A internação do escritor Luis Fernando Verissimo revela os riscos da negligência com a doença. Sua saúde está sendo mantida em casa com um arsenal de remédios
Foram 24 dias de internação e muita angústia. Em vários momentos do período em que este-ve internado no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, o escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo, de 76 anos, correu sério risco. Passou doze dias na unidade de terapia intensiva (UTI). Foi sedado e teve suas funções vitais mantidas por aparelhos. O trabalho dos rins foi realizado por uma máquina de hemodiálise e o dos pulmões, por um respirador artificial. Ainda na UTI, o escritor sofreu uma crise de angina, dores fortes no peito, provocadas pela dificuldade de circulação sanguínea nas artérias do coração. Nos últimos dias de internação, já no quarto, Verissimo andava depressivo. Falava pouco, menos ainda que o habitual. Tanto com os médicos quanto com os parentes que o acompanhavam ? a mulher. Lúcia, e os filhos, Fernanda. Mariana e Pedro. O susto pelo qual passou o escritor foi causado pela subestimação da gripe. Sim, um dos tipos mais comuns do vírus da gripe, do grupo influenza A, foi o responsável pela delicada temporada hospitalar de Verissimo. A infecção foi debelada graças aos esforços da equipe responsável pelo escritor ? o intensivista Eubrando Silvestre Oliveira, o nefrologista Alberto Augusto Rosa e o cardiologista Sandro Cadaval. Verissimo recebeu alta em 14 de dezembro, mas terá de lidar com graves sequelas. A saúde do escritor está debilitada e será mantida com uma batelada de medicações. Ele vai tomar todos os dias um betabloqueador, para manter o ritmo cardíaco, dois compostos antiplaquetários para controlar o fluxo sanguíneo, dois vasodilatadores para a manutenção da pressão arterial e um remédio para o controle das taxas de açúcar no sangue.
Há duas razões para uma simples gripe ter se transformado em um problema tão grave, no caso de Verissimo. A primeira é o fato de que o escritor pertence ao grupo de risco da doença. Além de ser idoso e estar acima do peso, ele é diabético e portador de doença cardíaca ? nos últimos vinte anos, foi submetido a duas cirurgias para a desobstrução das artérias coronárias. Pior: Verissimo demorou para procurar ajuda médica. Os primeiros sinais da gripe já haviam se manifestado bem antes da internação. Em 15 de novembro, durante a apresentação de um show em Porto Alegre com a banda Jazz 6, na qual ele toca saxofone, Verissimo se sentiu indisposto, enjoado e febril. Ao longo dos seis dias seguintes, sua temperatura alcançou 38.5 graus e ele tentou controlá-la em casa, com antitérmicos. O escritor só recorreu ao hospital quando os sintomas pioraram. Ao ser internado, no fim da tarde de 21 de novembro, já estava debilitado ? além da febre, tinha dificuldade para respi-rar, urinar, sentia dores fortes pelo corpo e exaustão. O escritor Zuenir Vem-Uira e o cartunista Paulo Caruso, que haviam estado com Verissimo durante uma feira literária em Araxá, Minas Gerais, na segunda semana de novembro, também se sentiram indispostos e febris, mas logo se recuperaram. O mesmo ocorreu com a mulher do escritor gaúcho. O quadro de Verissimo. ressalve-se, era delicado antes da infecção pelo vírus influenza A. “Qualquer microrganismo, por mais simples que seja. passa a ser potencialmente letal no or-ganismo debilitado”, diz o intensivista Eubrando. coordenador da UTI do Moinhos de Vento. “É imprescindível que o paciente procure tratamento especializado ao menor sinal da gripe.”` Todos os anos, cerca de 30 milhões de brasileiros são infectados pelo influenza A. Destes, 100000 ficam tão seriamente doentes quanto Verissimo. Em geral, o quadro se agrava porque o sistema imunológico de um organismo já comprometido por outros problemas de saúde não consegue combater o vírus no início da contaminação. O germe é transmitido principalmente pelo ar. Ao entrar pelo sistema respiratório, é, na maioria das vezes, elimina-do pelas células de defesa da mucosa do nariz, da garganta e da traqueia. Se essas células estão debilitadas, o vírus pode chegar até os pulmões, onde se multiplica e se espalha pelo resto do organismo. Em um quadro de gripe, é natural que o paciente perca líquido. No caso de Veríssimo, tudo foi muito mais dramático. Por causa do diabetes, seus rins já não funcionavam adequadamente e, com a desidratação, ficaram ainda mais comprometidos. Por isso, ele necessitou de hemodiálise durante sua passagem pelo hospital.
O nome influenza foi cunhado por volta do século XIV, quando os sintomas da gripe eram então conhecidos como a “influenza dos céus”. Apenas nos anos 30. o vírus foi classificado em três grupos, de acordo com a incidência e a capacidade de mutação ? A, B e C. Os vírus dos tipos B e C costumam ser os mais raros e também os menos perigosos. Além de mais prevalente, o influenza A é extremamente mutável. Algumas de suas versões já puseram o mundo em alerta, como o H5N1, que provocou o surto de gripe aviária, em 2004, ou o H1NI, responsável pela eclosão da gripe suína, em 2009. Foi o H1N1, aliás, o causador da maior pandemia da história, a gripe espanhola, em 1918 (veja o quadro ao lado). A cada ano. em média, a indústria farmacêutica desenvolve uma vacina contra a versão de vírus predo-minante naquele período. “A vacinação é imprescindível a todos aqueles que pertencem aos grupos de risco”, diz o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo. Verissimo não havia tomado à vacina.
Há duas razões para uma simples gripe ter se transformado em um problema tão grave, no caso de Verissimo. A primeira é o fato de que o escritor pertence ao grupo de risco da doença. Além de ser idoso e estar acima do peso, ele é diabético e portador de doença cardíaca ? nos últimos vinte anos, foi submetido a duas cirurgias para a desobstrução das artérias coronárias. Pior: Verissimo demorou para procurar ajuda médica. Os primeiros sinais da gripe já haviam se manifestado bem antes da internação. Em 15 de novembro, durante a apresentação de um show em Porto Alegre com a banda Jazz 6, na qual ele toca saxofone, Verissimo se sentiu indisposto, enjoado e febril. Ao longo dos seis dias seguintes, sua temperatura alcançou 38.5 graus e ele tentou controlá-la em casa, com antitérmicos. O escritor só recorreu ao hospital quando os sintomas pioraram. Ao ser internado, no fim da tarde de 21 de novembro, já estava debilitado ? além da febre, tinha dificuldade para respi-rar, urinar, sentia dores fortes pelo corpo e exaustão. O escritor Zuenir Vem-Uira e o cartunista Paulo Caruso, que haviam estado com Verissimo durante uma feira literária em Araxá, Minas Gerais, na segunda semana de novembro, também se sentiram indispostos e febris, mas logo se recuperaram. O mesmo ocorreu com a mulher do escritor gaúcho. O quadro de Verissimo. ressalve-se, era delicado antes da infecção pelo vírus influenza A. “Qualquer microrganismo, por mais simples que seja. passa a ser potencialmente letal no or-ganismo debilitado”, diz o intensivista Eubrando. coordenador da UTI do Moinhos de Vento. “É imprescindível que o paciente procure tratamento especializado ao menor sinal da gripe.”` Todos os anos, cerca de 30 milhões de brasileiros são infectados pelo influenza A. Destes, 100000 ficam tão seriamente doentes quanto Verissimo. Em geral, o quadro se agrava porque o sistema imunológico de um organismo já comprometido por outros problemas de saúde não consegue combater o vírus no início da contaminação. O germe é transmitido principalmente pelo ar. Ao entrar pelo sistema respiratório, é, na maioria das vezes, elimina-do pelas células de defesa da mucosa do nariz, da garganta e da traqueia. Se essas células estão debilitadas, o vírus pode chegar até os pulmões, onde se multiplica e se espalha pelo resto do organismo. Em um quadro de gripe, é natural que o paciente perca líquido. No caso de Veríssimo, tudo foi muito mais dramático. Por causa do diabetes, seus rins já não funcionavam adequadamente e, com a desidratação, ficaram ainda mais comprometidos. Por isso, ele necessitou de hemodiálise durante sua passagem pelo hospital.
O nome influenza foi cunhado por volta do século XIV, quando os sintomas da gripe eram então conhecidos como a “influenza dos céus”. Apenas nos anos 30. o vírus foi classificado em três grupos, de acordo com a incidência e a capacidade de mutação ? A, B e C. Os vírus dos tipos B e C costumam ser os mais raros e também os menos perigosos. Além de mais prevalente, o influenza A é extremamente mutável. Algumas de suas versões já puseram o mundo em alerta, como o H5N1, que provocou o surto de gripe aviária, em 2004, ou o H1NI, responsável pela eclosão da gripe suína, em 2009. Foi o H1N1, aliás, o causador da maior pandemia da história, a gripe espanhola, em 1918 (veja o quadro ao lado). A cada ano. em média, a indústria farmacêutica desenvolve uma vacina contra a versão de vírus predo-minante naquele período. “A vacinação é imprescindível a todos aqueles que pertencem aos grupos de risco”, diz o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo. Verissimo não havia tomado à vacina.
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