domingo, 7 de abril de 2013

Te Contei, não ? - Água e açúcar sem valor nutricional




Especialistas listam mitos e verdades sobre refrigerantes, mais consumidos que carne


Duilo Victor

Exagero. Nos anos 1970 e 1980, um litro de refrigerante servia uma família de quatro pessoas por um fim de semana; hoje são cerca de 94 ml por pessoa por dia, um aumento de 500% no consumo

Florence Delva/ Latinstock

Os refrigerantes existem da forma como a gente conhece há mais de 120 anos e, no Brasil, segundo informa o IBGE, está entre os cinco alimentos mais consumidos do país, à frente de qualquer tipo de carne, fruta ou verdura. Pode ser cúmplice, mas a bebida não produz celulites ou causa diabetes sozinha, muito menos vicia.
O açúcar ajuda na obesidade, mas obesos não o são apenas por causa do líquido tentador. Tanto tempo no mercado foi o suficiente para o surgimento de mitos sobre a ingestão da bebida doce borbulhante, mas há
pelo menos uma grande unanimidade entre especialistas em nutrição: ao contrário de um bife, uma laranja ou um brócolis, refrigerante tem valor nutritivo insignificante.

Um terço de latinha per capita

Só de refrigerante, segundo a mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, de 2009, são cerca de 94 ml por pessoa todos os dias, pouco menos de um terço de uma latinha. Apesar da cafeína contida em refrigerantes à base de cola, a bebida não causa dependência química, afirma o nutrólogo e pediatra Mauro Fisberg, da Universidade Federal de São Paulo. Não existe gente viciada especificamente em refrigerante.

Pode existir a necessidade, pelo hábito, e para que seja ingerida a quantidade de cafeína suficiente para ter o ritmo cardíaco alterado, seria necessário beber entre um e dois litros da bebida num mesmo dia.

- Há exagero nos ataques aos refrigerantes. Não há efeito deletério no consumo da bebida, não se compara ao cigarro - afirma o nutrólogo, coordenador do Centro de Distúrbios Alimentares na Infância do Hospital
Infantil Sabará, em São Paulo. - Do mesmo modo, não há nada a favor dos refrigerantes, e cabe aos pais controlar o consumo, desde a infância. Antigamente, o consumo da bebida estava atrelado aos fins de semana, uma porção. O limite é o bom senso. Quem puder mudar para as versões light ou zero, melhor.
Infantil Sabará, em São Paulo. - Do mesmo modo, não há nada a favor dos refrigerantes, e cabe aos pais controlar o consumo, desde a infância. Antigamente, o consumo da bebida estava atrelado aos fins de semana, uma porção. O limite é o bom senso. Quem puder mudar para as versões light ou zero, melhor.
Steve Jobs, o empresário fundador da Apple, morto em 2001, fez uma descrição bastante objetiva sobre os refrigerantes ao tentar convencer John Sculley, então CEO da Pepsi, em 1983, a chefiar a empresa de tecnologia: "Você quer vir mudar o mundo ou continuar a vender água com açúcar?" Exageros à parte, são os dois ingredientes mais importantes da bebida, mas uma lata não contém as nove ou dez colheres de sopa que alguns virais da internet fazem chegar a nossas caixas de e-mail. Fisberg faz a conta: para ter a média de
125 calorias, cada lata teria que ter 30 gramas de açúcar ou duas colheres cheias. E o mesmo valor calórico da mesma quantidade das bebidas à base de néctar de frutas, por exemplo:

- Ninguém fica gordo por causa de refrigerante. A questão é que quem consome refrigerante com açúcar em excesso também tende a consumir pizza, macarronada ou doces em excesso, além de não praticar exercícios físicos. A maioria das pesquisas que condena o consumo de refrigerantes isola a bebida sem considerar os outros hábitos do indivíduo - acredita.

Na mesma baia do macarrão

O médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, concorda que não dá para demonizar o refrigerante. Se for para achar um culpado, que se coloque então os refrigerantes na mesma baia dos alimentos com alto índice glicêmico. Produtos industrializados, como doces, macarrão, pães
e arroz estão na lista. Ribas Filho explica que tais alimentos têm o que se chama de carboidrato simples, pois elevam rapidamente o índice de açúcar do sangue e obrigam maior atividade do pâncreas ao provocar o que especialistas chamam de incursões insulínicas:

- Usar o pâncreas a toda hora desta forma não faz bem. Temos um estoque de produção de insulina para o decorrer da v ida e, quando o pâncreas entra em fadiga, temos o diabetes - explica.

Já alimentos como feijão, lentilha, nozes e castanhas são feitos de carboidratos mais complexos, que demoram a serem absorvidos e, por isso, exigem trabalho mais suave do pâncreas.

Explosão de consumo

Nos anos 1970 e 1980, uma garrafa de um litro de refrigerante servia uma família de quatro pessoas por um fim de semana. De acordo com Rosely Sichieri, especialista em nutrição em saúde pública do Instituto de Medicina Social da Uerj, levantamentos nacionais indicam que o consumo da bebida aumentou 500% em relação aos níveis dos anos 70. Nesse intervalo surgiram as embalagens de dois litros ou mais. Em paralelo, explica Rosely, o mercado não parou de fazer propaganda associando o consumo dessas bebidas ao bemestar, além de lançar marcas mais baratas, as tubaínas:

- O problema é o exagero. Temos uma cultura de que tudo tem que ser adocicado. Não existe, por exemplo, a necessidade de beber algo durante as refeições, mas criou-se o hábito.

Relação aos níveis dos anos 70. Nesse intervalo surgiram as embalagens de dois litros ou mais. Em paralelo, explica Rosely, o mercado não parou de fazer propaganda associando o consumo dessas bebidas ao bemestar, além de lançar marcas mais baratas, as tubaínas:

- O problema é o exagero. Temos uma cultura de que tudo tem que ser adocicado. Não existe, por exemplo, a necessidade de beber algo durante as refeições, mas criou-se o hábito.

A contrapropaganda da celulite, no entanto, também tem seus mitos. Uma latinha de refrigerante não tem poder de virar imediatamente furinhos nos quadris. Se a moça na praia não tem uma celulite sequer, suspeite de sua herança genética, mais do que o fato de ela nunca ter ingerido açúcar na vida.
- Não é a causa, mas é agravante. A gordura dos quadris gera maior recepção do hormônio feminino, o estrogênio, para o local, e este é apenas um fator de indução à celulite - explica a dermatologista Vanessa Metz, integrante da Academia Americana de Dermatologia. - As células de gordura com pior irrigação sanguínea também têm propensão à celulite. E nas mulheres, a gordura se acumula de forma perpendicular à pele, o que também contribui para o problema.


Fonte: O Globo

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