É importante que o pessoal não esqueça um dos nossos intelectuais mais importantes
Rio - Li na ‘Piauí’ um ótimo artigo de Elvia Bezerra sobre Paulo Mendes
Campos. É importante que o pessoal não esqueça um dos nossos intelectuais mais
importantes. Posso me gabar de ter o meu primeiro (e possivelmente o último)
livro de cartuns, ‘Átila , Você é Bárbaro’, prefaciado por ele. Não transcrevo,
não por modéstia, mas porque perdi meu último exemplar.
A gente nunca foi de conversar muito, PMC era, digamos, da turma do andar de
cima (dez anos mais velha do que a minha): em companhia de Fernando Sabino,
Hélio Pellegrino , Otto Lara Rezende, os chamados “quatro cavaleiros de um
íntimo apocalipse”, frase, é claro, do Otto. Eles frequentavam o Vogue e o
Sacha’s, eu não, ia quase todas as noites encher a cara na boate do Hotel Plaza,
onde Boocker Pitmann tocava sax, acompanhado pelo Vadico (que foi parceiro de
Noel Rosa!) no piano. De vez em quando Johnny Alf e João Donato davam as caras.
Eu me lembro muito vagamente (1) de um guri cabeludo que ficava horas
esperando para dar uma canja: Roberto Carlos (2). Estou falando da boemia
noturna; quando eu trabalhava no Banco do Brasil com Sergio Porto, o Stanislaw
Ponte Preta, amigo de Paulo, eu o via no Lidador ou no Pardellas nos fins de
tarde. Elvia seleciona algumas frases que, se li, esqueci. Escolhi algumas de
que adoraria ser autor: “Aviso aos jovens abstêmios: A velhice é uma ressaca
diária. E sem cura.” ( Eu que o diga). “Sabedoria... seria anoitecer como um
bêbado e amanhecer como um abstêmio.” “Tão desagradável quanto tomar um bonde
errado é tomar um bar errado.”
E a explicação de que, como jornalista, batalhava nas Underwoods e Remingtons
(algum leitor lembra das máquinas de escrever?) pelo dinheirinho de cada dia,
mas se dava ao luxo de tomar scotch: já que a grana era pouca, o jeito era
gastá-la no essencial, o apartamento próprio que esperasse. E a sua lista de
bêbados famosos mostra que sem eles, os bêbados, a humanidade seria muito mais
pobre e mais chata. Aviso ao leitor: não confundir alcoólatra com bêbado.
O alcoólatra não consegue parar de beber. Já o bêbado consegue, é verdade que
muito a contragosto. Autorizo qualquer um a citar, sem risco de processo,a frase
que inventei, depois que meu médico e minha mulher me mandaram cortar o álcool:
“Beber é melhor que viver.”
1)Espero que não me processem por citar verso do samba-canção, cujo autor no
momento esqueci. Atualmente citar um autor, mesmo elogiando, pode dar processo.
Conheço alguns casos em que herdeiro virou profissão.
2) O que conto se passou há muito tempo, basta dizer que o Roberto Carlos
está comemorando 50 anos de carreira (segundo Ruy Castro, 58. Acredito no rei ou
no plebeu?).
Nenhum comentário:
Postar um comentário