sexta-feira, 24 de abril de 2015

Te contei, não ? - O Teatro Alencariano - outros olhares

José de Alencar exerceu a carreira de dramaturgo juntamente com o ofício de romancista. Veja-se a representação do escravo nas tragédias burguesas Mãe; e Demônio Familiar


O teatro, inicialmente, tinha, aqui, a intenção de "educar", ou seja, domesticar os índios, empurrando-lhes valores europeus. A carreira de José de Alencar no teatro foi efêmera, mas muito proveitosa e deslumbrante. Apontava ele os erros da burguesia, numa consciente tentativa moralizadora.

Goffman utiliza a metáfora do teatro para definir a comunicação identidária: os participantes estão engajados em um evento comunicativo de ação social; assumem o papel de atores sociais e acabam por criar um efeito dramático para manejar a apresentação do seu ser. A comunicação será o momento de construção e projeção para desejáveis versões de identidades. Essas versões serão sucessivas performances que se direcionaram a uma audiência específica. Assim, é apresentado o drama a um público do qual irá desencadear uma audiência; esta é dinâmica, pois mais de um personagem aparece, juntamente com outras linguagens (verbal ou não verbal)

Mãe: tragédia burguesa

A peça "Mãe", de José de Alencar, constitui-se de quatro atos que culminam para o fim trágico. O objetivo da apresentação e análise é entender quais os elementos utilizados por Alencar para tecer sua pintura sobre a moralidade burguesa em relação ao escravismo. A peça foi encenada em 1960, mas antes de sua estreia, ele havia publicado um artigo que praticamente estabelece uma plataforma para o teatro Realista no Brasil: além da adoção de modelos franceses, são postas, ainda, algumas ideias a respeito do drama.

A trama

Logo no primeiro ato, as personagens são apresentadas, bem como quase todo o conflito principal. O senhor Gomes, pai Da jovem Elisa, endividado, recebe a visita do oficial de justiça Vicente e do cobrador de impostos Peixoto que lhe traz os documentos financeiros a serem pagos. Gomes não tem dinheiro, e o problema vai tornar-se ainda mais grave. Peixoto diz que o documento foi falsificado e acusa Gomes como o responsável, diz-lhe que irá retornar às quatro horas para resgatar a dívida e, caso ela não seja paga, irá à polícia. Gomes, que é inocente, ameaça se matar com um vidro de veneno, por conta da vergonha pública.. Ele não tinha como provar sua inocência e tal acusação iria desonrar sua família. A filha Elisa, então, preocupada com o pai entra em pânico.

No desenvolver da trama, Elisa e Jorge declaram-se apaixonados um pelo outro, mesmo estando cientes das dificuldades do pai de Elisa, que impedem a união do casal no momento. Jorge é o personagem principal, o herói trágico. Ele é um jovem bom e trabalhador, estudante de Medicina e professor de piano da moça. Ainda no primeiro ato é apresentada à escrava Joana que mora com Jorge. Foi ela quem criou Jorge quando o padrinho que cuidava dele faleceu. Ela também presta serviços caridosamente a Elisa. Joana é a maior incentivadora do casamento dos jovens, que ruborizam todas as vezes que ela toca no assunto.

Outro andamento

No segundo ato, Joana recebe Doutor Lima na casa de Jorge. O Doutor é um antigo amigo do Jorge e uma espécie de raisonneur da peça. Esse termo é uma adoção que José de Alencar faz dos modelos teatrais franceses.

O raisonneur é um personagem que serve como porta-voz do autor. É um instrumento para desmontar o mecanismo social da época. Um comentarista de ação que critica moralmente os personagens.

Jorge acredita que o Doutor Lima é o responsável por pagar sua educação, o que é feito por Joana, sua escrava, que se revela sua mãe natural. Ela pede, no entanto, para que o Doutor jamais declare a alguém tal fato, pois teme envergonhar o jovem. Jorge chega e após saudar a volta de Lima, diz que irá concretizar um antigo desejo e entrega uma carta de alforria a Joana, que a rejeita, acaba por guardá-la quando Jorge alega que, mesmo livre, a escrava pode continuar com ele, morando com ele e próxima para cuidar dele.

O moço fica sabendo das dificuldades de Gomes e propõe a ajudá-lo, mediante um adiantamento financeiro do Doutor Lima, que sai às pressas para buscar seu dinheiro, ainda preso nos trâmites de desembarque da viagem que fez. Como o Doutor demora, pois só consegue o dinheiro para o outro dia, Jorge sai na tentativa de empenhar os móveis de sua própria casa e conseguir a quantia necessária para ajudar Gomes.

O jovem recebe na sua casa o cobrador de impostos Peixoto sem saber que ele havia ameaçado Gomes. O cobrador vai a sua casa para tratar da penhora dos bens de Jorge. Não sendo suficiente a quantia para honrar as dívidas do pai de Elisa, o usurário Peixoto propõe a Jorge que empenhe sua escrava. O moço horroriza-se com a ideia, mas revela a Joana que já havia feito um negócio semelhante anteriormente. Ela se apressa em ajudar a realizar os desejos do jovem e rasga a carta de alforria, propondo-se a ser escrava de Peixoto.

O epílogo

Jorge, sem ver saída para o caso de Gomes, aceita a proposta de Peixoto, na condição de resgatar Joana no dia seguinte com o dinheiro do Doutor Lima. O moço consegue então sanar os débitos de Gomes, mas condói-se ao ver Peixoto maltratando Joana. Quando Jorge paga a dívida de Gomes, ele vai a casa do moço com Elisa para agradecer, e Jorge aproveita a deixa e com a ajuda de Lima pede Elisa em casamento e o seu pai de imediato aceita. No dia seguinte Joana foge da casa de Peixoto, para prepara a refeição matinal de Jorge.

O Doutor Lima, já no quarto e último ato, aparece com o dinheiro, mas ao saber que, Jorge havia empenhado Joana para obter o pagamento um dia antes, até às quatro horas, como prometera o cobrador, diz escandalizado "Tu vendeste tua mãe" (ALENCAR, s/d, p. 201). Joana foge envergonhada nesse momento.

Nesse momento, Gomes desfaz o casamento; e Jorge o critica dizendo que se não fosse a escrava Gomes estaria morto. Mas o vidro de veneno foi roubado de sua casa por Elisa que o entregou a Jorge para que ele se desfizesse dele. Joana, então, encontra o vidro e diz ao rapaz que vai guardá-lo.

Todos, depois da revelação de que Joana é mãe de Jorge, saem à procura de Joana, que ao ser encontrada, está agonizando, pois havia tomado o veneno de Gomes. Joana, ainda na beira da morte, nega que seja mãe de Jorge, mesmo com ele pedindo para que o chame de filho ao menos uma vez. Joana morre nos braços de Elisa. Gomes encerra a cena dizendo que Joana abençoou a santa união dos jovens.

LUANA DA PONTE AGUIAR & STÉPHANIE MARIA DE ASSIS FERREIRA
COLABORADORAS
Do Curso de Letras da Uece

7 comentários:

  1. Alencar puxou a característica de sua família, sem limites para se expressar, dando o seu melhor. A sua carreira que mais se destacou foi a de escritor romancista e foi considerado o patriarca da literatura brasileira, além disso foi também um dos dramaturgos brasileiros de maior destaque. Porém o seu trabalho no teatro foi rápido mas proveitoso e deslumbrante. Na época o teatro tinha o objetivo de educar e ele mostrava a intenção clara de moralizar, apontava os erros da burguesia, expressando o certo. Para homenageá-lo construíram um teatro com o seu sobrenome.
    A obra que fez mais fama no Rio de Janeiro foi o “Verso e o Reverso”, mas não possuía uma qualidade dramática mas sim uma comédia ligeira. “O demônio familiar” foi a primeira comédia realista brasileira que falava de um escravo que quer casar os patrões com parceiros mais ricos e acaba sendo o capeta da trama. O castigo que ele recebe é a alforria. Fica a ideia de que o negro tem de ser protegido. Vale lembrar que o autor era um aristocrata rural.
    A peça foi escrita em meados do século XIX, tempos escravocratas e era pouco provável que os eventos contidos na peça acontecessem realmente. Era totalmente improvável que um criado, mesmo de nome Pedro, fosse tratado com modos tão corteses, por pequenos burgueses que, para justificarem a ascendência social, tinham de mostrá-la com uma suposta superioridade no tratar seus subordinados com a severidade característica dessa classe fútil. O escravo Pedro convive com todos e suas amizades, como se fosse um membro da família, fazendo e acontecendo, no papel de servo.
    Machado de Assis definiu O Demônio Familiar como uma peça que mantém o "ar de convivência e de paz doméstica que encanta desde logo". É uma definição realmente romântica da família brasileira da época, das artimanhas manhosas e da agressividade característica e auto-afirmativa de suas personagens da sala de jantar. Justifica-se em sendo, por definição, uma simples comédia de costumes.

    Maria Gabriela Naves- 801

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  2. José de Alencar pode ser mais conhecido por seus romances, mas ele também foi um grande dramaturgo, aliás, o mais destacado na segunda parte do século XIX. Como qualquer outro escritor, ele teve seus altos e baixos, mas sempre conseguia se recuperar.
    José conseguiu criar um tipo único de teatro, a crítica mesclada ao romance, que foi um dos motivos de ele ter se destacado tanto.
    Ele escreveu O demônio familiar, Mãe, O Crédito, e algumas outras que também tiveram sucesso. De todas essas peças, O Crédito foi a única que não teve um resultado muito bom, ela foi muita criticada e acabou até ''diminuindo'' a autor.
    Eu particularmente sou mais fã dos livros de José de Alencar do que de seus teatros, mas é só o meu pensamento.

    Luisa Heinle Kühner 802

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  3. Uma linda peça, que trata questões de família e de escravidão, em que a escrava, acaba por se revelar mãe do protagonista, oque acontecia muito, mediante ao fato dos donos de escravos geralmente tirarem uma "lasquinha" de suas escravas.
    No começo, Ele faz como se fosse uma história de pai de família endividado, que prefere morrer a desonrar a sua família, e de um casal apaixonado que não pode ficar junto, mas sente-se a falta de uma figura materna, pois a peça se chama Mãe. Com o desenrolar da trama, se descobre o fato da escrava ser mãe do protagonista, oque muda o rumo da obra, para o fato de Jorge vender sua própria mãe em troca do amor da sua vida.
    Nessa obra, se percebe forte a critica de Alencar as escravas que acabavam engravidando de seus senhores, não culpando o lado da escrava, mas descrevendo a dor que é você ter um filho e ele não saber que você é mãe dele, uma situação lamentável, que acontecia e ainda acontece no Brasil.
    Artur Lopes 801

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  4. O ´Teatro Alencariano' expressava as preocupações e opiniões de José de Alencar sobre a formação da sociedade brasileira e sobre a ideia dessa nação.
    Apesar de ser mais conhecido por seus Romances famosos, o autor também escreveu diversas peças como, Verso e reverso, Mãe, O demônio familiar e As asas de um anjo.
    Todas elas apresentavam alguma crítica, o que era comum em suas obras, e características como, a presença da mulher e da família, o modelo de teatro francês, mesmo porque a sociedade brasileira da época achava que tudo que vinha de fora ou da França era 'superior' ou 'melhor' que da sua terra, o interessa (capitalismo) e ressaltando sempre a escravidão, em todos os aspectos.
    Mariana Beatriz 802

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  5. Teatro "Alencariano"
    José de Alencar é mais conhecido por seus romances, mas o que poucos sabem, é que ele também foi dramaturgo - fora suas outras funções, que não vem ao caso- e teve carreira marcada por sucessos, fracassos, polêmicas e controvérsias para a época. Numa tentativa de crítica, ele sempre tentava, em suas peças, apontar os erros cometidos pela burguesia. Mesmo defendendo o realismo francês, suas peças tinham um pouco de romance e essa característica, o tornou único e insubstituível.
    Um exemplo de peça que contagiou com seu sucesso, é "o demônio familiar", onde estão presentes a moralidade e a naturalidade do texto escrito. Para alguns, essa peça representa o início do realismo, com a discussão de problemas sociais.
    Depois disso, Alencar lançou "O crédito" que, ao contrário de "o demônio familiar", foi um fracasso e em pouco tempo foi retirada de cartaz e toda essa situação fez José de Alencar desistir de sua carreira como dramaturgo.
    A resposta mais procurada, é a da seguinte pergunta: "José de Alencar foi o primeiro dramaturgo realista do Brasil, como ele mesmo se definia?" E a resposta é bem simples, sim, ele honrou seu nome e provou isso.

    Lara Gomes - 801

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  6. José de Alencar não foi só um grande romancista, também um exemplar dramaturgo, com várias peças de renome, como Mãe, Demônio Familiar, etc, e outras que não fizeram tanto sucesso, ou foram proibidas, como o Crédito, que foi um fracasso, e Asas de um Anjo, que foi retirada dos palcos por ser uma história de uma prostituta brasileira. Mas a respeito da postagem, temos duas peças com temas com escravos, que é a peça Mãe e Demônio Familiar.
    O teatro era para “instruir” os índios, como foi dito, mas a verdade não era essa. A intenção era fazer com que os índios aceitassem mais os europeus, e Alencar consegue mostrar esses erros em suas obras. Seu papel de dramaturgo pôde ter sido curto, mas valoroso.
    Através do drama, tudo pode ser explicado pelos personagens das peças. Mostrando o seu ser, e vários tipos de linguagens, tudo é explicado. Isso pode se ver na peça “Mãe” de José de Alencar.
    Posso não ter visto informações de como é o roteiro da peça , mas com o resumo na postagem, consigo compreender que na verdade o patriarca da literatura brasileira queria mostrar como a sociedade burguesa se relacionava com os escravos, e ele falou tudo com o drama e o romance, o que é impressionante.

    Davi Amaral Pereira
    802

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  7. José de Alencar é um dos romancistas mais famosos do Brasil, e como a maioria dos autores da época em que viveu, ele também escreveu peças teatrais. Essas peças ficaram bem famosas, assim como suas outras obras.
    Alencar também foi um dramaturgo de muito sucesso. Dramaturgo é a pessoa que escrevia dramas. Sendo um dramaturgo de muito sucesso, ele vai escrever obras muito conhecidas, como o Demônio familiar.
    Ele usava o teatro para passar algum tipo de mensagem para o povo em que assistia essas obras. Essas mensagens eram com o objetivo de educar, expressar um defeito de alguma coisa ou até mesmo para acabar com o preconceito. Vemos que Alencar sempre pensou de um jeito diferente do que as pessoas de sua época, ele sempre estava bem a frente, com visões de pessoas mais atuais. Ele não se deixava levar por opiniões alheias, ele focava na sua própria opinião e escrevia obras, sendo elas teatros ou livros, ou o que fosse, falando sobre a sua opinião do assunto.
    Temos Alencar como um exemplo de uma pessoa totalmente culta que vive somente da sua visão das coisas, porém, muitas das vezes, visões boas, que ao escrever o que achava, escrevia dando uma lição naqueles que não entendiam ou que interpretavam errado.

    Anna Carolina Maia - 801

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