Rio - O Pacote Anticorrupção anunciado ontem pela presidenta Dilma Rousseff não deixa de ser algo positivo: trata-se de uma resposta do governo à grave crise política e econômica por que passa o país — e que tem na roubalheira institucional uma de suas mais enraizadas origens. Analisando friamente, porém, constata-se não haver grandes novidades nas propostas nem importantes consequências no curto prazo, uma vez que quase todas as medidas apresentadas dependem do Congresso ou de detalhamento. E o Brasil, sobretudo quem o comanda, precisa estar ciente de que Pacote Anticorrupção de nada adiantará se não vier com ampla reforma política.
Apertar o cerco ao ‘caixa dois’ e ao enriquecimento ilícito, com a alienação antecipada de bens apreendidos, pode de fato atrapalhar a ladroagem, mas não vai inibi-la. Como frisou o delator Paulo Roberto Costa em depoimento à Procuradoria-Geral da República, “contribuição oficial não existe”. “Nenhuma empresa vai doar cinco milhões porque gosta de fulano. Na realidade todas as doações são empréstimos. A empresa está emprestando para o cara e depois vai cobrar dele”, afirmou.
É evidente que os males do país não advêm apenas das doações de campanha. Há um sistema gigantesco que aprendeu o caminho das urnas e principalmente os meandros do poder. Há gente graúda que sabe tirar proveito das verbas parlamentares — que, no entendimento do Congresso, em votação simbólica na terça, precisa triplicar este ano, de R$ 290 milhões para quase R$ 900 milhões —, das licitações, das eleições proporcionais e do voto obrigatório. A República está cheia de gambiarras que depauperam o Erário e lesam os cidadãos.
É preciso um esforço muito maior para desmontar esse arcabouço lesivo, do qual muitos hoje se beneficiam. Depende de desprendimento, altruísmo, senso cívico e visão. Nossas excelências têm oportunidade única de romper com esse mal e começar a construir um país mais justo.
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