Kailane, candomblecista de 11 anos, foi atingida por pedra na cabeça quando voltava do centro que frequenta na Zona Norte
ADRIANO ARAÚJO
Rio - Atingida por uma pedra na cabeça por usar trajes típicos do candomblé — a roupa branca — Kailane, de 11 anos, ainda tenta superar a agressão, sofrida no último domingo. Desde o episódio, ela evita usar a vestimenta que representa a sua religião.
"Fisicamente ela está bem, só as vezes na hora de dormir que ainda sangra um pouco. O psicológico que está complicado. Ela não quer colocar branco nem para ir ao portão", disse Kathia Coelho Maria Eduardo, avó de Kailane e conhecida no centro que ambas frenquentam como Vó Kathi.
A menina foi atingida após deixar o Centro Inzo Ria Lemdá Angola Tumbajunsara, na Vila da Penha, por um grupo de evangélicos, segundo testemunhas. Entretanto, Vó Kathi evita condenar qualquer religião.
"O sentimento é de repúdio pela atitude. Mas não estou atacando igreja nenhuma, são casos isolados de pessoas que usam as religiões para cometer crimes. Eles são criminosos, pessoas doentes, sem Deus", desabafou a candomblecista praticante há 36 anos.
Passeata será realizada nesta sexta-feira
Nesta sexta-feira, às 19h, um grupo formado por ogãs — protetores e prestadores de serviços dentro das religiões afro — realizará uma passeata para protestar contra a intolerância religiosa. Os manifestantes vão se concentrar no Largo do Bicão, na Vila da Penha, e percorrerão toda a Avenida Meriti, onde aconteceu o episódio, até a Praça do Cimento Branco, em Cordovil.
Segundo Elmo Banda de Muká, que organiza o ato, o caso com a menina Kailane é intolerável. "É lamentável. Minha mãe é zeladora (mãe de santo) e meu pai é evangélico. E vivemos em harmonia. Cada um seguiu a sua religião. Aconteceu na Bahia e agora no Rio. Isso não é da religião e sim da índole da pessoa. Queremos dar um basta nisso", disse.
Jornal O Dia
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