quinta-feira, 18 de junho de 2015

Crônica do Dia - Leila para sempre Diniz - Jaguar

A atriz chocava os moralistas de plantão com frases do tipo 'Você pode muito bem gostar de uma pessoa e ir para a cama com outra'

O DIA
Rio - O verso de Drummond está na lápide de Leila Diniz no São João Batista. Levei um baita susto quando li no jornal que no próximo dia 25 ela faria 70 anos. Eu a conheci em 1960, quando tinha 15 anos, e eu, 28; já dizia palavrões de um jeito tão bonitinho que os privilegiados marmanjos e garçons do Mau Cheiro (também chamado de Morte Lenta) achavam isso muito natural, como na letra de ‘Desafinado’. Ela e suas amigas, Ira Etz, Ana Maria Saraiva, Ionita e Aninha Magalhães, trocavam, escondidas dos pais, o maiô pelo biquíni no banheiro do bar. Depois disso, o até então provinciano bairro de Ipanema nunca mais foi o mesmo. Liam, ou fingiam ler, ‘A Náusea’, de Sartre. A música de fundo era de Juliette Greco. O barquinho de Menescal e Bôscoli deslizava no macio azul do mar enquanto algumas tinham crises existenciais se dourando ao sol do Arpoador. Leila com certeza não, ela era uma mulher solar, não me lembro quem disse.



Casou-se com o invejado Domingos de Oliveira, que a consagrou no filme ‘Todas as Mulheres do Mundo’. Fez furor na revista musical ‘Tem banana na Banda’, com Marieta Severo e Maria Gladys, que faziam babar a turma do gargarejo (a primeira fila do teatro). Na célebre entrevista para ‘O Pasquim’, em 65, disse tantos palavrões que não dava — em plena ditadura militar — para publicar. Tivemos a ideia de substituí-los por asteriscos. Chocava os moralistas de plantão com frases do tipo “Você pode muito bem gostar de uma pessoa e ir para a cama com outra”. De lambuja, inventou alguns palavrões. Por exemplo, um que adorava usar: “caceta dourada!”

Para uma repórter que queria saber o que significava, respondeu na bucha: “Querida, você sabe muito bem o que é, apenas não está ligando o nome à pessoa.” Mesmo com os asteriscos, foi o estopim para a instauração da Censura Prévia à Imprensa, a chamada Lei Leila Diniz. A Globo, onde era estrela, não renovou seu contrato “por razões morais”. Com o aval de Janete Clair. A incensada autora das telenovelas disse que não havia papel de prostituta para ela (li no Google). Vamos ver se agora, nas comemorações dos 70 anos de Leila, a Globo vai homenageá-la. Fico pensando no seu legado se o avião da Japan Airlines não tivesse explodido na Índia, no dia 25 de junho de 72, matando-a aos 27 anos. Voltava da Austrália, onde tinha sido premiada como melhor atriz de um festival de cinema. Termino com outro verso, de Rita Lee, tão bom quanto o de Drummond: “Toda mulher quer ser meio Leila Diniz.”

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