O demônio familiar
de José de Alencar
Se José Bonifácio viu com temor os negros brutalizados pela escravidão e
a ameaça que representavam para a jovem nação em formação, José de Alencar -
político, romancista, autor de peças teatrais – também tratou do tema em sua peça
O demônio familiar, que foi encenada pela primeira vez em 1857.
Este tentou
mostrar a relação de escravos e senhores no âmbito familiar. Surpreende a
presença de um escravo, no caso o menino Pedro, nessa obra, já que os negros
estiveram praticamente ausentes nos outros trabalhos do autor. Quando apareciam
eram personagens secundários, de pouquíssima relevância para a trama.
Compreende-se essa ausência quando se sabe que escravos e escravidão eram
termos “proibidos” nos textos oficiais e nas obras literárias durante o
Romantismo1
. A palavra escravidão não aparece na Constituição de 1824. Recémemancipada
politicamente da metrópole portuguesa viu-se o empenho da geração
de Alencar em construir a identidade nacional. A exuberância da natureza e os
índios foram os elementos destacados como fatores que pretensamente
diferenciavam a ex-colônia de sua antiga metrópole. Os romances históricos e
indianistas de Alencar faziam parte do seu esforço de descrever a formação da
sociedade brasileira que se constituiu através da miscigenação étnica e cultural
entre os índios e o português. Era o desejo de afirmar a autonomia de um “eu
nacional” em oposição ao “eu metropolitano”, este identificado como opressor
(Aguiar, 1984). Os enlaces entre Peri e Ceci, assim como de Iracema e Martim,
personagens, respectivamente, dos Romances O Guarani e Iracema representam o
momento mítico da emergência do “povo brasileiro”.
Na obra de Alencar a família ocupa um lugar importante, bem como os que
querem desagregá-la. Os “aventureiros” e os aimorés querem destruir a família de
D. Antônio de Mariz. No romance Senhora, o dinheiro é uma ameaça para a família, pois uma instituição sagrada como é o casamento pode vir a se tornar uma
relação de contrato de compra e venda.
Em O demônio familiar o “inimigo” não é um invasor, mas está dentro da
família e é escravo. O moleque Pedro não é a personagem típica do escravo fiel e
resignado e nem o escravo vingativo e cruel, dois estereótipos da época; nem é o
serviçal autômato cumpridor de ordens. Ele é malandro, intrigueiro, alcoviteiro,
egoísta, interesseiro, mentiroso que manipula o seu senhor (Eduardo) e as outras
personagens brancas. Pedro e Eduardo são duas forças em confronto: “o menino e
o homem; o senhor e o escravo; o analfabeto e o doutor...” (Prado, 1974: 51). Os
senhores são vítimas da esperteza e da capacidade de intriga de Pedro. Eduardo,
cansado das diabruras do moleque, aplica-lhe um castigo: liberta-o. Visava,
mediante esse ato, estabelecer a hierarquia e expulsar o demônio familiar;
portanto, não é a palmatória que corrigirá Pedro. A alforria tinha dois objetivos:
punir e educar. A expulsão salva a família e transforma Pedro de escravo em
cidadão. A mudança na ordem jurídica o obrigará a ser responsável pelos seus
atos, “dando-lhe o sentido de obrigação moral”2
.
A questão que nos interessa diz respeito ao significado dessa peça de
Alencar. O que ele tinha em mente ao escrevê-la? Podemos dizer que é uma peça
reacionária, pois liberdade está associada a castigo? Seria um manifesto com teor
abolicionista? A favor desta tese convergem as opiniões de autores como
Raymond S. Sayers (1958) e Décio de Almeida Prado. Para este O demônio
familiar é “uma peça sem dúvida abolicionista”, mas com uma observação
importante: “vê a questão sobretudo pelo lado do senhor” (Prado, 1974: 48).
Alencar condena a escravidão pelo mal que faz à família patriarcal ao introduzir
no seu seio o “demônio familiar” – o escravo. Senhores e escravos eram vítimas
da escravidão.
Essa postura antiescravista de Alencar causa estranheza se considerarmos
que ele, quando era deputado pelo Partido Conservador, opôs-se às medidas
emancipacionistas que estavam sendo discutidas no Parlamento e que resultariam
na lei de 28 de setembro de 1871. Contudo, o argumento do deputado não
contradiz o teor proposto na peça. Ele afirmou que desejava ver extinta a
escravidão, mas não mediante uma medida abrupta, pela lei, pois via o perigo da
ruptura da ordem e da segurança social. Propôs, então, que a abolição deveria vir
paulatinamente, sem solavancos, através da introdução de mudanças nos
costumes, “que são a medula da sociedade”, condizente com a “índole pacífica da
sociedade” (1977-b: 197). Aliás, lembrou que quinze anos antes escrevera um
libelo contra a escravidão; certamente se referia à peça em questão. A alforria
promovida por Eduardo não seria a forma de Alencar estar propondo a abolição
por meio da mudança dos costumes?
Na obra literária de Alencar existem vários “demônios” ameaçando a
família e o caráter nacional brasileiro. O casamento por interesse, a influência
estrangeira e a corrupção moral introduzida pelos escravos. Se José Bonifácio viu
a necessidade da abolição da escravidão como garantia de uma ordem política
estável, Alencar queria salvar a família patriarcal pela alforria.
Celso Noboru Uemori
O pensamento de Alencar não esta nada mais nem menos do que certo, pois como demonstrado tanto na peça quanto em seu raciocínio a escravidão não poderia ser extinta de forma tão rápida, não preparando a sociedade, e também os escravos para sociedade, pois aonde iriam depois de serem libertados sem lar sem emprego e sem nenhuma opção na vida sem ser a escravidão, o que o nosso patriarca da literatura brasileira quis dizer foi que os escravos deveriam ser preparados para a vida apos a escravidão se não seriam apenas "escravos livres".
ResponderExcluirEssa visão é demonstrada na peça com a parte em que o Eduardo o senhor de Pedro o liberta como castigo para puni-lo e educa-lo. Jose de Alencar quis mostrar também o lado ruim que a escravidão causara a família, justamente com a tentativa de mostrar o quanto mal a escravidão trazia a sociedade trazendo a abolição da escravidão não por meio de uma assinatura que libertasse os escravos mas por meio de de mudanças nos costumes, como antes comentado no texto.
As características dos personagens de Alencar sempre mostram um diferencial assim como suas mulheres (Lucíola, Aurélia e Emília) o menino da historia não mostra o escravo bom nem ruim mas uma criança de temperamento malandro que somente pensa em si e manipula os outros ao seu favor. Para min Alencar colocou o escravo como uma criança para transmitir uma certa ironia já que uma criança teria esse caráter tão egoísta e manipulador para alcançar seus objetivos?
A conclusão que chego e que Alencar transmitiu na peça a forma correta de abolir a escravidão, a forma como ele pensava, e que foi mal interpretada já que essa forma dele pensar rejeitou a forma de pensar das demais pessoas abolicionistas que visavam somente o fim da escravidão e que em minha opinião dessa forma acabou sendo visto como um escravocrata. E alem de fazer críticas a escravidão também faz uma análise aos costumes em meu palpite incorretos da sociedade brasileira da época.
Aluno: Wenderson F. R.
Turma: 901
Acho que José de Alencar está completamente certo, por que imagina só, tá, vamos libertar os escravos, ok, eles viraram negros livres agora. Mas, pra onde eles vão? O que vai comer? O que vão vestir? É isso que José quis dizer. Mudando um pouco de assunto, muitas pessoas pensam que José de Alencar era escravocrata, só por que não queria o fim da escravidão. Mas, não é que ele não queria que a escravidão acabasse, mas sim, que essa abolição fosse um pouco mais devagar.
ResponderExcluirO que eu quero dizer é que na minha opinião, se pensarmos de uma forma a liberdade era sim um tipo de punição naquela época, pois o escravo não teria onde morar, nem o que comer, nem o que vestir. Não teria pra onde ir. Claro, ele seria um negro livre, mas seria um negro livre que não tem absolutamente nada muito menos uma condição de vida no mínimo meio razoável.
Na minha opinião, José quis dizer, com essa peça provavelmente o melhor jeito de acabar com a escravidão.
Mariana Vita~802