Cais do Valongo se transforma em Patrimônio da Humanidade
Anúncio, do subsecretário de Turismo do Rio, foi feito no 12º debate ‘Rio sem Fronteiras’, no Tabajaras
ANDRÉ BALOCCO E TÁSSIA DI CARVALHO
Rio - Principal porta de entrada no Brasil dos escravos africanos, o Cais do Valongo, redescoberto durante as obras de derrubada da Perimetral, na região do Porto, vai virar Patrimônio da Humanidade. O anúncio foi feito pelo subsecretário de turismo do município, Philipe Campello, durante o debate ‘O turismo como ferramenta de inclusão nas favelas’, terça-feira, no Tabajaras — realizado pelo projeto ‘Rio, Cidade sem Fronteiras’, do DIA. Segundo Philipe, o legado do negro e das favelas para a cultura do país é imenso.
“Fala-se muito da favela como um problema social, mas é inquestionável a importância de sua produção na formação da cultura brasileira”, disse ele, que passou a semana em reuniões com representantes da Unesco para a oficialização do título. “O samba, a bossa-nova, a comida. Tudo passa pela favela.” Ao fazer o anúncio, Phil foi aplaudido de pé pela plateia formada por cerca de 60 pessoas — a maioria empreendedores de turismo nas comunidades.
A candidatura do Valongo é trabalhada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e a prefeitura há um ano e meio, e sua aprovação é dada como certa por Milton Guran, coordenador do grupo que prepara o dossiê pró-Valongo. “A expectativa é que isso aconteça em janeiro do ano que vem.”
Além de Philipe, estiveram na mesa Carmem Givoni, que leva grupo de estrangeiros ao morro dos Prazeres; Fabiana Ramos, do Sebrae; Gilmar Lopes, da Agência Tabritur de turismo radical no Tabajaras, e Lorene Maia, gestora no Pavão, Pavãozinho e Cantagalo do Rio + Social, programa da prefeitura para favelas.
Primeiro orador, Gilmar anunciou a criação de tours rápidos pelo Tabajaras, atendendo a demanda dos visitantes que virão ao Rio para a Olimpíada. “Quem vier terá pouco tempo para visitar as favelas”, explicou. “Queremos que o estrangeiro entre e consuma no morro, e não os ‘safáris’ que haviam na Rocinha.”
Carmem Givoni relatou a importância da criação do Caminho do Grafite no Prazeres. Segundo ela, acreditar nos sonhos é fundamental. “Antes era impossível levar estrangeiros à favela por razões que nem preciso relembrar”, disse, referindo-se ao poder paralelo que dominava os morros.
“Pesquisas indicam que um a cada cinco estrangeiros querem conhecer uma favela no Rio. É preciso nos adaptarmos às suas demandas. E o Caminho do Grafite fortalece outras iniciativas no Prazeres.”
Sebrae vai reunir favelas e operadoras
Fabiana Ramos, do Sebrae, anunciou durante o debate que a instituição fará, ainda neste semestre, uma rodada de negócios para incentivar parcerias nas favelas. A ideia é convocar agências e operadoras de turismo para escutar suas demandas e levá-las aos produtores das comunidades mapeadas.
“Depois, vamos juntar as partes. O diagnóstico, assim como a troca de informações, é fundamental para a evolução.”
O Sebrae planeja ainda atrair a mídia especializada “para que conheçam a rede que formamos”, diz ela, referindo-se à Rede de Conexão de Turismo (Contur), que une iniciativas da Rocinha, Mangueira, Santa Marta, Tabajaras, Prazeres, Turano, Salgueiro e os complexos do Alemão e da Penha.
Além disso, a instituição ainda prepara a segunda edição do Guia de Bolso das Comunidades, ideia que virou realidade no fim do ano passado, com o circuito gastronômico das favelas. “Vamos fazer a segunda edição.
Crítica aos ‘safáris’ e valorização
Durante o debate, uma crítica geriu unanimidade: a forma que o turismo ‘de safari’ começou a ser feito na Rocinha. “Nunca me senti à vontade com isso, um grupo chegava de jipe, nem descia, muitas vezes o dinheiro que deixava naquela era o do ‘pedágio’”, afirmou Philipe Campello.
O ativista Charles Siqueira, na plateia, destacou os ‘safáris’ na hora das perguntas. “Reforçavam o esteriótipo de pobreza. É preciso valorizar seu território.” A gestora do Rio+Social Lorene Maia destacou que para ocorer a valorização territorial, é preciso antes se conhecer o potencial turístico de cada lugar. Mesmo próximas, cada favela tem sua vocação. “A do Cantagalo é para o de hotelaria”, cita ela, apontando que antes da chegada dos estrangeiros os moradores construíram hostels.
O fotojornalista Jaguaracir Alves, do Tabajaras, lembrou o potencial da sua favela. “Podemos fazer turismo religioso, com visitas à Igreja de São Benedito.” E sugeriu a criação de um roteiro religioso unindo as favelas, já que todas têm igrejas. Para Lorene, o grande desafio do turismo em favelas é a falta de comunicação. “Às vezes o morador da Sá Ferreira não sabe o que acontece no Pavão, mas o do Alemão sabe e vai ver a dança no morro.”
Quando pensamos em "favela", logo criamos aquela visão de tiroteio, marginais, mas devemos apagar essa visão de nossa imaginação, e olhar, observar com outros olhos. Muitas vezes, a pessoa mora na favela pelo simples fato de ela não ter dinheiro para pagar uma casa em um bairro melhor, não significando que ela seja marginal. Esse estereótipo é muito comum na nossa sociedade. Acho muito legal o fato de ter um teleférico no morro do Alemão, no Rio, pois mostra que o turismo também pode ser feito nas comunidades de forma divertida (na minha opinião, é muito legal passear neles). Com esse meio de transporte o preconceito é bastante quebrado, pois nele é feito um passeio cultural, onde a pessoa amplia seu conhecimento sobre aquele morro. Essas pessoas que moram na favela sofrem um pouco para se entrosar, pois muitas vezes andam desarrumadas, causando um olhar de inferioridade nos outros. Na verdade, muitos moradores da favela são pessoas boas, mas acabam sendo interferidas por causa da aparência ou por morarem em um local mais humilde. Tenho pena deles. No meu ponto de vista, acima da classe social, deve existir o amor pelo que a pessoa é, e não pelo que ela tem para oferecer.
ResponderExcluirJade Tavares- 801