segunda-feira, 23 de junho de 2014

Artigo de Opinião - Folclore na era da globalização

Artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, 11-agosto-2001


FOLCLORE NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO
Sebastião Geraldo Breguêz (“)



            O mês de agosto é o mês internacional do folclore, quando lembramos e estudamos nossas tradições culturais populares. Dessa forma, vou lembrar aqui as idéias do jornalista e comunicador pernambucano Luiz Beltrão. Ele criou, na década de 1960, a Folkcomunicação como disciplina científica com o objetivo de analisar os impactos midiáticos das manifestações culturais das classes populares na sociedade globalizada. Ao longo dos anos, esta disciplina se transformou em importante área de reflexão acadêmica, dentro do universo comunicacional brasileiro, liderada por dois principais discípulos de Beltrão: o seu sucessor imediato, o professor Dr. Roberto Benjamin (UFRPE) e o professor Dr. José Marques de Melo (Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação). Por incentivo destes dois pesquisadores, junto com uma dezena de acadêmicos de várias partes do Brasil, foi criada a Rede Nacional de Pesquisadores de Folkcomunicação, que já realizou quatro congressos, o último em junho Campo Grande (MS), no portal do Pantanal Mato-grossense, região rica em manifestações folclóricas, mas também de raras belezas naturais. E  realizou, aqui em Beagá, o I Seminário Brasileiro de Folkcomunicação, nos dias 9-10 de agosto no Palácio das Artes.
            A proliferação de estudos e pesquisas na área de Folkcomunicação – que estuda a interface que une a Comunicação e o Folclore (Cultura Popular), com o intuito de oferecer condições para uma reflexão permanente e aprofundada da repercussão do folclore na mídia – fez com que as principais instituições nacionais e internacionais de Ciências da Comunicação criassem Núcleos e/ou Grupos de Pesquisas nesta área como: ALAIC – Associação Latino-americana de Ciências da Comunicação;FELAFACS – Federação Latino-Americana de Faculdades de Comunicação Social;LUSOCON – Federação Lusófona de Ciências da Comunicação; INTERCOM- Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. A Folkcomunicação, assim, se dedica ao estudo “do processo de intercâmbio de informações e manifestações de opiniões, idéias e atitudes da massa, através dos agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore”( Luiz Beltrão). Assim, para entendermos o seu verdadeiro campo de ação, temos que situar os dois itens básicos na análise do tema: um significado de Cultura Popular (folclore) e um significado de meios de Comunicação.
O estudo do folclore começou a ser valorizado com o romantismo. Mas com uma concepção de povo bem idealista sem considerar que a sociedade é formada por classes sociais.  O povo não constitui uma simples categoria abstrata, mas é elemento vivo, transformador, criador de valores materiais e espirituais determinantes no desenvolvimento histórico. As manifestações populares, por isso, encerram conteúdo vivo e dinâmico, numa constante criação. O folclore pode ser muito bem visualizado - como insinua o pensador italiano Antônio Gramsci - em termos de estruturas ideológicas da sociedade: ao lado da chamada cultura erudita, transmitida nas escolas e sancionada pelas instituições sociais, existe a cultura criada pelo povo, que articula concepção de mundo e de vida contrário aos esquemas oficiais dominantes.
         A importância do folclore está no fato de que ele é elemento fundamental da formação cultura de um país, uma nação. No Brasil, as tradições populares são importantes no processo de criação da cultura brasileira e identidade nacional. Contribuíram para isto, além das três raças fundamentais – o branco português, o índio nativo e o negro africano, outras etnias e povos que migraram para cá.
Hoje o grande problema é a perda de identidade com a sociedade globalizada. Pois, com a influência dos meios de comunicação, o predomínio da cultura de massa, e intensificação do avanço industrial com novas tecnologias, e o turismo como fenômeno de lazer das multidões, novos desafios foram lançados às manifestações folclóricas. Conseqüentemente, abriram novas perspectivas ao estudo dos processos de transformação, aculturação a até mesmo de destruição.  É por isto que temos que compreender estas mudanças para nos defendermos dos efeitos nocivos da globalização e são de extrema importância as idéias de Luiz Beltrão.


Sebastião Breguez é jornalista e professor de Comunicação, tem doutorado em Comunicação na França e atua como animador cultural.

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