A guerra na Síria se arrasta há meses e conta mortos aos milhares
Rio - Os indícios cada vez maiores de que armas químicas foram usadas na
Síria contornam com cores ofuscantes o já berrante esboço de um mundo que finge
ser um, mas na verdade é outro, muito pior. E o desenho que surge desses
rabiscos é sinistro: uma falsa liberdade, arbitrariedades e ataques
crudelíssimos e inesperados.
A guerra na Síria se arrasta há meses e conta mortos aos milhares. Incomoda
sobremaneira a inação do dito ‘mundo ocidental’, que só agora, com a denúncia da
barbárie indiscriminada da química fatal, parece de fato levantar-se do sofá.
Por muito menos empreenderam-se invasões em nome de uma paz que mais se
assemelhava à manutenção ou à construção de interesses.
Mas o ‘mundo ocidental’ é o que mais traz motivos de vergonha, como este
espaço discutiu esta semana. O escândalo da vigilância inescrupulosa, a defesa
incondicional da espionagem e o uso de práticas despóticas para sustentá-la
deveriam assustar. Sabe-se lá por quê, há uma condescendência com esses feitos,
como se vigorasse salvo-conduto para cometer essas aberrações cívicas, como a
detenção de David Miranda.
O que as duas situações — Síria e espionagem — têm em comum? Ambas prosperam
com mentiras. A primeira, se confirmada, prova que o programa de armas químicas,
que devia ter sido banido do mundo desde a virada do século, ainda está ativo.
Se foi usada para aniquilar forças rebeldes contra um governo tirano e poderoso,
pode vir a ser em inesperados ataques terroristas.
A segunda mentira atenua malfeitos e cerceia as liberdades. Espera-se que não
degrade ainda mais para alcançar seus objetivos.
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