domingo, 12 de janeiro de 2014

Crônica do Dia - De Poe a Paulo Mendes Campos - Jaguar

 

É importante que o pessoal não esqueça um dos nossos intelectuais mais importantes

O Dia
Rio - Li na ‘Piauí’ um ótimo artigo de Elvia Bezerra sobre Paulo Mendes Campos. É importante que o pessoal não esqueça um dos nossos intelectuais mais importantes. Posso me gabar de ter o meu primeiro (e possivelmente o último) livro de cartuns, ‘Átila , Você é Bárbaro’, prefaciado por ele. Não transcrevo, não por modéstia, mas porque perdi meu último exemplar.
A gente nunca foi de conversar muito, PMC era, digamos, da turma do andar de cima (dez anos mais velha do que a minha): em companhia de Fernando Sabino, Hélio Pellegrino , Otto Lara Rezende, os chamados “quatro cavaleiros de um íntimo apocalipse”, frase, é claro, do Otto. Eles frequentavam o Vogue e o Sacha’s, eu não, ia quase todas as noites encher a cara na boate do Hotel Plaza, onde Boocker Pitmann tocava sax, acompanhado pelo Vadico (que foi parceiro de Noel Rosa!) no piano. De vez em quando Johnny Alf e João Donato davam as caras.
Eu me lembro muito vagamente (1) de um guri cabeludo que ficava horas esperando para dar uma canja: Roberto Carlos (2). Estou falando da boemia noturna; quando eu trabalhava no Banco do Brasil com Sergio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, amigo de Paulo, eu o via no Lidador ou no Pardellas nos fins de tarde. Elvia seleciona algumas frases que, se li, esqueci. Escolhi algumas de que adoraria ser autor: “Aviso aos jovens abstêmios: A velhice é uma ressaca diária. E sem cura.” ( Eu que o diga). “Sabedoria... seria anoitecer como um bêbado e amanhecer como um abstêmio.” “Tão desagradável quanto tomar um bonde errado é tomar um bar errado.”
E a explicação de que, como jornalista, batalhava nas Underwoods e Remingtons (algum leitor lembra das máquinas de escrever?) pelo dinheirinho de cada dia, mas se dava ao luxo de tomar scotch: já que a grana era pouca, o jeito era gastá-la no essencial, o apartamento próprio que esperasse. E a sua lista de bêbados famosos mostra que sem eles, os bêbados, a humanidade seria muito mais pobre e mais chata. Aviso ao leitor: não confundir alcoólatra com bêbado.
O alcoólatra não consegue parar de beber. Já o bêbado consegue, é verdade que muito a contragosto. Autorizo qualquer um a citar, sem risco de processo,a frase que inventei, depois que meu médico e minha mulher me mandaram cortar o álcool: “Beber é melhor que viver.” 
 
 
1)Espero que não me processem por citar verso do samba-canção, cujo autor no momento esqueci. Atualmente citar um autor, mesmo elogiando, pode dar processo. Conheço alguns casos em que herdeiro virou profissão. 
2) O que conto se passou há muito tempo, basta dizer que o Roberto Carlos está comemorando 50 anos de carreira (segundo Ruy Castro, 58. Acredito no rei ou no plebeu?).

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