segunda-feira, 8 de abril de 2013

Crônica do Dia - Por que o homem é galinha ?


Tenho um amigo que foi casado por quatro anos. É ator, embora não famoso. Aprontava. Nas viagens de um espetáculo em que atuava, fazia a festa com as colegas de elenco. O casamento entrou em crise. A mulher quis ter um filho. Ele se recusou, sob o argumento de que o momento não era apropriado. Pretendia investir na carreira de ator, entrar para a televisão. Ela se separou. Voltou a se relacionar com um antigo namorado. Em dois meses, estava grávida. O garoto já nasceu, e seu novo casamento continua sólido. Meu amigo se lamenta até hoje. Sente-se traído:

– Como ela pôde gostar de outro tão depressa?

Pura frustração. Sabe perfeitamente que o culpado foi ele. Primeiro, por sair com outras em todas as oportunidades. Segundo, por se negar a ter um filho em função de seus objetivos pessoais, sem oferecer espaço para um projeto em comum do casal. Sofre até hoje, mas não mudou de atitude. Nem quer mais um relacionamento, só transas eventuais. Se a garota telefona nos dias seguintes, não dá conversa. Faz de tudo para não se envolver.

Meu amigo segue o padrão de comportamento masculino tradicional. Espera-se que um homem conquiste muitas mulheres. É um modelo pré-histórico, quando o troglodita simplesmente arrebatava a fêmea. Ou, como aconteceu em várias civilizações, quando os sultões montavam haréns. As coitadas passavam o tempo brigando e tratavam de ficar belas para atrair a atenção do poderoso. Montar um harém, eis o desejo masculino. A figura do marinheiro que tinha uma mulher em cada porto ainda preenche a imaginação. Ou melhor, a lendária figura de Don Juan, para quem toda mulher é objeto de desfrute.

A educação de um garoto segue o modelo apache: quantos mais escalpos, melhor. O menino é ensinado a conquistar, sem dar atenção aos sentimentos alheios. Isso é tão forte na formação de um homem que, muitas vezes, o padrão permanece, mesmo que o sujeito tenha orientação sexual diferente. Amigos gays já me contaram, triunfantes, suas relações rápidas em saunas e baladas. Em 1998, o cantor George Michael, no auge do sucesso, foi preso por atentado ao pudor num banheiro público. Existe lugar menos romântico que um banheiro público? Lésbicas procuram um relacionamento estável. Segundo uma piada, duas lésbicas se conhecem numa noite e, no dia seguinte, uma leva a mala para a casa da outra. E dois gays... que dia seguinte?

Sei que os heterossexuais se assustarão com a comparação. Mas é o que digo: homens são incentivados a ser galinhas. Boa parte segue essa trilha ao longo da vida. Muitos se sentem mais satisfeitos em fazer alarde de sua última conquista tomando cerveja com a turma do que com qualquer outra coisa. É uma reunião de pavões abrindo as caudas, em que cada um fala da mulher com quem saiu.

– Tive de usar a maior lábia, mas rolou.
– No início ela era difícil, mas sou bom nesse negócio.

Adoram se fazer de difíceis:

– Ela tá pegando no meu pé, mas não tou a fim.
– Não gosto de mulher que corre atrás.

Muitos se orgulham de não assumir compromissos:

– Quero minha liberdade.
– Não gosto de cobrança.

Como se fosse possível ter um relacionamento em que um faz o que quer, sem que a outra metade tenha direito de reclamar.

Galinhas, tenho uma má notícia! A mulher está dando a contrapartida. Mulher galinha sempre existiu, é claro. Mas era malvista. As amigas falavam mal. Muitas preferiam nem se relacionar com alguma conhecida que adotasse esse comportamento. Hoje não. Já conheci duas garotas que vão a baladas para “pegar” algum homem. Se interessadas, dão em cima. Conquistam. Até fiquei chocado, quando soube que uma delas às vezes sai com um, vai para o motel. Depois, volta para a balada e agarra outro. Não, não é profissional do sexo. Sente-se tranquila em contar para as amigas.

– Peguei aquele lá.

Não quer saber de compromisso – como muitas de suas amigas. Nem pensa em ter filhos tão cedo. Se o rapaz liga no dia seguinte, diz que está ocupada. Estar junto se torna algo ainda mais eventual.

Sempre achei que o homem galinha trata a mulher com falta de dignidade. O surgimento da mulher que vai à luta consolida a liberação feminina. Na minha opinião, está longe de ser um avanço. Fugir de relacionamentos não torna a pessoa excessivamente superficial? A emoção pra valer, o coração que bate mais forte, cadê?

Amar, dividir a vida, ainda é o melhor que pode acontecer com uma pessoa. 

Walcyr C arrasco / Revista Época

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