quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Crônica do Dia - Dezembro - Artur Xexéo

Por mim,  dezembro seria eliminado do calendário.  Depois do 30 de novembro, a gente saltaria direto para 1º de janeiro e já começaria a pensar no carnaval. Não que novembro também não esteja se tornando um mês irritante, com as comemorações de Halloween e da Black Friday incorporando-se às tradições brasileiras. Mas, enquanto a gente não festejar o Thanksgiven, acho que dá para aguentar. Dezembro é que é puxado.

Gosto de Natal e Ano Novo, aprecio rabanadas e roupas brancas. Meu problema é com o corre-corre que antecede essas datas. Por mais que eu me organize, em dezembro sempre tenho a sensação de estar atrasado, de estar devendo alguma coisa, de não estar cumprindo metas. Dezembro, definitivamente, não dá tempo.

Sei que o mês tem suas vantagens. É quando recebemos o 13º salário, por exemplo. Mas antes de eu comemorar a chegada deste suplemento salarial à minha conta bancária, eu me lembro que os meus empregados também têm que receber o salário extra. E aí começam a chegar os pedidos de caixinha para porteiros,  entregadores de jornal, funcionários que medem a luz, entregadores de revista, lixeiros... Antes de pensar seriamente em pedir uma caixinha para meus leitores, tenho que comprar presentes para os parentes, para os amigos, para os colegas... Quando o mês acaba, meu saldo está negativo. Ou estou com o saldo negativado, como se diz agora nas propagandas de TV que prometem dinheiro fácil para ingênuos que não sabem fazer contas.

Finanças à parte, dezembro me oprime com as festas de confraternização. Fujo das que contam com minha participação. Mas não consigo fugir das dos outros. Dezembro, portanto, não é mês para se jantar ou almoçar fora. Sempre haverá um grupo de telefonistas ou de escriturários ou de jornalistas comemorando na mesa ao lado. É mês de shopping lotado. Esse obstáculo é fácil de superar. Basta não ir a shoppings por um mês. Não chega a ser um grande sacrifício. O problema é que o corre-corre característico da temporada, a sensação de estar sempre atrasado, o acúmulo de tarefas acabam adiando o momento de fazer as compras de Natal. Aos 45 minutos do segundo tempo, não tem jeito: vai-se ao shopping. É sofrimento na certa, mas como evitá-lo?

E chega o verão. Gosto de verão em tese, ou seja, antes de ele se fazer presente. Meu conceito de casa ideal é aquela com lareira na sala e um armário cheio de ededrons. Mas, como carioca da gema, sonho com o verão. Até começar a suar exageradamente, usar bonés para não queimar a careca e ver a conta de luz chegar a níveis astronômicos por excesso de uso do ar condicionado. E a estação  começa justamente em dezembro, como se o mês já não tivesse esgotado sua cota de itens desagradáveis (não vou nem comentar a árvore da Lagoa).

Em dezembro, há mais carros na rua e, consequentemente, mais congestionamentos. É quando a televisão tira do arquivo toda a sua coleção de filmes bíblicos. É quando o “Jornal Nacional”  produz mil e uma matérias sobre a solidariedade que fazem chorar tudo que não chorei o ano inteiro. É quando os supermercados gritam ofertas de bacalhau e de vinhos com desconto. É mês de amigo oculto! Quem inventou o amigo oculto?



O bom de dezembro é que, como os outros meses do ano, ele, mais cedo ou mais tarde, acaba. Sempre acho que é mais tarde. Penso que não  sobreviverei a ele. Já cumpri 1/3 do sacrifício deste ano. Até agora, tudo bem. Mas torço para janeiro do ano que vem chegar logo.

Jornal O Globo

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