Inscrições esse ano caíram 2,9%, com menos 224.260 participantes. Em 1988, eram 200 mil candidatos
MARIA LUISA BARROS
Rio - Um fenômeno recente está dando novo rosto às universidades brasileiras e mudando, para melhor, a vida de milhares de famílias. O novo perfil socioeconômico dos estudantes que farão o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em outubro, revela que negros, mulheres e alunos carentes representam mais da metade dos 8,4 milhões de inscritos. Eles somam 5 milhões de candidatos que sonham passar pelo apertado funil acadêmico e garantir uma vaga nas melhores universidades do Brasil e até do exterior.
O levantamento, elaborado a partir de um questionário respondido pelos candidatos durante a inscrição, revela que as jovens representam mais da metade (57%) dos inscritos no provão nacional, confirmando a tendência de maior escolaridade entre as mulheres observada na última década. Do total, apenas 3,6 milhões são do sexo oposto.
Os participantes que se declararam negros também são maioria: 4,9 milhões. Na sequência, vêm estudantes que se inscreveram como sendo brancos, amarelos e indígenas. O balanço revelou ainda que entre os estudantes com menor renda familiar, 3,7 milhões foram isentos da taxa de inscrição por terem comprovado carência; e 1,3 milhão não pagaram, por estudarem em escolas públicas. A maior participação no exame ocorreu nas regiões Sudeste e Nordeste.
Este ano, o Ministério da Educação (MEC) registrou uma queda no número de inscritos — menos 244.260 candidatos. No entanto, se forem feitas comparações com todas as edições do exame, a deste ano só perdeu para a do ano passado, quando 8,7 milhões de pessoas participaram da prova. Em 1998, apenas 200 mil estudantes fizeram o exame. Em 2014, foram 8,7 milhões de pessoas.
Daura Pereira Sá tem 19 anos e vai fazer o Enem pela segunda vez. O sonho dela é ser promotora. “Quero poder ter uma vida sem passar necessidade. Estudo para ter um futuro melhor e ajudar a minha família. É meu principal objetivo”, disse a menina. O pai, já falecido, e a mãe, que mora no interior do Maranhão, não chegaram a completar o Ensino Fundamental. “Resolvi vir para o Rio porque aqui tem mais oportunidades. Estou estudando muito para passar para Direito”, comentou.
Thiago Neves, de 19 anos, é órfão de pai e mãe. O menino sai todos os dias de casa, na Cidade de Deus, para as aulas no pré-vestibular comunitário Invest, em Botafogo. “Tem sido uma rotina intensa. Quero dar orgulho à minha mãe, sei que ela torce por mim”, disse ele, que sempre estudou em escola pública.
Andréa Veiga, de 23 anos, sonho cursar Psicologia na UFRJ. Trabalha durante o dia e estuda à noite no Invest. “A vida acaba sendo trabalhar e estudar, e não é fácil”, comentou.
Diploma do Ensino Médio é meta de 1 milhão de alunos
Quase 1 milhão de estudantes inscritos no Enem querem garantir o diploma do Ensino Médio. O exame nacional que abre as portas para as universidades também é a chave para o mercado de trabalho, a partir da certificação conferida aos participantes que não concluíram o curso regular. Muitos estudantes abandonam o Ensino Médio, mas podem obter o diploma se apresentarem bom desempenho no Enem.
De acordo com balanço feito pelo MEC, dos 8,4 milhões de inscritos no Enem deste ano, 953.494 farão a prova, nos dias 24 e 25 de outubro, para garantir o certificado do antigo 2º grau.O número de candidatos com essa intenção é cinco vezes maior do que, há seis anos, quando o Enem passou a acumular essa função. Na época, o número de candidatos interessados no certificado foi de apenas 197.991.
Para obter o documento, os candidatos precisam tirar no mínimo 450 pontos em cada uma das áreas de conhecimento e 500 pontos na redação.
A certificação de conclusão de curso será concedida aos maiores de 18 anos que tenham informado essa opção no ato da inscrição. O levantamento revelou que embora a procura venha aumentando ano a ano, este ano o pedido foi menor do que em 2014, quando 997.131 estudantes solicitação a certificação.
A certificação não é imediata. Além de garantir a pontuação mínima, os participantes devem procurar diretamente as secretarias estaduais de Educação e os institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia, que oferecem o serviço. O MEC orienta os participantes a procurar a instituição informada na inscrição do Enem e apresentar o boletim com as notas do exame. A entrega do documento é gratuita. Não é preciso levar o histórico de conclusão do Ensino Fundamental.
Além da concessão de diploma a pontuação será usada nas seleções para mais de cem universidades e centros técnicos federais espalhados pelo país. As notas do Enem servirão de base para distribuição de bolsas de estudo no Programa Universidade para Todos (ProUni) e do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que financia estudantes em instituições privadas.
Outra oportunidade para estudantes que ingressarem em universidades pela nota do Enem é o programa Ciência sem Fronteiras, dos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação, que oferece bolsas de estudos de graduação-sanduíche (de curta duração) em instituições estrangeiras. Neste caso, concorrem alunos que cursarem a graduação em instituições públicas e privadas e da educação profissional.
*Colaborou Amanda Prado
Jornal O Dia
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