Marina Silva não gosta do termo “capital”, mas ele é inevitável aqui: dona de um capital de 20 milhões de votos em 2010, ela é candidata quase certa às eleições presidenciais do ano que vem. Nas primeiras pesquisas de intenção de voto incluindo os quatro presidenciáveis mais prováveis, ela aparece à frente de Aécio Neves e Eduardo Campos. Para ser uma alternativa em 2014, Marina precisa primeiro superar um desafio: coletar 500 mil assinaturas para que o partido que criou, a “Rede”, consiga existir. Ela recebeu a reportagem de ÉPOCA num restaurante vegetariano em Brasília. Na conversa, falou menos do novo partido e mais de suas ideias sobre o país.
ÉPOCA – O Estado brasileiro é um dos que mais cobram impostos no mundo. Só que grande parte do dinheiro vai para a máquina do Estado. A senhora não acha que o Brasil poderia ter menos ministérios e mais dinheiro para a área social, como a Constituição de 1988 prevê?
Marina Silva – Na campanha, a gente discutia muito, e não vi nenhum candidato que não estivesse defendendo reforma tributária, todas as reformas. Depois da campanha, a única reforma que acontece é a reforma do compromisso que foi feito durante a campanha. Em relação a nossos tributos, se a máquina pública aumenta para atender ao provimento de bens e serviços de que a sociedade precisa, tem uma lógica. Se a máquina pública aumenta apenas para atender à distribuição de cargos dentro do governo para contemplar bases políticas, isso acaba se constituindo num imenso prejuízo para aquilo que deveriam ser os investimentos públicos estratégicos. O que observo é a privatização de nacos do Estado pelos partidos.
Marina Silva – Na campanha, a gente discutia muito, e não vi nenhum candidato que não estivesse defendendo reforma tributária, todas as reformas. Depois da campanha, a única reforma que acontece é a reforma do compromisso que foi feito durante a campanha. Em relação a nossos tributos, se a máquina pública aumenta para atender ao provimento de bens e serviços de que a sociedade precisa, tem uma lógica. Se a máquina pública aumenta apenas para atender à distribuição de cargos dentro do governo para contemplar bases políticas, isso acaba se constituindo num imenso prejuízo para aquilo que deveriam ser os investimentos públicos estratégicos. O que observo é a privatização de nacos do Estado pelos partidos.
ÉPOCA – O que a senhora chama de privatização do Estado?
Marina – Os partidos viraram donos de nacos do Estado. Cada partido é dono de um setor – energia, educação... Não importa o que acontecer, você sabe que pode até mudar aquela pessoa, mas o dono daquela cadeira é aquele partido. Um dia desses, vi uma notícia que não sei nem se é verdade. Dizia que o Ministério da Microempresa ninguém quer. Porque as pessoas querem ministérios mais avantajados.
ÉPOCA – Por falar em privatizações, qual sua opinião sobre as privatizações do governo FHC e do governo Dilma?
Marina – Algumas privatizações feitas no governo anterior tiveram o problema da visibilidade e da transparência, mas tiveram resultados. Hoje, ninguém advoga que o sistema de telefonia brasileira continuasse como era antes. O Brasil, nos últimos anos, conseguiu privatizar alguns setores importantes da economia e preservar alguns que deviam ser preservados. Isso não significa que as coisas devam ser feitas sempre de cima para baixo, sem transparência, sem um envolvimento maior da sociedade brasileira.
ÉPOCA – A Petrobras atualmente atende a algumas demandas governamentais, e isso acaba depreciando seu valor. Qual sua opinião sobre isso? A Petrobras precisa ser privatizada para se reerguer?
Marina – A Petrobras, com o controle do Estado, se não usada politicamente, cumpre seu papel. Muitas vezes, porém, empregam-se políticas de curto prazo para alongar o prazo dos políticos. A Petrobras é uma empresa importante, estratégica, que paga um preço em função dessas ações que se ligam mais a ações da conjuntura política e econômica. A gente tem de ter uma visão de longo prazo.
ÉPOCA – O que a senhora acha do pastor Marco Feliciano?
Marina – Discordo dele. Mas discordo dele discordando do governo. Quem negociou a ida de Feliciano para a comissão foi o governo, para ampliar a base política. O governo negocia a Comissão de Assuntos Econômicos? O governo negocia a Comissão de Constituição e Justiça com essa facilidade? Não. Mas as comissões de Meio Ambiente e de Direitos Humanos o governo negocia.
ÉPOCA – Feliciano foi criticado por uma parcela da sociedade por ser contra o casamento gay. A senhora é a favor?
Marina – Os direitos civis das pessoas devem ser respeitados. Somos um Estado laico, e um Estado laico é para defender os direitos dos que creem e dos que não creem. As pessoas têm o direito de ser bem tratadas em igualdade de condição perante a Constituição Federal, perante as leis. O que não se pode é fazer extrapolações. Os direitos civis das pessoas não podem cercear a liberdade religiosa. Os padres e pastores têm o direito de continuar fazendo suas preleções em relação aos princípios de seus livros sagrados.
Marina – Os partidos viraram donos de nacos do Estado. Cada partido é dono de um setor – energia, educação... Não importa o que acontecer, você sabe que pode até mudar aquela pessoa, mas o dono daquela cadeira é aquele partido. Um dia desses, vi uma notícia que não sei nem se é verdade. Dizia que o Ministério da Microempresa ninguém quer. Porque as pessoas querem ministérios mais avantajados.
ÉPOCA – Por falar em privatizações, qual sua opinião sobre as privatizações do governo FHC e do governo Dilma?
Marina – Algumas privatizações feitas no governo anterior tiveram o problema da visibilidade e da transparência, mas tiveram resultados. Hoje, ninguém advoga que o sistema de telefonia brasileira continuasse como era antes. O Brasil, nos últimos anos, conseguiu privatizar alguns setores importantes da economia e preservar alguns que deviam ser preservados. Isso não significa que as coisas devam ser feitas sempre de cima para baixo, sem transparência, sem um envolvimento maior da sociedade brasileira.
ÉPOCA – A Petrobras atualmente atende a algumas demandas governamentais, e isso acaba depreciando seu valor. Qual sua opinião sobre isso? A Petrobras precisa ser privatizada para se reerguer?
Marina – A Petrobras, com o controle do Estado, se não usada politicamente, cumpre seu papel. Muitas vezes, porém, empregam-se políticas de curto prazo para alongar o prazo dos políticos. A Petrobras é uma empresa importante, estratégica, que paga um preço em função dessas ações que se ligam mais a ações da conjuntura política e econômica. A gente tem de ter uma visão de longo prazo.
ÉPOCA – O que a senhora acha do pastor Marco Feliciano?
Marina – Discordo dele. Mas discordo dele discordando do governo. Quem negociou a ida de Feliciano para a comissão foi o governo, para ampliar a base política. O governo negocia a Comissão de Assuntos Econômicos? O governo negocia a Comissão de Constituição e Justiça com essa facilidade? Não. Mas as comissões de Meio Ambiente e de Direitos Humanos o governo negocia.
ÉPOCA – Feliciano foi criticado por uma parcela da sociedade por ser contra o casamento gay. A senhora é a favor?
Marina – Os direitos civis das pessoas devem ser respeitados. Somos um Estado laico, e um Estado laico é para defender os direitos dos que creem e dos que não creem. As pessoas têm o direito de ser bem tratadas em igualdade de condição perante a Constituição Federal, perante as leis. O que não se pode é fazer extrapolações. Os direitos civis das pessoas não podem cercear a liberdade religiosa. Os padres e pastores têm o direito de continuar fazendo suas preleções em relação aos princípios de seus livros sagrados.
ÉPOCA – Um pastor pode pregar contra homossexuais?
Marina – Um pastor que é de fato um pastor não prega contra homossexual. Ele não pode ser proibido, no entanto, de falar sobre aquilo que a Bíblia considera pecado. Se houver essa proibição, em vez de combater a homofobia, você está criando a cristofobia ou a religiofobia. Um padre ou um pastor dizer que homossexualismo, aborto ou qualquer outra coisa que a gente faça – beber cachaça, fumar cigarro, sei lá o quê – é pecado, para mim isso não é discriminação, isso é liberdade religiosa. Se você não acredita em pecado, se não acredita em Deus, você não está nem aí se alguém disser “é pecado você fumar, é pecado você cortar o cabelo”. Então, isso não é discriminação. Se alguém vai ridicularizar alguém por ser gay, onde seja que for, até mesmo num púlpito, isso não é nem inconstitucional, isso é anticristão. Não acho que um pastor possa destratar ou satirizar ninguém por sua condição humana.
Marina – Um pastor que é de fato um pastor não prega contra homossexual. Ele não pode ser proibido, no entanto, de falar sobre aquilo que a Bíblia considera pecado. Se houver essa proibição, em vez de combater a homofobia, você está criando a cristofobia ou a religiofobia. Um padre ou um pastor dizer que homossexualismo, aborto ou qualquer outra coisa que a gente faça – beber cachaça, fumar cigarro, sei lá o quê – é pecado, para mim isso não é discriminação, isso é liberdade religiosa. Se você não acredita em pecado, se não acredita em Deus, você não está nem aí se alguém disser “é pecado você fumar, é pecado você cortar o cabelo”. Então, isso não é discriminação. Se alguém vai ridicularizar alguém por ser gay, onde seja que for, até mesmo num púlpito, isso não é nem inconstitucional, isso é anticristão. Não acho que um pastor possa destratar ou satirizar ninguém por sua condição humana.
ÉPOCA – A senhora é a favor de que a lei do aborto seja mantida do jeito que está?
Marina – Do jeito que ela está, em relação à situação de risco para a mãe e para o feto, isso já é uma questão decidida e está mantida. Em relação à legalização das drogas e do aborto, defendi um plebiscito.
ÉPOCA – Voltando para a questão da educação. Um dos gargalos nessa área é uma mentalidade, dentro da universidade, um pouco avessa à cultura do mérito: fazer avaliações de desempenho e pagar salários melhores para quem cumpre determinadas metas. A senhora acha que é necessário ter uma cultura mais meritocrática na academia?
Marina – Se a gente exigir a meritocracia como um fim em si mesmo, sem dar as condições e as oportunidades para que as pessoas possam adquirir os méritos, é uma exigência injusta. Se as pessoas continuam com salários precários, sem formação continuada para desenvolver seu desempenho como profissionais, como você exigirá o desempenho? Se é concedida uma base de oportunidades para que as pessoas possam desenvolver suas potencialidades, os sistemas de avaliação são bons.
Marina – Do jeito que ela está, em relação à situação de risco para a mãe e para o feto, isso já é uma questão decidida e está mantida. Em relação à legalização das drogas e do aborto, defendi um plebiscito.
ÉPOCA – Voltando para a questão da educação. Um dos gargalos nessa área é uma mentalidade, dentro da universidade, um pouco avessa à cultura do mérito: fazer avaliações de desempenho e pagar salários melhores para quem cumpre determinadas metas. A senhora acha que é necessário ter uma cultura mais meritocrática na academia?
Marina – Se a gente exigir a meritocracia como um fim em si mesmo, sem dar as condições e as oportunidades para que as pessoas possam adquirir os méritos, é uma exigência injusta. Se as pessoas continuam com salários precários, sem formação continuada para desenvolver seu desempenho como profissionais, como você exigirá o desempenho? Se é concedida uma base de oportunidades para que as pessoas possam desenvolver suas potencialidades, os sistemas de avaliação são bons.
ÉPOCA – Em relação à saúde, é possível alcançar um sistema de atendimento universal com qualidade semelhante à do setor privado?
Marina – Eu pergunto: existe essa qualidade mesmo nos planos de saúde? O SUS é uma engenharia muito bem-feita que, se implementada adequadamente, pode, sim, dar um bom retorno. Existe um trabalho que pode ser feito de promoção de saúde que, infelizmente, na lógica da saúde no Brasil e em vários lugares, não acontece. A grande quantidade de agrotóxico usada nos alimentos, que prejudica a saúde das pessoas, é algo que deveria ser questionado. É preciso criar uma lógica em que a política de promoção de saúde seja tão importante quanto a política de prevenção e a política de tratamento. Não é só uma questão de investimento. É também isso.
ÉPOCA – A senhora atualmente usa o SUS?
Marina – Uso os dois sistemas. As últimas consultas que fiz pelo Incor, fiz pelo SUS. Vou àquilo que está mais acessível. Se eu estiver numa crise alérgica como tenho às vezes, vou no primeiro hospital que tiver.
ÉPOCA – Continuando na área dos programas sociais, dá para imaginar que, a curto prazo, as pessoas que hoje dependem do Bolsa Família possam viver dignamente sem essa ajuda estatal?
Marina – O Bolsa Família é cerca de 0,5% do orçamento. E as pessoas fazem um estardalhaço enorme. O Bolsa Família é um programa de transferência de renda com contrapartidas simples, muito eficiente para o combate à miséria extrema. O que a gente precisa é ter um programa de inclusão produtiva. Que possa promover com as famílias processos de avaliação das oportunidades de que elas dispõem para que possam se tornar independentes do Bolsa Família. Existem programas assim no Chile e, na campanha de 2010, propusemos isso. Porque, muitas vezes, uma família, ou por falta de informação ou por falta de tempo, por uma série de razões, não vislumbra as oportunidades de uma inclusão produtiva que lhe tire da dependência.
ÉPOCA – A senhora mencionou a questão da inovação. Por que, em sua opinião, a economia brasileira é menos inovadora do que deveria ser? E como fazer para tornar a economia brasileira mais inovadora?
Marina – A crise que estamos vivendo não é uma crise só econômica. É uma crise econômica, social, ambiental e, eu diria, também política e de valores. Estamos vivendo uma crise civilizacional. No meu entendimento, o Brasil é o país que reúne as melhores condições para a quebra de paradigmas sem grandes traumas. Somos um país razoavelmente industrializado. Temos uma base de recursos naturais fantástica. Somos um grande fornecedor de alimentos e de matéria-prima do mundo. É aí que a tecnologia, a inovação, o conhecimento e uma outra visão do Estado devem entrar em cena, para fazer com que, paralelamente a esse modelo que está em estagnação, a gente possa ir criando um novo modelo da economia, de baixo carbono. A mudança do modelo é uma política que deve fazer parte de uma agenda estratégica, pactuada com o conjunto da sociedade brasileira. Na Alemanha, não importa se o governo é social-democrata ou conservador. Existe uma agenda comum, que não muda quando o governo muda.
ÉPOCA – A Alemanha é um país que a senhora considera modelo para o Brasil?
Marina – Não acho que é um modelo para o Brasil. Estou dizendo é que eles têm um investimento de longo prazo para a realidade deles. Podemos ter uma agenda de longo prazo que, independentemente de quem seja o partido, deva ser perseguida e não possa ser mudada ao sabor da conjuntura. Para mim, o Brasil está para o século XXI como os Estados Unidos estiveram para o século XX. No padrão de desenvolvimento do século XX, este que está estagnado, eles conseguiram, competindo com países de cultura milenar, ser mais desenvolvidos do que eles. Hoje, a grande esperança para essa estagnação vem dos países emergentes. Entre os países emergentes, o Brasil reúne as melhores condições.
Marina – Eu pergunto: existe essa qualidade mesmo nos planos de saúde? O SUS é uma engenharia muito bem-feita que, se implementada adequadamente, pode, sim, dar um bom retorno. Existe um trabalho que pode ser feito de promoção de saúde que, infelizmente, na lógica da saúde no Brasil e em vários lugares, não acontece. A grande quantidade de agrotóxico usada nos alimentos, que prejudica a saúde das pessoas, é algo que deveria ser questionado. É preciso criar uma lógica em que a política de promoção de saúde seja tão importante quanto a política de prevenção e a política de tratamento. Não é só uma questão de investimento. É também isso.
ÉPOCA – A senhora atualmente usa o SUS?
Marina – Uso os dois sistemas. As últimas consultas que fiz pelo Incor, fiz pelo SUS. Vou àquilo que está mais acessível. Se eu estiver numa crise alérgica como tenho às vezes, vou no primeiro hospital que tiver.
ÉPOCA – Continuando na área dos programas sociais, dá para imaginar que, a curto prazo, as pessoas que hoje dependem do Bolsa Família possam viver dignamente sem essa ajuda estatal?
Marina – O Bolsa Família é cerca de 0,5% do orçamento. E as pessoas fazem um estardalhaço enorme. O Bolsa Família é um programa de transferência de renda com contrapartidas simples, muito eficiente para o combate à miséria extrema. O que a gente precisa é ter um programa de inclusão produtiva. Que possa promover com as famílias processos de avaliação das oportunidades de que elas dispõem para que possam se tornar independentes do Bolsa Família. Existem programas assim no Chile e, na campanha de 2010, propusemos isso. Porque, muitas vezes, uma família, ou por falta de informação ou por falta de tempo, por uma série de razões, não vislumbra as oportunidades de uma inclusão produtiva que lhe tire da dependência.
ÉPOCA – A senhora mencionou a questão da inovação. Por que, em sua opinião, a economia brasileira é menos inovadora do que deveria ser? E como fazer para tornar a economia brasileira mais inovadora?
Marina – A crise que estamos vivendo não é uma crise só econômica. É uma crise econômica, social, ambiental e, eu diria, também política e de valores. Estamos vivendo uma crise civilizacional. No meu entendimento, o Brasil é o país que reúne as melhores condições para a quebra de paradigmas sem grandes traumas. Somos um país razoavelmente industrializado. Temos uma base de recursos naturais fantástica. Somos um grande fornecedor de alimentos e de matéria-prima do mundo. É aí que a tecnologia, a inovação, o conhecimento e uma outra visão do Estado devem entrar em cena, para fazer com que, paralelamente a esse modelo que está em estagnação, a gente possa ir criando um novo modelo da economia, de baixo carbono. A mudança do modelo é uma política que deve fazer parte de uma agenda estratégica, pactuada com o conjunto da sociedade brasileira. Na Alemanha, não importa se o governo é social-democrata ou conservador. Existe uma agenda comum, que não muda quando o governo muda.
ÉPOCA – A Alemanha é um país que a senhora considera modelo para o Brasil?
Marina – Não acho que é um modelo para o Brasil. Estou dizendo é que eles têm um investimento de longo prazo para a realidade deles. Podemos ter uma agenda de longo prazo que, independentemente de quem seja o partido, deva ser perseguida e não possa ser mudada ao sabor da conjuntura. Para mim, o Brasil está para o século XXI como os Estados Unidos estiveram para o século XX. No padrão de desenvolvimento do século XX, este que está estagnado, eles conseguiram, competindo com países de cultura milenar, ser mais desenvolvidos do que eles. Hoje, a grande esperança para essa estagnação vem dos países emergentes. Entre os países emergentes, o Brasil reúne as melhores condições.
ÉPOCA – A senhora poderia elaborar um pouco melhor o que enxerga como crise da civilização.
Marina – Vivemos uma crise que se constitui de múltiplas crises. Estamos vivendo uma crise econômica, uma crise social e uma crise política. E temos uma crise de valores. Que, no meu entendimento, é a base para as demais. Quatro grandes crises configurando uma crise é uma crise civilizatória. Primeiro, vamos considerar que não temos acervo de experiências no enfrentamento de crises civilizatórias. Os gregos entraram em crise e conseguiram sair da crise e do colapso? Os romanos entraram e conseguiram sair do seu colapso? Os egípcios entraram e conseguiram sair do seu colapso? Qual é a diferença entre nós e eles? É que, nessas crises, enquanto uma nação fenecia, outra florescia. A crise não abarcava a totalidade do planeta nem da humanidade. Estamos vivendo um momento em que mesmo a civilização ashaninka (indígenas da região do Acre e Peru), que não contribui em nada para a crise, está dentro da crise do mesmo jeito. Há um questionamento de natureza mais profunda e uma pergunta a ser feita. Não é o que queremos fazer para sair da crise. É o que queremos ser como civilização, como raça humana.
ÉPOCA – O que a Rede tem de diferente dos demais partidos?
Marina – Em primeiro lugar, pensar algo que seja para além das eleições e contribua com a mudança do sistema político e da cultura política que a gente tem. No início da jornada do PT, do PSDB, do PMDB e do PV, eles também tinham esse objetivo. Passaram-se algumas décadas, e hoje se configuram como partidos, mais baseados em estratégias eleitorais. Outra questão importante, para nós, é colocar a sustentabilidade como eixo estratégico do programa, envolvendo amplos setores da sociedade. Queremos fazer uma transformação baseada em conhecimento, tecnologia e informação.
Marina – Vivemos uma crise que se constitui de múltiplas crises. Estamos vivendo uma crise econômica, uma crise social e uma crise política. E temos uma crise de valores. Que, no meu entendimento, é a base para as demais. Quatro grandes crises configurando uma crise é uma crise civilizatória. Primeiro, vamos considerar que não temos acervo de experiências no enfrentamento de crises civilizatórias. Os gregos entraram em crise e conseguiram sair da crise e do colapso? Os romanos entraram e conseguiram sair do seu colapso? Os egípcios entraram e conseguiram sair do seu colapso? Qual é a diferença entre nós e eles? É que, nessas crises, enquanto uma nação fenecia, outra florescia. A crise não abarcava a totalidade do planeta nem da humanidade. Estamos vivendo um momento em que mesmo a civilização ashaninka (indígenas da região do Acre e Peru), que não contribui em nada para a crise, está dentro da crise do mesmo jeito. Há um questionamento de natureza mais profunda e uma pergunta a ser feita. Não é o que queremos fazer para sair da crise. É o que queremos ser como civilização, como raça humana.
ÉPOCA – O que a Rede tem de diferente dos demais partidos?
Marina – Em primeiro lugar, pensar algo que seja para além das eleições e contribua com a mudança do sistema político e da cultura política que a gente tem. No início da jornada do PT, do PSDB, do PMDB e do PV, eles também tinham esse objetivo. Passaram-se algumas décadas, e hoje se configuram como partidos, mais baseados em estratégias eleitorais. Outra questão importante, para nós, é colocar a sustentabilidade como eixo estratégico do programa, envolvendo amplos setores da sociedade. Queremos fazer uma transformação baseada em conhecimento, tecnologia e informação.
ÉPOCA – A senhora acha que a política mudou?
Marina – A política está mudando. É possível conseguir a mobilização de milhares de pessoas pelas redes sociais. Antigamente, para chegar a esses números, era necessário um esforço enorme, um sindicato trabalhando um ano, dois anos mobilizando.
ÉPOCA – Mas qual o efeito prático disso?
Marina – Isso vai transbordar. E já deveria transbordar. Assinatura eletrônica é um direito mesmo só dos políticos? Do presidente da República, do ministro, do deputado, do senador, do empresário, do diretor? Ou isso já deveria ser um direito de todos os cidadãos, ter uma assinatura eletrônica?
ÉPOCA – A senhora diria para as pessoas que hoje fazem abaixo-assinados irem para as ruas?
Marina – A gente tem de entender que existem formas mistas de política. Quando eles sentirem necessidade de ir para as ruas, irão.
ÉPOCA – Mas ir às ruas é a forma mais eficaz de provocar mudanças concretas?
Marina – Não sei se é a forma mais eficaz, era a nossa forma. E as pessoas não percebem que, mais cedo ou mais tarde, isso transbordará. Já está transbordando. A eleição do Obama faz parte desse transbordamento. Os 20 milhões de votos que tive não são pelos meus olhos negros. É parte desse transbordamento. Para mim, as lideranças carismáticas têm uma vida curta. E olha que sou uma liderança carismática, eu acho. E resolvi usar o carisma que tenho para convencer as pessoas de que não dependam de carisma.
Marina – A política está mudando. É possível conseguir a mobilização de milhares de pessoas pelas redes sociais. Antigamente, para chegar a esses números, era necessário um esforço enorme, um sindicato trabalhando um ano, dois anos mobilizando.
ÉPOCA – Mas qual o efeito prático disso?
Marina – Isso vai transbordar. E já deveria transbordar. Assinatura eletrônica é um direito mesmo só dos políticos? Do presidente da República, do ministro, do deputado, do senador, do empresário, do diretor? Ou isso já deveria ser um direito de todos os cidadãos, ter uma assinatura eletrônica?
ÉPOCA – A senhora diria para as pessoas que hoje fazem abaixo-assinados irem para as ruas?
Marina – A gente tem de entender que existem formas mistas de política. Quando eles sentirem necessidade de ir para as ruas, irão.
ÉPOCA – Mas ir às ruas é a forma mais eficaz de provocar mudanças concretas?
Marina – Não sei se é a forma mais eficaz, era a nossa forma. E as pessoas não percebem que, mais cedo ou mais tarde, isso transbordará. Já está transbordando. A eleição do Obama faz parte desse transbordamento. Os 20 milhões de votos que tive não são pelos meus olhos negros. É parte desse transbordamento. Para mim, as lideranças carismáticas têm uma vida curta. E olha que sou uma liderança carismática, eu acho. E resolvi usar o carisma que tenho para convencer as pessoas de que não dependam de carisma.
Revista Época
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