Minha querida secretária do lar, Adriana, engravidou. Vai casar e cuidar do bebê. Sentirei muita falta dela. Estou acostumado com os cafezinhos à noite, jantar na mesa e uma série de mordomias. Quando ela chegou aos sete meses, eu e meu assistente Felippe começamos a procurar uma substituta. Adriana já entrou nos nove. Não encontramos ainda. Já tentei liberá-la, mas ela é muito saudável e não quer me deixar na mão. O bebê pode nascer a qualquer instante. Aqui, em meu apartamento!
A necessidade é grande, porque escrevo em casa. Só vou à Globo para reuniões e para acompanhar uma ou outra gravação. Às vezes, fico vários dias sem sair, principalmente agora, que estou escrevendo a próxima novela das 21 horas, Amor à vida. São muitas páginas de roteiro por dia. Preciso almoçar, jantar e ter cuecas limpas na gaveta.
Mas a perspectiva da nova lei, que regulamentou para melhor a profissão, provocou um baque nesse mercado de trabalho. Muitas domésticas ficaram esperando para saber o que aconteceria. Francamente, uma boa doméstica também já estava difícil de contratar antes disso. Eu e Felippe recorremos às agências. A primeira notícia foi auspiciosa: uma cozinheira que trabalhara na casa do cantor Luciano, da dupla com Zezé di Camargo, estava interessada. Marcamos a entrevista. Na hora, a mocinha da agência ligou para avisar que ela se atrasaria, mas estava a caminho. Esperamos horas. Viviane nunca apareceu. Talvez tenha sido abduzida por extraterrestres. A próxima, Claudiana, também não veio. E assim foi: um número imenso de entrevistas marcadas, sem que as candidatas dessem as caras. Veio então Elizabeth. Simpática. Tudo parecia dar certo. Até que ela avisou:
– Não subo escadas!
Moro num apartamento duplex. E a faxina no meu quarto? Veio Elenita. Felippe perguntou por que havia saído do último emprego:
– Briguei com a babá. Quando eu tenho de falar alguma coisa, falo na cara – explicou. – Seja quem for, até para o patrão.
Revista Época
A necessidade é grande, porque escrevo em casa. Só vou à Globo para reuniões e para acompanhar uma ou outra gravação. Às vezes, fico vários dias sem sair, principalmente agora, que estou escrevendo a próxima novela das 21 horas, Amor à vida. São muitas páginas de roteiro por dia. Preciso almoçar, jantar e ter cuecas limpas na gaveta.
Mas a perspectiva da nova lei, que regulamentou para melhor a profissão, provocou um baque nesse mercado de trabalho. Muitas domésticas ficaram esperando para saber o que aconteceria. Francamente, uma boa doméstica também já estava difícil de contratar antes disso. Eu e Felippe recorremos às agências. A primeira notícia foi auspiciosa: uma cozinheira que trabalhara na casa do cantor Luciano, da dupla com Zezé di Camargo, estava interessada. Marcamos a entrevista. Na hora, a mocinha da agência ligou para avisar que ela se atrasaria, mas estava a caminho. Esperamos horas. Viviane nunca apareceu. Talvez tenha sido abduzida por extraterrestres. A próxima, Claudiana, também não veio. E assim foi: um número imenso de entrevistas marcadas, sem que as candidatas dessem as caras. Veio então Elizabeth. Simpática. Tudo parecia dar certo. Até que ela avisou:
– Não subo escadas!
Moro num apartamento duplex. E a faxina no meu quarto? Veio Elenita. Felippe perguntou por que havia saído do último emprego:
– Briguei com a babá. Quando eu tenho de falar alguma coisa, falo na cara – explicou. – Seja quem for, até para o patrão.
Ai, que medo! Mas a situação é de urgência. Disse a Felippe:
– Prometo ser bem educadinho com ela. Mesmo que ela bote comida salgada na mesa, digo que está ótima. Empregada hoje a gente tem de tratar melhor que irmã.
– Prometo ser bem educadinho com ela. Mesmo que ela bote comida salgada na mesa, digo que está ótima. Empregada hoje a gente tem de tratar melhor que irmã.
A antiga patroa avisou:
– Ela, às vezes, fica deprimida e passa dias sem falar com ninguém.
– Mas é normal alguém ficar triste – respondi corajosamente.
– Não com tanta frequência.
Desisti. Seria difícil me dedicar tanto à condição psicológica da doméstica. A próxima. Eliane tinha aparência ótima, lindos cabelos tingidos de preto.
– Meu plano é montar um salão de beleza daqui a três anos. Por isso vou avisando: a gente pode combinar um salário agora. Mas depois que eu começar, se achar que é muito trabalho, vou querer mais. Quero ganhar dinheiro.
Impossível contratar alguém sem saber o salário ao certo.
Quase ficamos com Solnete, muito simpática. Seu currículo dizia que sabia cozinhar. Mas referia-se a um único jantar: um filé-mignon com molho que serviu a visitas no último emprego. Ligamos para a ex-patroa, uma médica. Não quis atender pessoalmente, mas a secretária confirmou que nada depunha contra Solnete.
– Cozinha bem? E o tal jantar? – quis saber Felippe.
– Ela fez, mas com ajuda.
Queríamos contratá-la, mas Felippe tinha dúvidas. Ligou:
– Solnete, gostamos muito de você. Mas a gente queria que fizesse um teste na cozinha, preparasse algum prato.
– Não quero mais o emprego – ela avisou, ofendida.
Até grandes estrelas da Globo se submetem a testes para papéis. A nova geração de domésticas parece estar acima disso. Achei que a salvação estaria em Silvana. Só Felippe a entrevistou.
– Ela é obesa – disse.
– E daí? – argumentei. – Gordo por gordo também estou aqui.
Ligamos para várias referências. Os antigos patrões avisaram: Silvana sempre pedia demissão em alguns meses depois por problemas de saúde.
– Ela tem pressão alta.
– Sente-se mal às vezes.
Não me assustei. Além de registro, costumo dar assistência médica às empregadas. E bem... o bebê de Adriana pode nascer a qualquer momento.
– Felippe, contrate essa – decidi.
Ele ligou. Silvana respondeu:
– Agora não posso começar. Tenho exames médicos para fazer.
Acho que é hipocondríaca!
Temos novas entrevistas marcadas. A esperança é a última que morre, mas a minha está difícil... Cozinhar, cozinho bem. Quem sabe aprendo a lavar e passar. Tudo tem seu dia. Até para um escritor preguiçoso.
– Ela, às vezes, fica deprimida e passa dias sem falar com ninguém.
– Mas é normal alguém ficar triste – respondi corajosamente.
– Não com tanta frequência.
Desisti. Seria difícil me dedicar tanto à condição psicológica da doméstica. A próxima. Eliane tinha aparência ótima, lindos cabelos tingidos de preto.
– Meu plano é montar um salão de beleza daqui a três anos. Por isso vou avisando: a gente pode combinar um salário agora. Mas depois que eu começar, se achar que é muito trabalho, vou querer mais. Quero ganhar dinheiro.
Impossível contratar alguém sem saber o salário ao certo.
Quase ficamos com Solnete, muito simpática. Seu currículo dizia que sabia cozinhar. Mas referia-se a um único jantar: um filé-mignon com molho que serviu a visitas no último emprego. Ligamos para a ex-patroa, uma médica. Não quis atender pessoalmente, mas a secretária confirmou que nada depunha contra Solnete.
– Cozinha bem? E o tal jantar? – quis saber Felippe.
– Ela fez, mas com ajuda.
Queríamos contratá-la, mas Felippe tinha dúvidas. Ligou:
– Solnete, gostamos muito de você. Mas a gente queria que fizesse um teste na cozinha, preparasse algum prato.
– Não quero mais o emprego – ela avisou, ofendida.
Até grandes estrelas da Globo se submetem a testes para papéis. A nova geração de domésticas parece estar acima disso. Achei que a salvação estaria em Silvana. Só Felippe a entrevistou.
– Ela é obesa – disse.
– E daí? – argumentei. – Gordo por gordo também estou aqui.
Ligamos para várias referências. Os antigos patrões avisaram: Silvana sempre pedia demissão em alguns meses depois por problemas de saúde.
– Ela tem pressão alta.
– Sente-se mal às vezes.
Não me assustei. Além de registro, costumo dar assistência médica às empregadas. E bem... o bebê de Adriana pode nascer a qualquer momento.
– Felippe, contrate essa – decidi.
Ele ligou. Silvana respondeu:
– Agora não posso começar. Tenho exames médicos para fazer.
Acho que é hipocondríaca!
Temos novas entrevistas marcadas. A esperança é a última que morre, mas a minha está difícil... Cozinhar, cozinho bem. Quem sabe aprendo a lavar e passar. Tudo tem seu dia. Até para um escritor preguiçoso.
Revista Época
Nenhum comentário:
Postar um comentário