domingo, 15 de junho de 2014

Artigo de Opinião - Educar exige conhecimento - Hamilton Werneck


A permanência dos castigos físicos até nossos dias reflete o período da inquisição

O DIA
Rio - No século 18 as crianças conviviam com os adultos e eram tratadas como agradáveis ‘animais de companhia’, segundo expressão da época. Em relação à educação dos pequenos, pouco foi estudado antes do século 19. A pediatria trouxe grande contribuição, embora a sociedade europeia e ocidental considerasse educar as crianças somente a partir dos 7 anos de idade. A concepção de como a concebemos hoje é fruto da revolução industrial, que forçou a criação de creches e o surgimento de cuidadores para que, sobretudo as mães, pudessem trabalhar.


Curiosamente, uma das pedagogias que cuidam do homem como um todo dentro da perspectiva antroposófica surgiu da necessidade de trabalho das mães de uma fábrica de cigarros, a Waldorff Astória. Quando falamos de pedagogia, Waldorff estamos nos reportando a este fato histórico.
As contribuições de Décroly foram importantes por ser um pediatra. Os princípios de educação das crianças a partir do século 19 caminham na direção do maior cuidado, do desenvolvimento da psicomotricidade e do abandono gradativo dos castigos físicos, tendendo a abolir a ‘surra’ como modelo educativo.
A permanência dos castigos físicos até nossos dias reflete o período da inquisição, no ocidente — tanto a católica quanto a protestante —, mesmo que se envolva a educação que faz sofrer para corrigir, como uma participação nos sofrimentos de Cristo ao morrer na cruz. Países cristãos, mesmo com a concepção de que o ser humano foi criado à imagem e à semelhança de Deus, ousam defender que ‘bater na face’ de quem é semelhante a Ele representa um ato meritório até para aproximar esta criatura do Criador. Este contrassenso é defendido; pior que isso é a distância de comportamentos em exíguos espaços de tempo, quando os pais do nada saltam do carinho amigo à reprimenda exagerada. Isso cria na criança uma dúvida grave sobre o equilíbrio dessa figura paterna e materna, também dentro do cristianismo, na imagem do Deus criador, por eles representado.
Quando surge uma lei que reprime o castigo físico, esta sociedade, eivada de hipocrisia, a apelida de Lei da Palmada para achincalhar o texto, mostrando o seu excesso e desnecessidade. Na verdade, não querem mudar métodos, querem continuar a fazer o que sempre fizeram, sem refletir nas consequências de atos de desamor disfarçados em atos educativos. 
Registrados no Brasil são 500 mil casos anuais de agressões graves a crianças. Um basta precisa existir. E, importante salientar, que não se trata de vontade política de um partido ou outro, trata-se de amadurecimento do Congresso com razoável atraso


Hamilton Werneck é pedagogo e escritor

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