Dois esportes de bola invadem escolas brasileiras com o objetivo de incentivar a cooperação entre os jogadores – inclusive com seus oponentes
O aluno do 1º ano do ensino médio Danilo Foganholi, de 15 anos, levou um susto ao voltar das férias. Em sua primeira aula de educação física, na quadra do colégio paulistano Mackenzie, encontrou seus colegas brincando com uma bola gigante, de 1,22 metro. Parecia uma gincana – ou uma pegadinha. O professor chegou, e Danilo percebeu estar diante não de uma brincadeira, mas de um esporte de verdade: Kin-ball. Pouco conhecido no Brasil, o kin-ball reúne três equipes na quadra. Elas se revezam para não deixar a bola gigante cair. Precisam se ajudar por um objetivo comum. O mais incrível: há gente que ganha dinheiro fazendo isso. Criado no Canadá, o kin-ball é um esporte profissional em 11 países, entre eles Japão, Estados Unidos e França. De acordo com a Federação Internacional de Kin-ball, existem 3,8 milhões de jogadores no mundo. O kin-ball chegou ao Brasil na esteira de outro esporte que privilegia a cooperação entre os jogadores, também promovido por escolas: o tchoukball. Nesse outro “ball”, ninguém pode fazer aquilo que mais se vê no futebol ou no basquete. É simplesmente proibido roubar a bola do adversário ou atrapalhar a visão dos demais jogadores.
Os praticantes de kin-ball precisam cooperar com seus aliados e com seus adversários. O tamanho monumental da bola exige que todos se unam para arremessá-la. Os três times em campo competem, mas duas regras os unem: é proibido atacar o time que está perdendo, e as equipes devem se juntar para enfrentar a mais forte. O objetivo é buscar equilíbrio. Se um time erra uma jogada, os outros dois pontuam. “É um jogo estimulante e sem competição excessiva”, diz Maria Ignez Giandalia, coordenadora de educação física e esportes do Mackenzie. A Universidade São Judas e o colégio Global, ambos em São Paulo, também realizaram recentes atividades com kin-ball.
Criado em 1986, no Canadá, o kin-ball não exige habilidades específicas. O mais importante é o aluno se movimentar bem e prestar atenção para não deixar seu colega na mão – uma visão positiva, longe da ideia de destruição do adversário. O mesmo espírito emana do tchoukball. Para os ouvidos dos suíços, que criaram esse jogo, o nome é a onomatopeia do som produzido pela bola ao bater na rede. É um jogo de quadra com 14 jogadores, cujo objetivo é arremessar a bola para uma espécie de trampolim – o quadro. Cabe aos adversários impedir que ela pingue no chão ao voltar do quadro. “Em outros jogos, quando um aluno se destaca, a equipe gira em torno dele”, diz Rogério Sousa, coordenador de esportes do Colégio Rainha da Paz e técnico da seleção feminina de tchoukball. “No tchoukball, isso não existe. Pode haver jogadores habilidosos e não habilidosos, e o jogo ocorre com qualidade.” A dinâmica de colaboração levou a ONU a recomendar o tchoukball como um esporte que propaga a paz. Quem joga tchoukball afirma que os bons princípios não comprometem a diversão. “As partidas são rápidas, com muita adrenalina”, diz Nathália Tavares, de 18 anos, praticante do esporte há sete. Nathália já integrou a seleção brasileira. Disputou o Sul-Americano de 2010, o Mundial de 2011 e o Pan-Americano de 2012.
O tchoukball foi inventado em 1967, na Suíça, pelo médico Hermann Brandt. Ele queria criar um esporte em que os riscos de lesão fossem mínimos. Chegou ao Brasil há 22 anos. Hoje, é praticado em cerca de 70 escolas, no Paraná, em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Sergipe, Rio de Janeiro e São Paulo. Faz parte do currículo das escolas estaduais paulistas desde 2008. O Brasil não tem feito feio em recentes torneios. Em 2008, a equipe nacional masculina venceu o Sul-Americano. Em 2010, houve dobradinha, com canecos para as seleções brasileiras masculina e feminina. No ano seguinte, o masculino foi o oitavo entre os 15 participantes do Mundial. Em 2012, brasileiros e brasileiras foram campeões pan-americanos.
Nada disso garantiu apoio financeiro. Os jogadores brasileiros não recebem para treinar, e as viagens internacionais saem de seus bolsos. “Temos ótimos atletas que não participam dos campeonatos por falta de patrocínio”, diz Archimedes Moura, presidente da Associação Brasileira de Tchoukball. As federações internacionais de kin-ball e de tchoukball agora sonham em transformar suas inusitadas atividades em esportes olímpicos. Poucos jogos abraçariam tão bem o lema de que o importante é competir.
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