A estudante Íris Marta de Souza abre a porta da sala de aula, cumprimenta o professor e timidamente se acomoda, encontrando seu espaço em meio aos mais jovens, muitos dos quais teclam ansiosamente seus celulares. Com 65 anos, em busca do sonho de se tornar pedagoga, prestou o vestibular para uma instituição de ensino superior do Rio de Janeiro e tornou-se, com muito orgulho, uma jovem aprendiz. Curiosa, tem grandes expectativas sobre o curso e um único receio: será que conseguirá superar esse importante desafio, o mais recente que a vida lhe ofereceu?
Assim como Íris, uma ex-garí que sonha se tornar professora, milhares de jovens aprendizes em nossas universidades não se definem mais pela idade cronológica, mas sim pela mente aberta e pelo desejo de continuar a jornada de aprendizagem, seja pela simples satisfação de ter a sua curiosidade saciada ou pelo sonho de seguir uma nova carreira. Hoje, no Brasil, dos 6,7 milhões de estudantes universitários, 28,12% tem mais do que 30 anos. Afinal, é sempre tempo de começar. Ou de recomeçar.
Até poucos anos atrás, os neurocientistas acreditavam que o cérebro humano estava plenamente formado após a adolescência, com todos os neurônios e suas conexões estabelecidos, imutáveis. Hoje, já se sabe que o cérebro é dinâmico, se reconfigura a cada experiência, e que a chamada neuroplasticidade permite que se aprenda a vida inteira. Estamos, portanto, permanentemente em aprendizagem, estimulados por uma vida saudável, repleta de experiências interessantes e prazerosas.
Essa nova realidade científica traz alento aos educadores que se dedicam à Andragogia, ou a ciência da aprendizagem de adultos. Esses especialistas pesquisam questões fundamentais na educação de adultos, diferentes das questões tradicionais da Pedagogia, tais como a melhor forma de motivá-los, como valorizar a sabedoria que vem com a experiência de vida na sala de aula, como relacionar a aprendizagem às experiências concretas e como reconhecer as características cognitivas e afetivas próprias da idade na tarefa de aprender. Enfim, tratam o adulto em todas as suas dimensões, buscando métodos, técnicas e ferramentas que os tornem aprendizes eficazes e satisfeitos.
No entanto, mesmo otimistas sobre a real possibilidade da aprendizagem permanente, sonho de consumo de todos os educadores, é importante alertar sobre o risco da exclusão etária em nossas universidades atuais: que tipos de ambiente de aprendizagem estão sendo oferecidos? Temos realmente um modelo amplo de inclusão etária, no qual a metodologia, as técnicas e as ferramentas são de fato adequadas aos estudantes mais maduros, ou estamos correndo o risco da ditadura dos mais jovens, uma espécie de “puericracia” na qual o conflito geracional impeça uma plena integração? Os professores estão realmente preparados para lidar com essa nova clientela? Quantas Íris terão que vencer eventuais preconceitos, até que sejam plenamente aceitas e integradas nas universidades?
Criar mais e melhores oportunidades de estudo para os mais velhos, em ambientes que promovam o uso de novas tecnologias educacionais ligadas à melhoria das funções cognitivas, além de espaços de integração social e cultural (muitos chegam ao ensino superior pela primeira vez) é tarefa de todos os gestores educacionais, conscientes de que, se a sabedoria vem com a idade, o conhecimento não pode ficar distante.
* Artigo publicado no Jornal O Globo, em 03.08.2013.
* Celso Niskier é presidente do CE de Educação da ACRJ e é reitor da UniCarioca
Assim como Íris, uma ex-garí que sonha se tornar professora, milhares de jovens aprendizes em nossas universidades não se definem mais pela idade cronológica, mas sim pela mente aberta e pelo desejo de continuar a jornada de aprendizagem, seja pela simples satisfação de ter a sua curiosidade saciada ou pelo sonho de seguir uma nova carreira. Hoje, no Brasil, dos 6,7 milhões de estudantes universitários, 28,12% tem mais do que 30 anos. Afinal, é sempre tempo de começar. Ou de recomeçar.
Até poucos anos atrás, os neurocientistas acreditavam que o cérebro humano estava plenamente formado após a adolescência, com todos os neurônios e suas conexões estabelecidos, imutáveis. Hoje, já se sabe que o cérebro é dinâmico, se reconfigura a cada experiência, e que a chamada neuroplasticidade permite que se aprenda a vida inteira. Estamos, portanto, permanentemente em aprendizagem, estimulados por uma vida saudável, repleta de experiências interessantes e prazerosas.
Essa nova realidade científica traz alento aos educadores que se dedicam à Andragogia, ou a ciência da aprendizagem de adultos. Esses especialistas pesquisam questões fundamentais na educação de adultos, diferentes das questões tradicionais da Pedagogia, tais como a melhor forma de motivá-los, como valorizar a sabedoria que vem com a experiência de vida na sala de aula, como relacionar a aprendizagem às experiências concretas e como reconhecer as características cognitivas e afetivas próprias da idade na tarefa de aprender. Enfim, tratam o adulto em todas as suas dimensões, buscando métodos, técnicas e ferramentas que os tornem aprendizes eficazes e satisfeitos.
No entanto, mesmo otimistas sobre a real possibilidade da aprendizagem permanente, sonho de consumo de todos os educadores, é importante alertar sobre o risco da exclusão etária em nossas universidades atuais: que tipos de ambiente de aprendizagem estão sendo oferecidos? Temos realmente um modelo amplo de inclusão etária, no qual a metodologia, as técnicas e as ferramentas são de fato adequadas aos estudantes mais maduros, ou estamos correndo o risco da ditadura dos mais jovens, uma espécie de “puericracia” na qual o conflito geracional impeça uma plena integração? Os professores estão realmente preparados para lidar com essa nova clientela? Quantas Íris terão que vencer eventuais preconceitos, até que sejam plenamente aceitas e integradas nas universidades?
Criar mais e melhores oportunidades de estudo para os mais velhos, em ambientes que promovam o uso de novas tecnologias educacionais ligadas à melhoria das funções cognitivas, além de espaços de integração social e cultural (muitos chegam ao ensino superior pela primeira vez) é tarefa de todos os gestores educacionais, conscientes de que, se a sabedoria vem com a idade, o conhecimento não pode ficar distante.
* Artigo publicado no Jornal O Globo, em 03.08.2013.
* Celso Niskier é presidente do CE de Educação da ACRJ e é reitor da UniCarioca
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