domingo, 28 de abril de 2013

Te Contei, não ? - Boletim à vista

Ao expor suas notas, um grupo de escolas instaura a cultura da cobrança e dá um passo em prol da excelência

Gabriele Jimenez

Desde que o governo federal criou um termômetro para aferir o nível do ensino em todas as 68.000 escolas públicas do país, há seis anos, um grupo expressivo delas aderiu a um comportamento muito comum entre os maus alunos: esconder a nota vermelha. E elas não têm sido poucas, como enfatiza com riqueza estatística a série histórica do Ideb, o índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Ao manterem à sombra o mau desempenho, os colégios que patinam na sala de aula dão a pais e alunos a ilusão de que estão em um lugar de alta excelência, fazendo-os cultivar uma visão distorcida da realidade. Isso ficou evidente em uma pesquisa do Ministério da Educação em que os pais foram instados a cravar uma nota para a qualidade da educação ofertada aos filhos. O resultado? Uma avaliação para lá de generosa – 8,6 numa escala de zero a 10 –, em contraste com a vida real, bem mais dura. A média do último Ideb não passou de 5. Recentemente, três estados (Rondônia, Goiás e Minas Gerais) e quase duas dezenas de municípios tomaram uma interessante iniciativa em prol da transparência. Por lei ou decreto, eles passaram a obrigar as escolas a afixar na entrada uma placa com a nota no Ideb bem visível, além da média da rede de ensino à qual pertencem – algo didático, para que todos entendam o seu verdadeiro patamar.
São experiências recentes, mas seus efeitos mais imediatos já sinalizam o ciclo virtuoso que pode se desencadear a partir da divulgação dos resultados. Entre as escolas que rastejam no Ideb, os professores despertaram para o indicador – e para a necessidade de se mexer para avançar nele. "Ao expormos a nota. assumimos perante a sociedade o compromisso de melhorar", diz Denise Gonçalves, diretora da escola estadual Pero Vaz de Caminha, de Belo Horizonte, que tirou 4,5 no Ideb – enquanto a média do estado bateu em 6. Os pais, por sua vez, têm agora como cobrar e monitorar o desempenho dessas escolas, base fundamental para almejar uma mudança de nível. Também os que disparam na média ganharam um incentivo para prosseguir na trilha da qualidade. No Ciep municipal Pablo Neruda, no Rio de Janeiro, o impacto da placa que alardeia um dos melhores Idebs do país (8,3) se fez sentir muito além dos muros escolares. "A fila de alunos interessados em estudar aqui só cresce", orgulha-se a diretora Maria Joselza Albuquerque.
O MEC até envia às escolas cartazes com a nota de cada uma, mas quase ninguém os exibia. Foi com a instituição de leis – uma ideia lançada em artigo do economista e articulista de Veja Gustavo Ioschpe – que o cenário começou a mudar. Tramita ainda na Câmara dos Deputados um projeto de lei que pode conferir à medida abrangência nacional. É um primeiro passo, mas não o único para fazer bom uso do Ideb. "O MEC deve orientar os educadores a ter o indicador como um ponto de partida para saber onde e como avançar", observa a especialista Maria Helena Guimarães. Com essa lição benfeita, quem sabe um dia não haverá mais razão para as escolas terem vergonha do boletim.
 
Revista Veja

Um comentário:

  1. Além de expor as notas alcançadas pelas escolas públicas, é importante se crie estrutura para que os professores possam realizar o trabalho educativo com qualidade. Desta forma, os alunos poderão aprender e, consequentemente haverá reflexo nos processos avaliativos como o Ideb.

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