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Mil páginas a partirda ampla correspondência do artista no século XIX
Mil páginas a partirda ampla correspondência do artista no século XIX
Foram dez anos de pesquisa e escrita até Naifeh e Smith chegarem às mil páginas em que esmiúçam por completo a vida de Van Gogh. Com a intenção de “colocar o leitor na mente do artista”, os autores leram centenas de cartas escritas e recebidas por ele, além daquelas trocadas entre membros da família. As correspondências permitiram resgatar até a sua infância, na qual aprendeu com a mãe os cuidados com as regras sociais: “Os trajes, assim como os passeios diários com que se mostravam à comunidade, marcavam os Van Gogh como integrantes da classe média alta”. Na infância, os primeiros anos de relação com o irmão mais novo, Theo, já mostravam o companheirismo que os acompanharia. “No quarto do sótão que dividiam, conversavam até tarde da noite, o que criava com o irmão mais novo um vínculo que as irmãs, para implicar, chamavam ‘veneração’, mas que Theo, mesmo décadas mais tarde, se orgulhava de considerar ‘adoração’”, conta um trecho da obra.
VIDA A ÓLEO
As histórias por trás das obras-primas de Van Gogh
As histórias por trás das obras-primas de Van Gogh

A relação entre Vincent e Theo teve ligação com outro episódio comprovado pela nova biografia. Foi mesmo Van Gogh quem cortou a própria orelha, abafando qualquer boato de que teria sido o também pintor Paul Gauguin, seu companheiro na famosa Casa Amarela, em Arles. Van Gogh teria se mutilado por ciúmes de Theo. O gesto extremado teria acontecido em um momento de confusão mental, após tomar conhecimento de que o irmão teria pedido a namorada, Jo Bonger, em casamento. “Vincent já desconfiava que Gauguin o deixaria para viver com uma mulher. Ao saber que Theo se casaria, concluiu que a relação de vida e também de negócios dos dois estava acabada”, diz Naifeh.

Logo que soube da notícia, Theo embarcou em uma viagem de nove horas de trem, ansioso para se certificar de que o ferimento do irmão não fora letal. Meses depois, foi comunicado de que Vincent havia recebido um tiro, e novamente partiu para Arles, ficando com o irmão as suas últimas 48 horas. A arma do crime nunca foi encontrada, bem como os seus inseparáveis apetrechos de pintura – o que levanta as boas hipóteses para uma história policial. As tintas, pincéis, cavaletes e telas foram deixados no terreno de onde Van Gogh saíra cambaleante à procura de ajuda. Assim o livro explica esse sumiço: “Os irmãos Secretán deviam estar apavorados. Mas, pelo visto, tiveram tempo e presença de espírito para recolher a arma e todos os pertences de Vincent antes de desaparecer correndo na noite que se aproximava.”

O que dizem as cartas
O escritor Steven Naifeh conta à ISTOÉ como pesquisou a vida de Van Gogh a partir de sua correspondência
O escritor Steven Naifeh conta à ISTOÉ como pesquisou a vida de Van Gogh a partir de sua correspondência

Os autores Naifeh e Smith, ganhadores do prêmio
Pulitzer:trabalho conjunto há maisde 20 anos
ISTOÉ – Como foi feita a pesquisa para o livro?
Steven Naifeh – A maior parte da biografia é baseada na correspondência trocada pela família, conseguida com ela ou no Museu Van Gogh. Passamos dois anos estudando mais de 700 cartas de Vincent. Ao lê-las, tentamos concluir o que estava se passando na cabeça dele no momento em que escrevia e quais eram os fatos relevantes acontecidos naquele dia – que livros, poemas, artigos ele deve ter lido. As correspondências familiares geralmente o tratavam como um rapaz problemático. Mesmo as cartas que não eram de ou para Vincent tinham sempre algo como “o que vamos fazer a respeito dele?”.
ISTOÉ – Por que decidiram escrever sobre Van Gogh?
Naifeh – Nós havíamos terminado a biografia sobre Jackson Pollock, que nos tomou dez anos, e a questão era “o que fazer agora?”. Ao escolher um personagem para uma biografia deve-se levar em conta a vida do retratado – você quer que ela seja incrível, caso de Van Gogh. Além de ele ser um dos artistas mais importantes e conhecidos no mundo.
ISTOÉ – Seu livro sobre Jackson Pollock se tornou um filme. O sr. pensou nisso ao escrever “Van Gogh – A Vida”?
Naifeh – Sim. Apesar de ser difícil transformar um livro de mil páginas em um filme de duas horas, provavelmente haverá um longa sobre Van Gogh baseado no nosso livro.
ISTOÉ – Como é o processo de trabalho ao se escrever um livro em parceria?
Naifeh – Isso não é usual na literatura, mas acontece com frequência no jornalismo, quando muitos artigos são pesquisados por uma pessoa e o texto é escrito por outra. É o que nós fazemos. Eu sou o encarregado da pesquisa e o Gregory (White Smith) da escrita. Ele escreve melhor, enquanto eu consigo ler mais rapidamente.
ISTOÉ – Quais foram suas grandes descobertas?
Naifeh – Na nossa opinião, é quase improvável que ele tenha se matado, mesmo sendo essa a explicação oficial. As evidências ao contrário são mais fortes. Além disso, creio que o mais excitante foi colocar o leitor dentro da mente de Van Gogh. Ele não era só um grande pintor, mas um escritor e pensador. Isso só é possível de saber pelo conteúdo de suas cartas.
Steven Naifeh – A maior parte da biografia é baseada na correspondência trocada pela família, conseguida com ela ou no Museu Van Gogh. Passamos dois anos estudando mais de 700 cartas de Vincent. Ao lê-las, tentamos concluir o que estava se passando na cabeça dele no momento em que escrevia e quais eram os fatos relevantes acontecidos naquele dia – que livros, poemas, artigos ele deve ter lido. As correspondências familiares geralmente o tratavam como um rapaz problemático. Mesmo as cartas que não eram de ou para Vincent tinham sempre algo como “o que vamos fazer a respeito dele?”.
ISTOÉ – Por que decidiram escrever sobre Van Gogh?
Naifeh – Nós havíamos terminado a biografia sobre Jackson Pollock, que nos tomou dez anos, e a questão era “o que fazer agora?”. Ao escolher um personagem para uma biografia deve-se levar em conta a vida do retratado – você quer que ela seja incrível, caso de Van Gogh. Além de ele ser um dos artistas mais importantes e conhecidos no mundo.
ISTOÉ – Seu livro sobre Jackson Pollock se tornou um filme. O sr. pensou nisso ao escrever “Van Gogh – A Vida”?
Naifeh – Sim. Apesar de ser difícil transformar um livro de mil páginas em um filme de duas horas, provavelmente haverá um longa sobre Van Gogh baseado no nosso livro.
ISTOÉ – Como é o processo de trabalho ao se escrever um livro em parceria?
Naifeh – Isso não é usual na literatura, mas acontece com frequência no jornalismo, quando muitos artigos são pesquisados por uma pessoa e o texto é escrito por outra. É o que nós fazemos. Eu sou o encarregado da pesquisa e o Gregory (White Smith) da escrita. Ele escreve melhor, enquanto eu consigo ler mais rapidamente.
ISTOÉ – Quais foram suas grandes descobertas?
Naifeh – Na nossa opinião, é quase improvável que ele tenha se matado, mesmo sendo essa a explicação oficial. As evidências ao contrário são mais fortes. Além disso, creio que o mais excitante foi colocar o leitor dentro da mente de Van Gogh. Ele não era só um grande pintor, mas um escritor e pensador. Isso só é possível de saber pelo conteúdo de suas cartas.
Fotos: Musee D’orsay, Paris; Museum of Modern Art, New York
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