A peça de José de Alencar reúne alguns dos ingredientes românticos mais convencionais. Todo o enredo é montado sobre tensões, maledicências, fofocas, mal-entendidos, que lhe dão o ritmo rocambolesco e complicado das narrativas folhetinescas do Romantismo. Estão presentes, ainda, os inescapáveis obstáculos para a realização amorosa do par central, como o projetado casamento da heroína com Azevedo e as atitudes de Pedro, que fazem com que o herói não se sinta amado por Henriqueta.
Mas Alencar conduz as confusões da narrativa até o nível das contradições, que fazem com que a peça atinja um nível superior, ao expor ao espectador diferentes perspectivas a respeito dos conceitos em jogo. Assim, o amor romântico aparece em duas formas distintas: de um lado, o amor contido e conformado de Henriqueta, que se submete às vontades do destino; de outro, o amor decidido e ativo de Carlotinha, que luta por seu amor, não se rendendo às circunstâncias que conduziam à inevitável separação. A peça vai ainda além: há, de um lado, o amor ornamental defendido por Azevedo; de outro, o amor que é pura sinceridade proposto por Alfredo. Os dois rapazes personificam ainda duas posições contrárias a respeito da arte brasileira: o afrancesado Azevedo vê nela apenas imitação de modelos europeus, enquanto Alfredo – nesse sentido, porta-voz do autor – destaca seus traços de originalidade e nacionalismo.
A peça consegue ainda registrar os novos costumes de uma sociedade que se urbaniza com rapidez. A novidade capitalista atinge as relações sociais, colocando em foco a chamada question d’argent (problemas financeiros), um dos temas mais frequentes do nascente Realismo francês. Ressalve-se que essa questão é focalizada de uma perspectiva romântica, na medida em que desvia os homens de sentimentos verdadeiros. Além disso, há uma cena em que se relata o interesse que as vitrines coloridas despertam em Pedro – sugestão de que aqueles novos hábitos teriam contribuição decisiva nos desvios morais do menino.
A moral da peça é justamente esta: os efeitos do progresso sobre as relações sociais, principalmente para quem – como Pedro – não tem consciência plenamente formada pela educação. Esse argumento caminha no sentido da defesa da escravidão, como forma de tutela sobre o negro que, de outra maneira, estaria submetido aos desvios morais fornecidos pela liberdade plena. Na transmissão dessa moralidade tão peculiar, destaca-se a imagem do herói, Eduardo, moço equilibrado e honrado, cuja nobreza de caráter contrasta com os maus princípios defendidos por Azevedo, com manias europeizadas.
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No plano da linguagem, é louvável o esforço de Alencar no sentido de mostrar as potencialidades da língua brasileira, que serve tanto ao coloquialismo desregrado de Pedro quanto à retórica mais educada de Eduardo.
Fernando Marcílio
Mestre em Teoria Literária pela Unicamp
AUTOR
O modo desse escritor contextualizar o enredo de sua obra com o que acontece na sociedade é simplesmente fantástico. Com uma história romântica ele consegue abordar a escravidão, as rápidas mudanças que estavam recentemente acontecendo na sociedade daquela época, sua opinião dos acontecimentos relevantes na trajetória brasileira são totalmente esclarecidos de forma renovadora, mas muitas vezes entre linhas, ou seja ele trata daquele assunto de forma indireta.
ResponderExcluirNesse trabalho dele, eu consegui adquirir um novo conhecimento sobre esse artista, percebi que ele além de tratar como inspiração os outros escritores, tanto de fora do país quanto os de dentro do Brasil, ele também retrata os movimentos e maneiras, internacionais, de se escrever nessa postagem é comentado que ele
poem em uma mesma só obra uma tendência europeia e francesa dentro de um contexto brasileiro que é as novidades capitalistas atingindo a relações sociais entre os brasileiros.
Em relação a esses escritores que deixam ser influenciados e influenciam outros escritores, acho um importante ponto característico dessa profissão, pois gera um importante compartilhamento de culturas e de ate mesmo maneiras de como se escrever, mas infelizmente nem todos os ocupantes dessa respeitável profissão tem essa característica, por um orgulho ou por talvez a competição no mercado de trabalho os escritores negam ter dito qualquer influencia de outro companheiro profissional, isso é muito visto hoje em dia tanto em filmes ou biografias de escritores de inicio de carreira que são rejeitados pelos outros autores, empobrecendo o espirito dessa arte tão nobre e bonita.
Aluno: Wenderson F. R.
Turma: 901
Realmente achei maravilhoso a forma que Alencar conseguia abordar diferentes perspectivas de forma dinâmica e registrar os novos hábitos e costumes de uma sociedade que estava rapidamente se urbanizando e aplicando a novidade capitalista, perpassando juntamente a sociedade brasileira por uma época de "evoluções".
ResponderExcluirAdmiro ainda o modo indireto que o autor empregou uma certa defesa a escravidão, não que eu concorde, mas aprecio o belo trabalho feito. Assim também ocorre com a forma que José usava um de seus personagens para ser o seu "porta-voz", tendo como exemplo o Alfredo, destacando a sua originalidade e o seu pleno nacionalismo, como aprendido ao ler esta postagem.
Assim como de costume ele encanta os leitores com suas histórias românticas, aquelas idealizadas, na quais o amor supera todas as dificuldade e obstáculos que a vida impõem, nas quais a força do amor é incomparável a qualquer barreira, mesmo desviando os homens do sentimento verdadeiro.
Esta postagem realmente se mostrou rica ao apresentar aos leitores novos olhares sobre o autor e sua obra, que é extremamente inovadora e mostra uma forma evoluída de pensar. Ela é interessante ainda por ter como foco principal a peça de José de Alencar que nem sempre é tão falada como seus livros românticos, por exemplo. Conseguiu enriquecer ainda mais toda a minha perspectiva a respeito do autor e de sua maravilhosa obra, que atualmente devia estar sendo estudada e usada como base para a vida de muitos.
Tão famoso por suas obras literárias romanceadas, tanto nos seus best-sellers que sumiam das livrarias quanto nos folhetins que ajudava nas vendas dos jornais, porém todos esquecem a enorme importância da peça teatral de José de Alencar. Produziu diversas, e algumas foram tão polêmicas que foi necessário de policiais para retirar a peça de cartaz, mas não é essa que vem ao caso e sim O Demônio Familiar. Considerado um de seus melhores, escrito quando jovem, é uma comédia que reúne todos os aspectos românticos com pitadas de realismo, para descrever a rápida industrialização e as diversas mudanças que estavam sendo feitas na época, por causa da aplicação do capitalismo.
ResponderExcluirPercebemos ao decorrer da obra, críticas até aos diversos escritores da época, que recorriam ao modo europeu, que seria Azevedo, e defende que o jeito correto de produzir literatura brasileira é criando um modelo literário brasileiro, que narrasse a nossa sociedade, através do nacionalismo, percebemos essas criticas no Alfredo. Além disso, é uma das poucas narrativas de Alencar que se refere à escravidão, assunto muito polêmico na época, aonde ele é visto como escravocrata. Porém percebe-se que na peça, ele questiona o modo no qual seria feita essa abolição, pois o escravo seria livre, mas sem consciência plenamente formada pela educação, logo não estaria apto para fazer uso de sua liberdade. E foi exatamente isso que ocorreu. Livres, porém sem uma base, foram marginalizados afetando as relações atuais.
Tudo isso além de romances conturbados e personagens conflituosos nos envolvem na narrativa, fazendo com que cada vez queremos mais. Novamente José de Alencar utiliza as melhores características do romantismo com uma ponta de realismo, para envolver todo tipo de leitor ou observador, pois ele é tão gênio que não importa a forma que você conhece a obra, peça/livro, você vai acabar amando.
Katelyn Ashley - 901
O enredo mostra as tensões, maledicências, fofocas, mal entendidos, e um ritmo complicado dentro de uma família da “elite”, é um típico romance, no qual possui uma imagem heroica, que é a de Eduardo, um médico famoso e dois amores, além disso, empecilhos para o namoro do casal principal. Como existem dois casais, possuem duas características diferentes, uma para cada. Em um, o amor é contido e conformado, que fica a mercê do destino, que é o de Henriqueta. O outro é o oposto, um amor decidido e ativo, que luta para se manter, não se rende ao destino da separação, que é o de Carlotinha. O amor de Eduardo e Alfredo é sincero, ambos amam suas mulheres.
ResponderExcluirO “empecilho” na verdade é Pedro, um menino escravo de Eduardo, que não queria que seu patrão se casasse com Henriqueta e sim com uma viúva, mas o senhor percebe e conversa com o menino tentando convencer a ele, de não estragar esse amor verdadeiro, então parte para acabar com o amor de Carlotinha e Alfredo, fazendo o pretendente que era de Henriqueta, se aproximar de Carlotinha, o Azevedo. Esse tinha uma visão diferente, sob alguns fatores da cultura brasileira, como a arte, que dizia que era apenas uma imitação da europeia, enquanto Alfredo há achava original e nacionalista.
Alencar buscou expressar os novos costumes da sociedade urbanista, após a independência. Buscava colocar as relações sociais, como os problemas financeiros. E os efeitos dos progressos sobre essas relações.
O negro era submetido aos desvios morais, os heróis possuíam a mente aberta, equilibrada e honrada e as moças tinham a mente pura. Traços perfeitos do Romantismo.
Julia Tavares 901
O Demônio Familiar, peça elaborada pelo ainda jovem e dramaturgo, José de Alencar, onde conseguiu misturar sentimentos e diversos assuntos polêmicas vividos pelo próprio espectador, despertando assim grande interesse pela sociedade da época com seu toque de Realismo. Alencar se "pregava" tanto aos detalhes, de certo modo no qual cada vez que uma pessoa a assistia, reparava em algo que não havia percebido antes.
ResponderExcluirA obra nos mostra a sagacidade do nobre autor ao confrontar amores contraditórios, turbulentos e intrigantes, com os contidos e conformados como foi o caso interpretado pela personagem da Henriqueta.
Criticou o modo literário francês na figura de Azevedo, defendendo assim a originalidade da literatura brasileira personificada por Alfredo, um nacionalista com muita originalidade.
Não só isso, aborda ainda questões de caráter financeiro, como por exemplo, a modernização da sociedade em função ao crescente desenvolvimento urbanista e o capitalismo.
Enfatizou temas abolicionistas por ser um escravocrata convicto, propagando suas ideias nos romances por ele escritos, de forma sutil.
É realmente incrível, tamanha percepção do escritor através dos fatos citados anteriormente, a polêmica causada e o despertar da curiosidade das pessoas, tanto no passado quanto atualmente, pois senti enorme vontade de assistir esta representação em sua totalidade.
Ingrid Maia Nanjara - 901
É impressionante como Alencar consegue falar exatamente o que está ocorrendo com o país em uma história de romance. Eu achei muito interessante como ele retratou a escravidão, como uma sociedade evolui, os problemas, as relações sociais, etc.
ResponderExcluirTudo gira em torno da família de Eduardo, os relacionados a ele, e o seu escravo Pedro. Querendo ajudar seu mestre na sua vida amorosa, ele fez inúmeras confusões, mas no final foi castigado.
Com esta história, que era uma peça, o barbudo conseguiu mostrar vários pontos fortes, um deles a escravidão. Ele me mostrou, e para várias outras pessoas o que a liberdade significa para o negro, ou seja, como o afeta, e como atingiu o branco. E em minha opinião, a lei Aurea não ajudou em nada para o branco, pois ele perdeu o lucro fácil. Já o negro teve a liberdade, que é o maior bem que alguém poderia querer, mas a pena é que não tiveram boas condições de viver após essa lei, não tiveram um futuro, que é o que Alencar mostrou na peça com o Pedro.
Outros pontos importantes estão ligados com a sociedade, com as pessoas que viviam na cidade. Nessa época o Brasil sofria de várias mudanças, isso para se “atualizar” com o mundo, e várias dessas mudanças trouxeram vários problemas, e com a história, vemos um deles. Pedro não tinha educação formada, e naquele tempo ele ficou prejudicado, pois não entendia bem como agir naquela nova sociedade, e acabou prejudicando as pessoas com todas as suas malandragens.
Enfim, José de Alencar tem muito a dizer, e ele simplesmente falou tudo o que viveu em simples histórias de amor.
Davi Amaral Pereira
802
O Demônio Familiar, um livro que muitos usam como prova de que Alencar era escravocrata, pois ele retrata o negro como um vilão, um mal, um demônio, na verdade é uma grande critica ao processo de escravidão e de como se ocorreria a abolição.
ResponderExcluirO pensamento de que o negro, seria um demônio na família, que ele destruiria as relações amorosas é uma visão burguesa, que em muitos dos livros de Alencar é criticada, mas ele no final faz uma critica ao processo de abolição, em que o escravo tem como punição a liberdade, ter que se virar a própria sorte nas ruas do rio, sem casa, sem comida, sem família e sem nada.
O problema é que quando ele escreve essa parte, pessoas desinformadas acabam pensando que ele é contra a abolição, pois a liberdade seria um castigo, e não algo bom ao escravo, pois quem pensava assim achava que o escravo se viraria no mundo.
Artur Lopes 801
José de Alencar produziu esta peça, considerada um marco divisor entre o romantismo teatral e a dramaturgia social, de cunho mais realista, conduzindo sua obra dentro de um panorama de crítica das convenções morais da sociedade burguesa. Seu caráter realista busca o efeito moral, a integração do indivíduo nos quadros da sociedade, procurando discutir a presença do escravo no convívio das relações familiares do segundo império, bem como as relações entre dinheiro e casamento. A qualidade da peça é fortalecida pela autenticidade do retrato da sociedade burguesa brasileira do começo da segunda metade do século XIX, contrastando com personagens tipicamente românticas, idealizadas. A principal crítica da peça é ao casamento burguês, ao relacionamento conjugal viciado pelo interesse econômico.
ResponderExcluirA peça apresenta duas ações: a ação dinâmica, que terá no escravo Pedro seu eixo e a ação moral, representada por Eduardo, alter ego do próprio José de Alencar, e outro aspecto polêmico é a visão abolicionista apresentada pelo autor, que era deputado pelo partido Conservador e, portanto, "antiabolicionista",e hoa parte da crítica é solidária à sugestão abolicionista do autor quando Eduardo resolve alforriar Pedro para puni-lo pelas intrigas do criado, que teria utilizado a malícia e a calúnia, aproveitando-se de seu convívio com a família para atender a interesse próprio, não se importando com as conseqüências de seus atos. Não há que de negar que o caráter da peça venha a de uma ação prática de abolicionismo. Entretanto, outra parte da crítica observa que o deputado José Martiniano era conservador e, portanto, antiabolicionista. Não negando sua formação social e política, o autor sugere a necessidade de afastar do seio da família, valor maior defendido durante toda a peça, o escravo, cuja malícia só poderia expor os familiares ao rompimento da paz doméstica.