de papel que leva a uma quarta dimensão, do tempo impresso nas páginas. Livros, com volume, textura, cheiro, formas, cores, beleza, linguagem - e significado! - talvez não farão mais diferença no dia em que todas as informações trafegarem por telas ainda não imaginadas, ou chegarem diretamente ao cérebro.
Um conto fantástico de Cortazar, dos anos 70, fala sobre o momento em que há tanta gente no mundo escrevendo e publicando que os continentes regurgitam montanhas de livros, transformando os mares em uma pasta de papel que seca ao sol, fazendo encalhar os navios. Meu filho Rudah o interpretou como uma premonição da internet de hoje, um ambiente em que todos são virtualmente autores.
Para além de outra imagem do conto de Cortazar, a do fim do mundo, não veremos tão cedo o fim do livro. Nenhum especialista em tecnologia prevê o fim do fogo, da roda ou do alfabeto, embora sempre haja alguém predizendo a extinção do livro, lembra-nos Gabriel Zaid, em Livros Demais!, leitura sugerida pelo amigo livreiro Piassa. O que importa é que circulem bons títulos, que ajudem a formar seres humanos autônomos e livres.
Sou apaixonado por livros à moda antiga. Por isso, me emocionei quando vi pela primeira vez a nova Livraria Cultura, em São Paulo, uma das melhores grandes livrarias do mundo, que me pareceu uma espécie de templo, lotado de gente folheando e comprando livros. É emocionante ver algo assim num país em que se lê tão pouco. No Brasil a média é de 1,21 livro por habitante alfabetizado a cada ano. Quase nada. Sendo um país com péssima educação, temos sido também um país de não-leitores.
Se parece exagerado dizer que com educação tudo virá, a verdade é que sem educação não virá nada. Sem esse acesso, numa ponta, e na outra, sem o conhecimento e a capacidade de desenvolver tecnologias mais avançadas, não construiremos uma economia mais rica, justa e inclusiva.
Nós não aprendemos a ler, escrever e pensar melhor porque somos pobres ou somos e continuaremos pobres justamente por não sermos leitores? O que nos custa mais caro, combater a ignorância ou mantê-la? Seremos para sempre a grande plantationcontratada para comerciar os recursos naturais até sua exaustão? Se há uma bandeira prioritária para construir um futuro sustentável, que seja em favor da educação básica, do acesso à leitura e à escrita. O que podemos fazer, imediatamente, para melhorar as bibliotecas e escolas?
Amar verdadeiramente os livros talvez signifique assumir algum compromisso para que os brasileiros que nascem e crescem neste momento tenham a oportunidade de amar livros também.
Caco de Paula, jornalista, é coordenador e conselheiro do Planeta Sustentável e sugere, a quem quer continuar no tema, que conheça o site da Revista Nova Escola

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