domingo, 15 de junho de 2014

Crônica do Dia - O mais cruel dos meses

Rio - Abril é o mais cruel dos meses, disse o poeta inglês. Mas, para quem conheceu Leila Diniz, mais cruel foi junho de 1972. No dia 14 daquele, ‘O Pasquim’, jornal satírico criado em 69, logo depois do AI-5, publicou talvez a sua única página trágica, com uma belíssima foto de Leila clicada pelo Paulinho Garcez e a seguinte notícia, transcrita de algum jornalão: “Jato cai na Índia com Leila Diniz — 82 pessoas morreram na queda de um DC-8 da Japan Airlines, que explodiu ontem nas proximidades de Nova Déli. Sete dos 89 passageiros e tripulantes que viajavam no aparelho sobreviveram, mas se encontram em estado grave, segundo informaram as autoridades indianas. Na relação dos passageiros fornecida pela empresa, consta o nome da brasileira Leila Roque Diniz.” No canto da página, Sig, o ratinho verde que era o mascote do jornaleco, deixa escapar uma lágrima e diz: “Um beijo, Leila.” Nem o Sig, que sacaneava Deus e o mundo, segurou a emoção.





A entrevista dela deslanchou o ‘Pasquim’, lançado seis meses antes, em junho de 1969. A tiragem aumentou em seis meses de 10 mil para espantosos (para a época) 200 mil exemplares e chegou a 220 mil no número seguinte, com a entrevista de Paulo Mendes Campos. Onde tinha repressão e caretice, Leila achava um jeito de bagunçar o coreto. Na Praia do Diabo, no Arpoador, no Mau Cheiro, no Dique, ela sempre se destacava; nunca houve maior concentração de mulher bonita do que na faixa de areia que ia do Mau Cheiro até a Praia do Diabo. Posso garantir que ela nunca se esforçou por aparecer: as coisas é que chegavam a ela. Foi assim quando foi escolhida para ser a musa da primeira saída da Banda de Ipanema, em 1965, e também quando foi clicada, grávida, de biquíni. Uma mulher solar nas trevas da ditadura. Foi um problemão editar a entrevista que deu para o ‘Pasquim’. Não tinha nem como mandar a transcrição para a censura: de cada dez palavras que dizia, cinco eram palavrões. Decidimos trocá-los por asteriscos, de maneira que o texto ficou parecendo um jardim florido de asteriscos. Só a mim (Tarso de Castro e Sérgio Cabral também participaram da entrevista) Leila mandou várias vezes “a (*) que te (*)”.

Jaguar / O Dia 

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