quinta-feira, 16 de abril de 2015

Te Contei, não ? - A Dama das Camélias

A adorável Marguerite Gautier, protagonista do romance cujo título é seu apelido,
Dama das Camélias, foi inspirada em Marie Duplessis, amante do autor, Alexandre Dumas Filho. O narrador a definiu como “uma dessas damas que esparramam, em Paris, a insolente opulência de sua beleza, de suas joias e de seus escândalos”, mas eu acho que ela é muito mais do que isso. No início do romance, Marguerite já está morta, vítima de tuberculose.  Num leilão estão à venda os móveis da falecida cortesã,  e o narrador diz que Deus fora clemente com ela por tê-la deixado “morrer em seu luxo e beleza”.


Marguerite Gautier é chamada de Dama das Camélias porque nunca foi vista com outras flores que não camélias. Ela conhece num camarote de teatro o homem que seria sua grande e fatal paixão, Armand Duval. Marguerite  zomba de Armand e o ridiculariza. Mais tarde, em uma festa, ele a ajuda e se mostra realmente preocupado quando ela mostra sinais de sua doença. Ela fica desconcertada e enternecida. Armand se apaixona por ela e Marguerite retribui o sentimento. “Ser realmente amado por uma cortesã é uma vitória muito difícil”, afirma o narrador, “pois no caso delas o corpo gastou a alma, os sentidos queimaram o coração a devassidão arruinou os sentimentos.”

Raras vezes na história da literatura uma prostituta foi tratada com tanta delicadeza, com tanta compreensão, com tanto realismo – e com tanto amor. Marguerite Gautier continua a fascinar leitores e leitoras, mais de 150 anos depois de o romance de Dumas Filho ter sido lançado. É como se, na nossa imaginação, ela tivesse vivido para sempre no esplendor, linda e desejada, em meio a suas camélias. Ela passou brilhantamente pelo teste do tempo, que consagra ou deleta as criações literárias. Por tudo isso, tem um lugar de honra na lista das maiores personagens da literatura mundial.

Oscar Wilde escreveu que é possível a um homem ser feliz com uma mulher, desde que não a ame. O oposto é também verdadeiro. Marguerite e Armand se amaram – e portanto, segundo a incontestável lógica wildiana, foram infelizes. Tragicamente infelizes. Ainda que apaixonada por Armand, Marguerite continuou mantendo outros amantes. Em uma noite, diz a Armand, para quem tinha dado a chave de sua casa, que está doente. O jovem ciumento observa o portão de sua casa e percebe a entrada de um dos protetores aristocráticos de Marguerite. Ressentido, Armand lhe devolve a chave, mas logo a perdoa, incapaz de odiá-la por muito tempo. Apaixonados, vão embora para o campo, onde vivem por algum tempo. “Nos apressávamos em ser felizes”, recordaria depois ele, “como se houvéssemos adivinhado que não poderíamos ser durante muito tempo”.

E realmente não são. Persuadida pelo pai de Armand, Marguerite vai embora, deixando para trás somente uma carta, na qual afirma que é amante de outro homem, e que ele deve esquecer bem rápido “aquela moça perdida que chamam Marguerite”. Louco de ciúmes, Armand volta para Paris e descobre que Marguerite retornou a seu antigo trabalho. Procurando vingança, passa a sustentar uma das rivais de Marguerite. A Dama das Camélias está cada vez mais enferma; quase não dorme, vai a todos os bailes, ceia e fica violentamente embriagada. Os dois se reencontram, e passam uma noite juntos. No dia seguinte, ela recebe um recado do amado  — e uma grande soma de dinheiro. “A senhora partiu tão rapidamente essa manhã que esqueci de pagá-la”, diz ele. Quando Armand depois vai procurá-la, Marguerite partiu para a Inglaterra.

Armand Duval então vai fazer uma viagem pelo Oriente, e quando volta descobre que Marguerite só o deixou por ter atendido um pedido de seu pai, e que ela nunca parou de amá-lo. Tarde demais. Marguerite sucumbiu à tuberculose. Está morta e enterrada. “Essas moças, quando amam de verdade, são infelizes. Mentiram tantas vezes que não se pode mais acreditar nelas e, em meio a remorsos, são devoradas por seu amor”, afirma o narrador.

Das chamas do amor que a consumiu, Marguerite acabou saindo para se tornar imortal para milhões de leitores que se comoveram, se comovem e se comoverão com suas camélias e seu martírio.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/grandes-personagens-da-literatura-a-dama-das-camelia-esta-na-decima-posicao-da-nossa-lista/

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